quarta-feira, 27 de agosto de 2008

Nocaute

Chamar o Hugo. Botar os bofes pra fora. Estripar o mico. Quantas expressões diferentes há para “vomitar”? Argh.

Passei a noite toda (de segunda para terça) exercitando todas elas. Tentando achar graça da minha própria condição, mas não conseguindo. Um horror de mal-estar, impossível dormir. Calor, frio, suor, calafrios... Credo.

Fiquei me perguntando o que eu teria feito de errado. O que foi que eu comi? Ou será que fiquei tempo demais sem comer? Mania de se culpar por tudo...

Lembrei das inúmeras ocasiões em que socorri amigos, conhecidos ou completos estranhos depois de um porre. Banheiros de bar, salões de festas, calçadas... Enjoada ao extremo, pensava – “Imagine como eu me sentiria se tivesse chegado a esse estado voluntariamente... Acho que ia bater a cabeça na parede”. Nunca tomei um porre, nunca tomarei. Mas sei como é o que vem depois.

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De manhã, cheguei à conclusão de que precisava procurar atendimento médico. Em vez de melhorar, piorei. Me arrastei até o computador para procurar o endereço de uma AMA. Esquece – não tem nenhuma em Pinheiros ou na Lapa. Eu é que não ia sobrecarregar o pronto-socorro do HC com uma dor de barriga (e nos ombros, nas costas, na nuca... Doía tudo!). Procurei o Samaritano, que não fica longe de casa.

Não demorou muito para que eu fosse atendida. O movimento era fraco àquela hora (umas oito e pouco da manhã). O médico fez duas ou três perguntas, apertou aqui e ali, auscultou e informou: “gastroenterocolite”.

Que bom. É um alívio estranho saber o nome do que você tem. Eu estava preparada para ouvir “virose”... (Que não deixa de ser um nome). Quis saber mais: “O que causa? Um vírus, bactéria?”. “O mais provável é que seja algum tipo de toxina”.

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Enquanto recebia medicação na veia, finalmente dormi. Um sono delicioso, na poltrona confortável do pronto-socorro. Saí de lá grogue e continuei dormindo o dia todo.

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Não sei se o médico me reconheceu de cara e não passou recibo, ou se não sabia quem eu era e alguém avisou depois. Sei que antes de eu ir embora ele comentou: “É muita maionese de campanha, né?”

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Tá cheio de gente que não sabe quem eu sou. Hoje cedo fui visitar e redação da Gazeta Penhense (a convite deles), e a recepcionista me estranhou: “Vai falar com quem?”. “Marcio ou Aloisio”. “E como é o seu nome?”. “O dela é Lylian e o meu é Sonia”. Não acendeu nenhuma luzinha, não. Ficou na mesma.

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A Lylian (amiga, assessora e, eventualmente, cozinheira e enfermeira) me levou de carro porque eu não estava firme o suficiente para andar de moto. Ainda estou em marcha lenta, meio dolorida, meio lesada. Mas como é ruim andar de carro nessa cidade, meu deus. Eu não agüento.

segunda-feira, 25 de agosto de 2008

TV & Internet

Vi na CNN que os Democratas (estadunidenses!) vão credenciar centenas de blogueiros para a cobertura da Convenção Nacional do Partido. Eles comentarão ao vivo os acontecimentos.

Esta é uma notícia do ano passado que já tratava disso. Os democratas, como era de se imaginar, são pioneiros nesse reconhecimento do papel dos blogs na cobertura política, e já haviam credenciado blogueiros antes.

Há critérios a cumprir para pleitear uma credencial, como “estar no ar há pelo menos seis meses e ter escrito no mínimo 120 posts”. Os blogueiros que estiveram em uma outra convenção relataram algumas dificuldades – por exemplo, com a interferência dos rádios dos muitos seguranças na transmissão de sinal por wi-fi.

O site democrata tem a relação de todos os blogs credenciados desta vez – veja aqui . Tem, por exemplo, o African American Political Pundit, o culturekitchen, o Crooks and Liars... De fato, a promessa de uma cobertura muito diversificada!

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Muito legal. Eu queria fazer a mesma coisa aqui, durante os debates na TV... Montar uma bancada de blogueiros para comentar – e, se for o caso, contestar – algumas coisas que são ditas pelos candidatos.

No debate da Bandeirantes, dava muita aflição ficar ouvindo afirmações mentirosas, exageradas, distorcidas e não poder falar nada. O único direito de resposta possível de ser concedido é a quem se sinta pessoalmente agredido. Papo furado não dá direito de resposta.

No horário eleitoral, também não. Incrível, vale tudo! Parece que números existem para ser distorcidos. E a gente não tem como entrar com ação por propaganda enganosa (ou tem?).

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Já não lembro se foi ontem no Fantástico ou hoje no Bom Dia Brasil, mas vi uma matéria excelente do Pedro Bial sobre o que não ficou de legal na China durante e depois das Olimpíadas. Manifestações reprimidas, imprensa edulcorada, gastos públicos exorbitantes, famílias removidas sem indenização, prisões mal explicadas... Sóbria, sem exageros dramáticos mas sem “passar um pano” (ou dar um desconto). Tipo de abordagem que a Globo às vezes deixa de fazer para não “estragar” a beleza da festa.

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Lá (na China) tem censura, e aqui... Tem regras tão apavorantes para quem cobrir a eleição, em nome da “isonomia”, que os jornalistas estão preferindo deixar de cobrir algumas pautas para não correrem o risco de serem processados. É uma paranóia com a igualdade absoluta de minutos e segundos que não tem cabimento.

domingo, 24 de agosto de 2008

Ser candidato é feio

Ontem , fui convidada para um evento do Fórum de Saúde da Zona Sul que discutiria as OSs (Organizações Sociais). Ótimo – tai um assunto que tem muito a ser discutido.

Não sabia bem se o convite era para a vereadora ou a candidata – podia ser que quisessem ouvir minhas propostas sobre esse tema. De todo jeito, como as duas são uma pessoa só, lá fui eu. Também não sabia se haveria uma mesa, se eu seria convidada a falar e responder perguntas, se haveria outros vereadores ou outros candidatos à prefeitura presentes. O fato é que o debate me interessava e pronto.

O presidente municipal do PPS também foi e chegou antes de mim. Por telefone, avisou: “Quem convidou a Soninha? Porque eu cheguei aqui, me apresentei, e me olharam de um jeito tão desconfiado... Só faltou me proibirem de entrar. A recepção foi muito hostil”.

Quem tinha convidado era um dos organizadores do evento; ainda pediu para confirmar presença, o que eu fiz. E o evento, em princípio, era aberto à participação de qualquer um. Com ou sem hostilidades, resolvi ir.

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O encontro aconteceria em um salão de uma paróquia. Enquanto procurava a entrada, já no pátio de estacionamento da igreja, um grupo de cinco ou seis jovens reparou em mim e um deles disse: “Nossa, como você parece com a Soninha!” Dei risada: “Eu pareço comigo?”. Eles se empolgaram: “Soninha! Que legal! Eu gosto de você! Eu vou votar em você! Minha mãe vai votar em você!”

Contei para eles que era muito comum as pessoas não me reconhecerem – mesmo as que já me viram muitas vezes na televisão. De manhã, entreguei um folheto em uma lanchonete em frente ao Palmeiras e o rapaz perguntou, apontando para minha foto: “É sua prima?”. Ele não estava brincando; realmente achou que aquelas duas moças – a arrumada da foto e a desengonçada à sua frente-- eram parecidas...

Eles deram risada, e eu perguntei: “Posso pegar um folheto meu para deixar com vocês? Aí vocês levam e lêem com calma”. “Claro, queremos!”

Corri até o carro e peguei uma pilha de adesivos e folhetos no porta-malas. Quando voltei para perto deles, comecei a entregar um folheto para cada um, explicando que atrás tem o site, um email, telefone...

Imediatamente tomei uma bronca: “A senhora não pode fazer isso aqui!”, disse um senhor muito bravo. “Olha, eu não vim fazer campanha, estou entregando esse folheto para eles porque eles quiseram. Não estou panfletando”. “Não importa. Pare com isso. Não pode. Aqui, não pode”. Não foi gentil, educado, não estava me avisando que a igreja não queria nenhuma atividade de campanha ali dentro. Foi rude, como se eu tivesse desobedecendo alguma regra óbvia. “Nossa, parece até que eu estou cometendo algum crime. Não é crime ser candidato. Não é crime entregar um folheto para uma pessoa que quer receber”. “Mas aqui mando eu e estou dizendo: na minha igreja NÃO PODE”. E saiu.

Outro continuou ali, vigiando. “Olha, tanto eu não vim fazer campanha que não tinha nem tirado o material do carro. Só peguei porque eles se interessaram”. “Nós vimos”, disse, com ar detetivesco, como se tivesse me flagrado contrabandeando armas. “Nós estávamos acompanhando o seu movimento”.

Virei para os rapazes, que estavam acompanhando a discussão: “Bom, vocês querem ir comigo até o portão, porque lá fora eu posso entregar estes folhetos para vocês?”. Era irritantemente absurdo, mas tudo bem, eu andaria 20 metros para passar um folheto da minha mão para a deles. Eles sorriram – “Não, deixa, não se preocupe, depois a gente pega”.

O homem da paróquia tentou brincar com os jovens, para descontrair: “Ah, então foram vocês que pediram, seus baitôla ”. Eu não me conformava: “Olha, desse jeito, parece que é feio ser político, é crime ser candidato, é errado fazer campanha. Não é à toa que a política está desse jeito...”. “Não pode. E se todo candidato quiser vir aqui entregar folheto?”. “Deixa que venha, ué. O certo é que todos possam fazer sua campanha igualmente!”. “Não. Não pode”.

“Olha, eu nem vi aqui fazer campanha”. “Então veio fazer o quê?”.” Vim para a reunião da Saúde”. “E você é de onde?”.

Me senti em um morro dominado por uma quadrilha, tendo de dar satisfações para o chefe do pedaço. “Por que, que diferença faz de onde eu sou?”. “Quero saber, fala, é de onde? De onde você vem?”. “Eu nasci na Zona Norte e hoje moro na Zona Oeste. E daí?”. “Você não é daqui, nunca veio aqui antes. Por que veio hoje?”. “Porque me convidaram!”.

“Você não é daqui, não tem nada que fazer aqui”. “Por que, já implantaram o voto distrital e eu não estou sabendo?”. “Se você não é daqui, não tem que aparecer agora, em época de eleição”. “Ah, não posso vir aqui se eu for candidata? Só posso ir a lugar a que já fui? Eu sou candidata a PREFEITA, da CIDADE TODA, que história é essa de onde eu posso e não posso ir?” Fui ficando cada vez mais irritada, mais louca da vida. Ele também subiu a voz: “Não precisa gritar, eu não estou te tratando mal”. “CLARO QUE ESTÁ! VOCÊ JÁ CHEGOU ENCRENCANDO, FALANDO GROSSO. NÃO VEM COM ESSA DE QUE EU QUE COMECEI”.

Fui embora para a bendita reunião do Fórum. Eu me despedi dos jovens (que não encontrei mais): “Não era para ser assim; parece que a gente estava fazendo alguma coisa feia... Desculpem".

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O fim-de-semana teve a reunião com candidato a vereador, essa ida ao Fórum, festa do folclore no Amorim Lima (linda!), Encontro de Compositores no Centro Cultural Monte Azul (fantástico), corrida contra o câncer de mama no Ibirapuera (fui só para assistir), encontro com lideranças religiosas no Parque Novo Mundo (no Núcleo Cristão, que faz um trabalho excelente com crianças e jovens da região), encontro com moradores de um conjunto habitacional no Valo Velho (muito simpáticos), estréia de Noé Noé no Tuca (incrível). Mas não vou conseguir contar mais nada agora, então tchau, até amanhã. Já tenho quase quarenta e um e estou morrendo de sono :o).

sexta-feira, 22 de agosto de 2008

Corrida de Obstáculos? Rali? Enduro?

Acaba de acontecer (+ ou – 8:00) mais uma colisão na esquina da minha casa (Apinajés com Bartira). É, no mínimo, a décima desde que vim morar aqui, há três anos. A última que eu tinha presenciado foi em uma madrugada, duas ou três semanas atrás. Ninguém se machucou na colisão, ainda bem, mas um dos motoristas ficou tão nervoso que partiu para cima do outro. A namorada gritava desesperada, o segurança do condomínio tentava apartar... Um tristíssimo espetáculo.

A Apinajés é uma rua bem movimentada, com trânsito nos dois sentidos. Um pouco antes de cruzar a Bartira, ela tem um pequeno aclive seguido de um declive. Ou seja: a visibilidade é muito ruim. Os carros aparecem de repente. E como o estacionamento é permitido de todos os lados, o jeito, para quem vem da Bartira, é meter o bico do automóvel até quase o meio da rua para tentar enxergar. É um sufoco. O motorista de um táxi que faz ponto na rua de cima diz que uma passageira dele se recusa a pegar táxi naquela esquina de tanta raiva que tem daquele cruzamento.

Os moradores do prédio em frente já fizeram abaixo-assinado. Eu já mandei email, ofício, indicação... Nada. Já mandei fotos das várias colisões. Depois de muita insistência, consegui uma resposta do Secretário Municipal de Transportes, a quem a CET responde: “Seu pedido foi aceito. A instalação de semáforo depende apenas da disponibilidade de recursos”.

É o fim da picada. Se fosse em outro lugar, o pessoal já teria queimado pneu no meio da rua. Aí viriam a Globo, a Record, o Datena, e logo sairia o tal do semáforo.

“Disponibilidade de recursos”. Até parece que é assim que funciona... Vereadores com influência sobre a CET conseguem qualquer coisa, em qualquer prazo. “Fechar aquela rua de hoje para amanhã, para um evento de última hora? Sim, claro. Isentar uma firma “amiga” da cobrança por um serviço? Pois não. Colocar floreiras para transformar uma rua comum em rua sem saída? É pra já”. Danem-se os técnicos, os engenheiros.

O pior é que a um quarteirão de distância foi instalado um semáforo absolutamente inútil. São duas ruas de mão única (Bartira e Apiacás), com bem menos movimento, valetas no cruzamento (que já diminuem a velocidade, obrigatoriamente) e uma subida medonha, que só pode ser vencida em primeira marcha e bem devagarinho. Ou seja, as condições do lugar impõem uma travessia lenta, cuidadosa. Mas lá tem o diabo do semáforo.

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Anos atrás, quando o Pitta ainda era o prefeito, eu pedi a instalação de um semáforo de pedestre na esquina da Cardoso de Almeida com a Dr. Arnaldo. Um lugar próximo à estação do metrô e dois pontos de ônibus – ou seja, com muita gente circulando. O acesso da Dr. Arnaldo à Cardoso – uma baita de uma descida naquele trecho – é livre o tempo todo. Quando o semáforo fecha na Dr. Arnaldo, os carros, ônibus, motos e caminhões podem virar à direita do mesmo jeito, sem parar – e, freqüentemente, em alta velocidade. E a visibilidade também é ruim.

Ou seja: os pedestres passam um desespero ali. Dependendo do sentido em que vão, tem de se contorcer para enxergar quem vem por trás. Um absurdo completo.

Pois bem: quando fiz o meu pedido, ele foi analisado e, semanas depois, aprovado pelos técnicos da companhia. “Anote o número do seu protocolo”. Terminou o governo Pitta, e nada. No governo da Marta não tive melhor sorte. Nem no do Serra. O Kassab tá quase indo embora e... nada. Isso porque, já vereadora, eu reforcei o pedido. E o pior: pelo site da prefeitura, obtive a informação de que a solicitação foi atendida!

Acho que da próxima vez que me perguntarem “qual a primeira coisa que você vai fazer como prefeita”, vou dizer: “Mandar instalar o bendito semáforo na esquina da Dr. Arnaldo!”.

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E a programação de tempo dos semáforos da cidade? Eu fico possessa quando passo um tempão parada no sinal vermelho esperando passar... ninguém. Eu e a torcida do Flamengo. O sinal abre, passam cinco ou seis carros, ele fecha de novo. Fica lá a turma esperando à toa outra vez. Gastando tempo e combustível.

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E as placas de itinerário? Santo deus... Além das que faltam, tem as que sobram. É, sobram. Na Cidade Jardim sentido centro, uma placa manda virar à direita antes da Faria Lima para ir em direção à Augusta. Certamente, ela está ali desde que as obras do túnel estavam em andamento, tornando o desvio obrigatório. Agora, para ir à Augusta, é só ir reto!

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Na Marginal Pinheiros sentido Castelo Branco, há uma série de placas novas, bem visíveis, informando a quem está na pista expressa: “Ponte Eng. Roberto Zuccolo – PRÓXIMA SAÍDA À DIREITA”. Quem perder aquela saída está ferrado, tem de ir até a ponte Eusébio Matoso e voltar. Só que a ponte é muito mais conhecida como “Cidade Jardim” – e só na última hora, já em cima do acesso à direita, tem uma placa velha, escurecida, pouco visível, com o nome mais conhecido.

Já a Marginal Tietê sentido Dutra tem uma placa nova avisando: “Próximas pontes: tal, tal e VILA MARIA”. Ótimo, assim você já se prepara com antecedência para acessá-las. Só que eu tinha procurado no mapa o melhor caminho para a Curuçá, e vi que era pela Ponte Jânio Quadros. Que, felizmente eu sei, era um personagem muito ligado à Vila Maria – portanto, foi essa ponte que ele batizou. E se eu não soubesse?

(continua abaixo)

Corrida de Obstáculos (e salto em distância!)

Certa vez, a Comissão de Administração Pública convidou representantes da Emurb para falar sobre as novas placas com nomes de rua (aquelas que destacam o “apelido” da rua, informam a distância daquele ponto até o Marco Zero, etc. Bacanas). Conversando informalmente no fim da reunião, os técnicos da empresa comentaram o quanto eles ficam desesperados com a falta de ordem e critério na instalação de placas pela cidade – um deles mostrou um acervo de fotos de absurdos tiradas com o seu celular. Esquinas com faixas de pedestre transformadas em paliteiro, com postes de todos os tipos – sinal de contramão, estacionamento proibido, conversão proibida, iluminação pública, semáforo, velocidade máxima... Tudo desordenado, com cada uma em um suporte, prejudicando absurdamente a circulação.

Eles comentaram que Londres desenvolveu e está implementando um Plano Diretor de Sinalização, com vistas à Olimpíada de 2012. Achei o máximo. Quero adotar a idéia.

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Isso acabou me dando uma luz em relação às calçadas. Outro dia, alguém me perguntou: “O que você gostaria muito de fazer, mas dificilmente conseguiria concluir em quatro anos de mandato?”. Respondi “arrumar todas as calçadas da cidade”. É dificílimo (mais ainda quando ninguém nem se preocupa com isso, como costuma acontecer). Existem lugares em que elas precisariam ser muito mais largas – quando isso for possível proibindo o estacionamento de automóveis, ótimo, mas às vezes nem assim se resolve. E os aclives acentuados, os degraus absurdos?

Calçada é responsabilidade do proprietário dos lotes. Já existe legislação estabelecendo como deve ser o passeio público – medidas, materiais. É só a prefeitura obrigar os proprietários a cumprir a lei? Hmm... Antes fosse.

Além da questão da largura das ruas e dos aclives, tem outros problemas. As calçadas têm orelhões, lixeiras, caixas de correio, bocas-de-lobo, acesso à rede de telefonia e gás, árvores, floreiras, postes de luz, pontos de ônibus, as placas de trânsito... Como é que o proprietário sozinho vai resolver isso tudo?

Pensei, então, em criar um “Grupo Executivo de Calçadas”. Sediado na Emurb, com representantes de CET, Secretaria de Serviços, de Transportes, das Subprefeituras, empresas e órgãos estaduais. Que elaborasse e ficasse responsável por um Plano Diretor de Calçadas, estabelecendo um rol de ações conjuntas, garantindo recursos e se comprometendo com metas por regiões (x quilômetros em um determinado perímetro da Brasilândia, x quarteirões no Parque Novo Mundo...).

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Ontem, no caminho para a Globo, passei por uma calçada LOTADA de gente em um ponto de ônibus na Berrini. Uma coisa de louco. Não sei se esperavam o transporte público ou fretamentos. Só sei que havia, ali, umas duzentas pessoas.

Um pouco adiante, no mesmo quarteirão, um estacionamento particular. Ou seja, um espaço de espera para automóveis vazios.

Me deu uma vontade imensa de desapropriá-lo e transformar em mini-terminal. Um lugar coberto, com bancos, banca de jornal, lanchonete, banheiros, monitores de TV, floreiras... Totens eletrônicos com informações sobre a cidade, telefones públicos, internet. Onde as pessoas pudessem marcar encontro, esperar o ônibus confortavelmente. Ele continuaria parando no ponto na rua, mas a calçada ficaria desimpedida.

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Que delícia escrever quilômetros do que tenho pensado... Uma assessora do gabinete disse que leu um post em que parecia que eu estava falando do namorado, mas era o computador. “Estava morrendo de saudade, há muito tempo não tinha tempo para ele...”. Pois é, hoje vou ter o prazer de namorar um pouco meu notebook; não tenho nenhum compromisso na rua de manhã. Não vai dar nem para o cheiro – fechar o texto do programa de governo, responder mil entrevistas, entregar (atrasaDÍssima) a coluna da Vida Simples (meu ex-marido chamava esse meu trabalho de “uma farsa” – “Vida Simples, você?”), atualizar sites e blog, revisar o boletim semanal do mandato, avaliar projetos de lei dos quais sou relatora, escrever sobre o plenário (como prometi), sobre a avaliação do Voto Consciente...

Tem gente que nunca está contente. Consegui três horas para trabalhar sozinha, no horário em que meu rendimento é melhor (de manhã), e já estou reclamando que quero mais.

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A MAURREN É OURO!!!!!!!!!!!!!!

Batendo pino

Ontem dormi no sofá, no meio do jogo do Palmeiras (e foi melhor assim). Acordei no meio da madrugada (3 e pouco) com barulho de passarinho (tem um doido que canta a noite toda), achando que era o alarme da moto. Juro que ouvi “este veículo está sendo roubado” entre um chilreio e outro.

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Anteontem, desci – apressada, atrasada como quase sempre – para a garagem sem pegar o capacete da moto. Moro no 13º andar; o elevador é tão lerdo que quando alguém anda nele pela primeira vez pensa que está parado. Chegar à garagem e descobrir que precisa subir tudo de novo é de lascar.

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Hoje fui à Globo participar do SPTV e passei direto pela emissora. Segui dois quarteirões a mais na Berrini, crente que ficava logo adiante. Por sorte (?), o trânsito estava horroroso (é horroroso ali) e, enquanto esperava o sinal abrir, perguntei para uma pessoa na calçada “cadê a Globo?”. Tive de dar a volta no quarteirão – que não é pequeno. Na marginal, passei de novo do ponto certo, peguei o começo da Roberto Marinho e outro pedaço de Berrini parada.

Se eu estivesse de carro, teria fervido e fundido o (meu) motor. Se estivesse de bicicleta, faria meia-volta com a maior facilidade.

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De manhã, saí de uma sabatina promovida por alunos da Faculdade de Direito do Largo São Francisco – fiz o maior sucesso; devia ter umas vinte pessoas no enorme Salão Nobre... – e passei pelo bandejão da faculdade. Lotado de gente (80% homens) assistindo à final do futebol feminino na Olimpíada, torcendo fervorosa, sincera e apaixonadamente. Muito legal – exceto pelo resultado.

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Ontem à noite estive no Dom Macário, uma entidade exemplar na Vila Maria, fundada décadas atrás por um monge beneditino. Ela tem núcleos sócio-educativos (que oferecem atividades diversas para centenas de crianças no contra-turno da escola) e cursos profissionalizantes para outras centenas de adolescentes e jovens até 24 anos. Um lugar bonito, bem cuidado, atraente, que só não atende mais gente por falta de recursos – interesse, há de sobra. O curso de panificação, por exemplo, é um sucesso absoluto. E muita gente adoraria que houvesse o de cabelereiro.

A maior parte da grana vem de convênio com a prefeitura, mas ele não cobre todas as despesas. Doações de empresários da região? Tem não.

Por determinação legal, eles só oferecem qualificação profissional para jovens de até 24 anos. Mas participam do programa Ação Família, por meio do qual a Secretaria de Assistência e Desenvolvimento Social faz contato com famílias em situação sócio-econômica difícil para inseri-los em programas diversos, na educação, na saúde...

O problema, contam os diretores do Dom Macário, é que o maior desejo das famílias é a requalificação profissional dos adultos. Das pessoas com 30, 40 ou 50 anos. Mas eles não podem atendê-las, então fica uma frustração imensa das duas partes. E o que seria melhor para a reinserção social do que a qualificação para o trabalho, a possibilidade de conseguir um emprego, trabalhar como autônomo ou abrir um negócio, conquistando a autonomia e a saída do sistema de proteção social?

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É tão legal conversar com quem está lá na ponta, com a mão na massa, e ouvir falar dos problemas, das grandes sacadas, dos desafios...

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Quando eles ainda podiam atender pessoas mais velhas, uma senhora de 56 anos fez o curso de eletricista. Quando foi comprar um fio para o ferro de passar, o rapaz da loja entregou um material que ela reprovou: “A amperagem do meu ferro é tal, a voltagem é não sei quanto, esse fio não vai agüentar. Traz um mais grosso”.

Não é uma delícia saber das coisas? Aprender e poder usar?

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Já fiz tanta coisa nos últimos sete dias que nem acredito. Manifestação do Greenpeace no Parque Vila-Lobos. Panfletagem em uma feira livre no Jardim Peri. Assisti a uma exposição (excelente!) sobre a demarcação contínua das terras indígenas na Reserva Raposa Serra do Sol. Dei uma entrevista para um TCC da Metodista (pessoalmente), Rádio Bandeirantes (idem), para o G1 (por telefone), respondi não sei quantas por email (sobre TCM, Plano Diretor, o centro da cidade, juventude, mobilidade, desenvolvimento econômico... Algumas com duas perguntas, outras com doze!). Estive no plenário, onde não aconteceu quase nada (preciso contar como foi na quarta-feira; o “quase nada” é importante, significativo). Fui ao debate da Região Episcopal da Brasilândia no domingo (já contei isso?), da Trópis, na Monte Azul (idem), do Nossa São Paulo na Penha (na segunda à noite). À redação do Grupo 1 de Jornais.

E o que eu deixei de fazer? Ainda não fui à Bienal do Livro, perdi a abertura de uma exposição ontem à noite, desmarquei uma reunião na segunda à tarde...

Devo estar esquecendo algumas coisas, mas agora é que não vou entrar na agenda para lembrar do que fiz. Vou é desligar o computador, comer alguma coisa e dormir na frente da televisão, vendo alguma coisa de Olimpíada. É bonito isso? Não é, mas tá acabando. A próxima (eleição, Olimpíada...) é só daqui a quatro anos.

terça-feira, 19 de agosto de 2008

Vamos brincar de ibope? (1)

O Estadão ia fazer um debate entre os candidatos à prefeitura.

A Marta e o Alckmin decidiram não ir, e o jornal cancelou.

A Gazeta ia fazer um debate entre os candidatos.

A Marta e o Alckmin não vão, e eles cancelaram também.

Quero só ver se vai ter o debate da Record.

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Os *&¨% dos assessores aconselham os candidatos que estão na frente nas pesquisas de intenção de voto a não ir aos debates – porque eles não teriam nada a ganhar e tudo a perder.

Acho o fim da picada.

Primeiro, achar que o debate pode ser assim tão decisivo. Teria de ser uma atuação desastrosa para perder votos potenciais, não? E eles temem ter uma atuação desastrosa, depois de tanta experiência, tanto preparo, tanto media training, tanto aconselhamento da assessoria?

Eu, hein...

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E pensar que um dos dois – no mínimo um dos dois – não vai se eleger.

Será que eles já têm um plano B?

Por que só perguntam para mim o plano B? (“O que você vai fazer se não se eleger?”)

O que será que a Marta vai fazer se não se eleger?

E o Alckmin?

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Hoje eu vi o nome do atual Ministro do Turismo. Juro que não lembro.

Engraçado, também não vi mais anúncios do ministério... Será que ele não tem mais projetos novos, que mereçam destaque?

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As pesquisas, as &¨%$ das pesquisas...

Segundo a última, do Ibope, a Marta subiu pra caramba (+7%). Quem caiu? O Alckmin (-5%)

Uai, a Marta tirou votos do Alckmin?

Faz sentido?

O que teria acontecido?

Em um mundo tão polarizado, em que muitos decidem seu voto não em função da preferência, mas da rejeição (“voto em quem tiver mais chance de derrotar que eu mais detesto”), teriam eleitores tucanos decidido se bandear para o PT?

Por que?

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No segundo turno, a posição deles teria se invertido. Antes, ele ganhava. Agora é ela.

Por que????

O que aconteceu para o Alckmin cair na intenção de voto desse jeito?

Não entendo.

***

Na simulação de segundo turno entre Alckmin e Kassab, OS DOIS perderam votos em relação à pesquisa anterior. Também não faz muito sentido... Se um perdesse e o outro ganhasse, seria mais fácil de entender.

[continua abaixo]

Vamos brincar de ibope? (2)

Entrei no site do Ibope para conseguir informações mais precisas.

Na pesquisa estimulada, em que os eleitores olham para um disco com os nomes dos candidatos, Marta foi a escolhida por 41% dos entrevistados. Alckmin, por 26%.

Do jeito que esse povo ama o Alckmin, é muito esquisito que ele tenha 2/3 dos votos da Marta.

Na espontânea, em que apenas perguntam para o entrevistado “em quem você vai votar?”, sem mostrar nome nenhum, 33% disseram que não sabem ou não quiseram opinar.

33%!

Nessa mesma pesquisa, sabe quantos responderam “na Marta”? 29% (aumentou 5). O Alckmin, 14% (diminuiu 3).

Ou seja, precisa somar os dois para ganhar dos indecisos!!!!

Brancos e nulos somam 11% - o mesmo que Kassab + Maluf (6 + 5).

Indecisos + “não quero falar” + brancos e nulos = 44%. Mais do que Marta e Alckmin juntos.

Mas os analistas ficam discutindo até a possibilidade de a eleição ser decidida ainda no primeiro turno.

Mein gott!

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Expectativa de vitória

O IBOPE Inteligência perguntou aos eleitores quem será o próximo prefeito, independentemente de sua intenção de voto. A percepção para 45% dos entrevistados é a de que Marta será eleita. Já Geraldo Alckmin é citado por 32% e Gilberto Kassab por 6% dos eleitores.

O nome disso é “profecia auto-realizável”.

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Eu continuo com meus 2 ou 1%.

São Paulo é enorme, tem um mundo de gente que nem me conhece, outro tanto que conhece mais ou menos mas não sabe que sou candidata, outros sabem que sou mas mal sabem quem sou, outros sabem e me detestam e não votariam em mim nem para derrotar o Coringa do Batman. Ok. Descontando isso tudo, eu não represento a preferência de uma ou duas pessoas em cada cem. Tenho certeza absoluta de que é mais do que isso.

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Mas... As pessoas que preferem a mim perguntam (perguntam mesmo) “que adianta votar nela, ela não vai ganhar...”

Outros comentários ouvidos por aí: “Eu não vou votar nela [eu], mas quero que ela ganhe pr’aqueles todos lá ficarem com a cara no chão”; “Eu só não vou votar nela porque ela não vai ganhar”, “Eu votaria em você, mas sou amigo do Geraldo, lá de Pinda...”. (É, a gente ouve de tudo!)

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Ouve-se também “eu voto em você porque é bonita”, “eu voto em você porque é simpática”... Mas também “eu decidi votar em você depois do debate”. E “você é mais inteligente do que eu pensava”. (Eu perguntei – ele não pensava que eu fosse “inteligente”).

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Ainda sobre o debate: “Você precisa ser menos jornalista” (nem sei como é isso; o que é “ser jornalista” para “ser menos”); “precisa ser menos boazinha”; “você ficou com medo de ir para cima deles?”; “você precisa apresentar suas propostas na área de saúde”...

EXPERIMENTEM FALAR QUALQUER COISA APROVEITÁVEL EM 90 SEGUNDOS!!!

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Além dos muitos comentários sobre a minha franja (que também me incomodou sobremaneira), ouvi algumas broncas por não ter dito “boa noite”.

É verdade, foi mal. É que quando estou assistindo um debate, eu não faço a menor questão, fico impaciente para que o debatedor responda logo a questão. Então não falei, mas muita gente sentiu falta, se sentiu desrespeitada.

O pior é que ontem eu fui à Rádio Bandeirantes e também fui logo respondendo à primeira pergunta, sem dizer “bom dia”. Ma che estúpida.

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“A gente entende o que você fala!”; “você é a mais lúcida”; “você me inspira confiança”; “você conhece muito bem a cidade”; “que legal que você fala as coisas como elas são mesmo”... Esses comentários eu adorei.

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Voltando à &¨%$ da pesquisa: foram entrevistados 805 eleitores. OITOCENTOS E CINCO. 11 ônibus cheios.

Quero fazer uma experiência – sem nenhum, nenhum valor científico.

Convido todos os interessados/ curiosos a perguntar, para tantas pessoas quanto puderem (quantas puderem?), “em quem você vai votar para prefeito ou prefeita de São Paulo?”

Os entrevistados têm de ser, ao menos, maiores de 18 anos. De preferência, eleitores na capital – mas se for difícil fazer duas perguntas, ok, ficamos com uma só.

Cada entrevistador pode fazer sua listinha simples com as respostas – registrando também as opções “não sei”, “em ninguém”, “não quis responder”, claro.

Não vale perguntar para dois irmãos, pai e mãe e computar quatro votos. Tem de ser uma amostragem variada – o gerente do banco, o segurança, o garçom, o cobrador do ônibus, a advogada da firma, a diretora da escola, o pipoqueiro... Homens e mulheres, zona Norte e zona Sul, jovens e idosos...

Aí todo mundo pode postar comentários aqui: “3 votos para a Marta, 3 para o Alckmin, 2 para o Kassab, um para o Maluf, um para a Soninha, um para o Ivan, dois nulos”. Não vale mentir – caramba, qual seria a graça?

Se 80 pessoas fizerem 10 perguntas cada uma, teremos as 800 entrevistas. Não é difícil. Podemos ter muito mais!

E aí, vamos brincar de ibope?

Pra sair do aperto

Ah, não tô batendo pino, não... Acabo de ir ao dentista no dia errado. O certo é amanhã (ainda bem que não foi ontem).

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Ele ficou sem graça, como se a culpa fosse dele. "Desculpe, o rapaz das 8:30 já está aí...". "Imagine, fui eu que errei! Vou fazer o que estaria fazendo a essa hora - vou para o computador trabalhar. E eu ia pedir para ouvir o jogo do Brasil no celular, agora vou poder ver"

"Não, o jogo do Brasil é às dez". É, tô bem mesmo...

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Às dez vou estar na rua, participando de mais uma caminhada em homenagem aos sete moradores de rua assassinados há quatro anos. Depois, vou participar de um debate sobre políticas públicas para população de rua.

Incrível como se fala besteira a respeito desse tema. Uma das mais comuns, ultimamente, é reclamar que "o Cidade Limpa tirou os outdoors mas não tirou os mendigos da rua". Acho que esperavam que eles fossem recolhidos com pá de lixo e despejados em um caminhão. De preferência, daqueles com triturador.

Ou talvez esperassem a edição de uma lei assim: "A partir desta data, fica proibida a permanência de pessoas pobres, mal vestidas e mal cheirosas nas calçadas da cidade". Pronto!

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Banheiro público que é bom, nada...

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Conversando sobre isso (banheiros) outro dia, uma colega (Helena Werneck, Coordenadora de Mulheres do PPS) chamou a atenção para uma distinção básica - entre homens e mulheres.

Antes que alguém diga "Dã", reflitam sobre o seguinte: homem, "educado" desde pequeno para ser assim, faz xixi em qualquer lugar. Não é só "mendigo", não. Quando eu morava na Vila Madalena, a esquina do meu prédio (Mourato X Wizard) virava um mijódromo durante a noite - jovens universitários transformavam a parede da casa da esquina em mictório público, na maior cara-dura.

Minha mãe ficava louca da vida quando alguém sugeria que ela pusesse meu irmão (dois anos mais novo que eu) para fazer xixi em qualquer lugar ("homem é tão fácil!"). "Meu filho não é cachorro. As meninas vão segurar até aparecer um banheiro e ele também".

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O fato é que temos duas necessidades bem diferentes - uma, de mictórios públicos para homens, em grande quantidade. Outra, de banheiros para mulheres. E um ou outro banheiro "completo" para homens também.

Banheiro público tem um problema sério de manutenção, limpeza e segurança. O do metrô da Sé, por exemplo, virou ponto de michê anos atrás. (Não faço idéia como está agora).

Mictório público pode ser uma cabine semi-aberta, em que os pés, por exemplo, fiquem evidentes. Esquisito? Falta privacidade? Ué, mas eles vivem abrindo a braguilha em qualquer lugar!

Semi-abertos, naturalmente ventilados, impossíveis de servirem como ponto de emboscada para punguistas e outros mal-intencionados, fáceis de instalar, poderiam mudar rapidamente a paisagem (e principalmente o cheiro) da cidade.

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Fiquei sabendo que a Praça da Sé é lavada DEZ vezes durante um dia - e ainda assim não cheira lá muito bem.

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Nos lugares em que for possível, aí sem devem ser instalados banheiros completos - com porta (que feche), vaso sanitário, papel, pia, sabonete, prateleira para apoiar objetos, gancho para pendurar bolsas e mochilas, lixo e alguém tomando conta. Mas eles não precisam existir em quantidade tão numerosa.

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Pesquisando o tema na internet, encontrei coisas incríveis. Como o site Toilet Map, o "mapa nacional de banheiros públicos" da Austrália. Você pode localizar banheiros por região (Capital, Austrália Ocidental), na "sua área", "perto de um endereço", "em um ponto de interesse", "em uma latitude/ longitude", pelo CEP. As opções de busca incluem "horário de funcionamento", "facilidades oferecidas" e "acessibilidade". Você pode também "sugerir um banheiro". E "planejar sua viagem", identificando antecipadamente os pontos de parada durante uma jornada. E pode criar o seu mapa pessoal de banheiros, anotando os favoritos.

Não está satisfeito? Existe um pequeno questionário para quem quiser ajudar a melhorar o site. E um telefone para tirar dúvidas, se necessário.

I-na-cre-di-tá-vel. E ela (a Austrália) tem a mesma idade que nós (Brasil).

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Também existe um mapa mundial de banheiros, em Public Toilets. Se estiver apertado em Nokiaville, na Finlândia, ou Menomonee Falls, nos Estados Unidos, pode descobrir onde fazer xixi antes mesmo de sair de casa.

Não, o Brasil não está no mapa.

Na Grã-Bretanha, existe a British Toilet Association, por mais e melhores banheiros públicos. Que tem boas notícias a respeito de sua campanha política: "O Departamento de Governo Local e Comunitário publicou seu Guia Estratégico, intitulado "Aperfeiçoando o Acesso Público a Banheiros de Melhor Qualidade".

Um trecho do documento: "O governo quer encorajar as pessoas a deixar o carro em casa e usar mais o transporte público, e é mais provável que elas o façam se estiverem confiantes de poder usar banheiros limpos e acessíveis ao longo de seu deslocamento".

E, pelo que entendi, alguns banheiros público foram feitos com recursos obtidos com a construção do Estádio de Wembley, que teve de financiar algumas melhorias no entorno.

A associação comemora seus "esforços reconhecidos depois de 10 anos de luta" por "melhores banheiros para todos". "Os banheiros públicos britânicos já foram invejados no mundo todo. Nos últimos anos, um número significativo de banheiros foi fechado. Vamos parar com a deterioração".

Uma das maneiras de participar da campanha é escrever na seção "Salve nossos Banheiros - Diga o que está acontecendo aos banheiros públicos na sua região".

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A Wikipedia tem uma página sobre banheiros: Toilet. Ela tem ilustrações de vários tipos de banheiros abertos - alguns até mais abertos do que eu estava imaginando.

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Existe também a World Toilet Organization (WTO), uma organização internacional sem fins lucrativos comprometida com a melhora das condições sanitárias no mundo todo. Incrível que ainda estejamos nesse ponto... 2008 foi estabelecido pela ONU como "o ano do saneamento básico". Faltam 4 meses para acabar o ano... Será que fizemos progressos significativos?

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Tem até banheiro que funciona muito bem sem água - veja aqui: mictório ambientalmente correto

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Empresários e executivos que trabalham no centro da cidade, como Antonio Ermirio de Moraes, já reclamaram várias vezes das ruas usadas como mictório. (Aliás, quem nunca reclamou?) Tive uma idéia- que tal banheiros públicos patrocinados pela CBA, ou generosamente doados à cidade?

Eu sei, eu sei que ele tem uma participação importante na Beneficência Portuguesa. È que, sei lá, em ano olímpico eu sempre fico com a impressão que todo mundo pode dar mais um pouco de si...

domingo, 17 de agosto de 2008

Combustível na reserva

Estou morrendo de preguiça de blogar, mas se passar mais um dia sem escrever, vou me sentir muito mal. Carregarei não apenas pilhas extras de papéis com anotações como uma sensação de culpa.

A semana foi de lascar. Em parte, porque foi cansativa, mas também porque foi cheia de desgostos.

Eis alguns dos muitos compromissos, com comentários:

- Na segunda-feira, depois de um dia cheio como todos, participei da rodada de encontros de alunos do Colégio Bandeirantes com candidatos à prefeitura. Conversei com eles por mais de duas horas; foi ótimo. Era um grupo de pessoas (na maioria, adolescentes e jovens) com um interesse incrível, raro de encontrar. Sem falar nos que participaram pela internet. Saí de lá exausta, mas feliz.

- Na terça, novo encontro, dessa vez com alunos da Faap. Como na véspera, cada candidato teria direito a uma sessão “individual”, apresentando seu programa de governo e respondendo a perguntas em seguida. Algumas pessoas assistiram à minha apresentação e gostaram. Mas eu tinha feito a mesma palestra no Bandeirantes doze horas antes, e fiquei com a sensação de que a segunda não foi tão boa quanto a primeira. A gente fica se sentindo meio disco riscado depois de um tempo...

- À noite, encontro com empresários do setor de serviços na inauguração da sede da Cebrasse (Central Brasileira do Setor de Serviços). Muito bom, muito interessante. Questionamentos sobre reforma tributária, gestão da máquina pública, relacionamento com a Câmara, gestão de resíduos... Foram mais duas horas e tanto de conversa. Para chegar lá de moto, um parto: levei de 15 a 20 minutos para contornar quatro quarteirões na região da Paulista. Imagine quem estava de carro. Não sei como vocês (motoristas) agüentam.

- Na quarta de manhã (8:30), abertura da Mostra de Responsabilidade Ambiental da Fiesp no prédio da Bienal. Queria passar horas visitando todos os stands, fotografando todos os objetos feitos de material reaproveitado ou reciclado, assistindo aos debates, mas precisei dar uma passada meio rápida porque às 11:00 teria entrevista na CBN. Foi legal, embora eu tenha falado rápido demais, na minha ansiedade para fazer caber um mundo de assuntos em pouco tempo.

Na saída da rádio, conheci uma personagem que merece um post exclusivo – D. Carmem. Uma figura incrível; ainda bem que cheguei a fotografá-la (embora o ideal fosse gravar a conversa, impossível de descrever com a riqueza de detalhes que ela merecia). D. Carmem queria falar com os repórteres da rádio sobre a “lotação” (microônibus) que não pára para os idosos. Esticamos a conversa na calçada e aprendi coisas fantásticas sobre ela. Por exemplo: trabalhou para o irmão do Portinari. Pelo menos é o que diz, de um jeito bem convincente.

- Na quarta à tarde, audiência no cartório eleitoral relativa ao processo movido pelo PT contra mim, exigindo que eu abra mão do mandato (por ter mudado de partido). Além de algumas irritações que já contei em post anterior, o juiz quase levou todos nós à loucura – eu, os advogados da minha parte, os advogados do PT... Ele fazia caretas e reclamava ostensivamente de algumas perguntas (dos dois lados). “Isso é coisa que se pergunte?”; “Mas que obviedade, meu deus do céu”; “Que pergunta mais enrolada, doutor. Não dá pra simplificar, não?”; “O sr. quer mesmo perguntar isso? É hoje que a gente não sai daqui”; “Eu vou direto pro céu, depois dessa”. É, assim mesmo. Rude, inconveniente. Entre uma testemunha e outra, se queixava da vida, do trabalho, da feira livre na rua de cima, dos advogados das causas que precisou julgar na 31ª. vara... Coisa de doido.

- À noite, fomos à Favela da Caixa D´Água, em um dos extremos da zona leste de São Paulo. Como freqüentemente acontece, pessoas muito simples, muito humildes, muito cansadas, se aproximaram esperançosas, querendo saber “o que você vai fazer pela gente”. “Você vai me arrumar um trabalho? Porque eu estou precisando”, disse um senhor negro, já idoso, de olhar muito doce. Outra mulher se aproximou: “Eu também. Eu preciso trabalhar”. Vieram pedir, mesmo – não cobrar. Quase imploraram.

É de cortar o coração. Dá vontade, mesmo, de arrumar qualquer coisa para eles fazerem AGORA – pelo padrão de vida que levam, pela idade e as possibilidades que têm, entregar folhetos de campanha a R$100,00 por semana já seria uma grande coisa. Mas é isso que a gente vai fazer, é assim que vai resolver?

É duro, em época de campanha várias favelas se animam porque sabem que vai aparecer dinheiro, remédio, cesta básica, eletrodoméstico... Mas e depois?

Respondi a eles que eu não podia arrumar emprego para um e para o outro, mas que posso, como prefeita, dar incentivo para empresas se instalarem na região, gerando emprego para muitas pessoas.

A mulher sacudiu a cabeça, com um sorriso triste, faltando um dente – “E uma empresa vai querer vir funcionar aqui?” É como se fosse o Garrincha tentando entender a estratégia do técnico, “mas você já combinou com os russos?”

Aquela mulher já se acostumou a viver no fim do mundo. Não espera que o lugar deixe de ser no fim do mundo. “Empresa aqui? Tsc, tsc”.

- A semana não acabou aí, não descrevi todos os compromissos e ocupações, mas já escrevi o suficiente para não ficar tão defasada e daqui a pouco vou dormir. Amanhã de manhã tem rádio Bandeirantes, depois uma ida à redação do Grupo 1 de jornais, à noite tem evento do Nossa São Paulo na zona leste... Depois eu conto o resto.

Terminei a semana rodando com o combustível na reserva (e olha que deixei de ir a vários lugares – lançamento de CD do Pentágono no CEU Rubi, Bienal do Livro, encontro preparatório da Conferência Regional de Direitos Humanos, estréia da peça de uma amiga...). No sábado, a sujeira do fundo do tanque subiu e sujou o carburador. Não, não estou falando da moto, mas daquela peça que vai em cima do banco e embaixo do capacete. Rateei, engasguei, travei. Fui a nocaute no sábado à tarde, com uma enxaqueca que pontuou bem alto no ranking histórico. À noite, teria quatro compromissos, mas só agüentei dois.

No domingo de manhã, dei uma passada no Parque Aquarius (Zona Leste de novo). À tarde, encontro com candidatos organizado pela Cúria Regional da Brasilândia (Marta mandou Aldo representá-la; Alckmin, Kassab e Maluf não mandaram ninguém! Ivan, Reichman e Edmilson foram). À noite, o mais legal: uma conversa de horas com um grupo pequeno de pessoas na Trópis, uma ONG (na verdade, não tenho certeza se é ONG) na Vila das Belezas (Zona Sul). Foi ótimo... De novo, interesse genuíno, faiscante, inquiridor. Não dava vontade de ir embora. Café, pão de queijo, estantes de livros, almofadas no chão, crianças circulando, perguntas e mais perguntas, abraços fortes, sonhos compartilhados.

Tanque abastecido outra vez, vamo que vamo. Mas deixa eu descansar um pouco senão não agüento. (Esta semana, pela primeira vez desde que começou a campanha, eu me perguntei: “Falta muito???” Tenho estado muito cansada mas muito feliz; quando a felicidade falta, o cansaço vira um monstro horroroso. ).

quarta-feira, 13 de agosto de 2008

"Normais"

Saí agora há pouco do cartório eleitoral em que foram ouvidas algumas das testemunhas do processo que o PT move contra mim por eu ter saído do partido antes da conclusão do mandato.

Pelo PT, depuseram três vereadores – o presidente do Diretório Municipal e dois ex-líderes da bancada na Câmara Municipal.

O que eles disseram, basicamente, foi que eu sempre me entendi muito bem com todo mundo, nunca reclamei de nada, estava sempre muito feliz no partido. Depois de alguma insistência nas perguntas, admitiam divergências aqui e ali – tudo coisa “normal na política”.

Pois é, vai definir o que é “normal na política”...

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Independentemente da definição do que é divergência “normal”, fiquei furiosa quando disseram que eu nunca me indispus seriamente contra as decisões e orientações da liderança do partido na Câmara.

Em várias ocasiões, na reunião semanal da bancada, eu disse “NEM F***!”, diante de um pedido para votar assim ou assado.

Eu sabia que devia ter gravado. Aliás, várias vezes eu saí da reunião e voltei para o gabinete dizendo: “Eu devia ter gravado a reunião, porque se eu contar vocês não vão acreditar!”. Eu anotava em papel de rascunho lia alguns argumentos usados para defender nossas “estratégias em plenário” e os assessores ficavam passados... Exemplo: “O projeto do Executivo é bom, mas não vamos botar azeitona na empada dos tucanos. Temos de ter em mente o quadro eleitoral em 2006, então vamos obstruir a votação”, blá-blá-blá. Eu ficava doida: “O projeto é bom? E nós não vamos votar nele exatamente porque ele é bom?”. “Sim, porque uma coisa é a análise de mérito, e outra é a tática de plenário em função da estratégia política...”. Blá-blá-blá.

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Os tucanos, por sua vez, fazendo a mesma coisa em Brasília. Dizendo que o mais importante era “ferrar o Lula”, e dá-lhe Severino presidente da Câmara Federal.

Que beleza.


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Às vezes, a resposta das testemunhas do PT era “não me recordo”. Normal não se recordar de algumas coisas, mas tem episódios que deveriam ser inesquecíveis.

Por exemplo: a eleição dos presidentes das Comissões Permanentes. Só depois de estar na Câmara eu soube que a eleição é combinada antes entre os líderes dos partidos. Os vereadores se reúnem, dizem “eu voto em fulano para presidente da Comissão”, mas o voto não foi decidido por eles, e sim pelas lideranças das bancadas. Que fazem lá seus acordos - “O PT fica com duas comissões menores, o Centrão com duas grandes e três pequenas, o PSDB fica sem nenhuma” – e discutem ou apenas comunicam às bancadas.

Pois eu fui comunicada de que a Comissão de Administração Pública, da qual eu seria membro, deveria votar em Agnaldo Timóteo, do PP, para sua presidência.

Eu disse que não poderia ir à Comissão e dizer “eu voto nele” porque, por motivos diversos, eu simplesmente não votaria nele - não votaria nele para vereador em São Paulo, muito menos para presidente de uma Comissão. E que não via como poderia explicar aos meus eleitores: “Ele não era meu candidato, mas o partido fez um acordo com o Centrão e eu tive de votar nele”.

“Soninha, você tem de entender que política é assim, o Parlamento é assim, aqui é assim”. “Eu não sou assim! Não vou votar a favor de algo que sou contra porque os líderes das bancadas fizeram um acordo!!!”.

Como seria péssimo para o acordo (no entendimento deles) que eu votasse contra (embora os outros 6 votos “acordados” fossem mais do que suficientes para elegê-lo), o partido decidiu me colocar em outra comissão (a de Constituição e Justiça). E por causa dessa “rebeldia” acabei fazendo parte de uma das comissões mais prestigiadas da Câmara...

Só falta esquecerem que eu fui pra CCJ para evitar aborrecimentos com o Centrão – e dizerem que fui “prestigiada” pelo partido na ocasião...

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Agnaldo Timóteo defende muito o Lula. Também defende a ditadura. E acha esse negócio de "combate à exploração sexual de adolescentes" uma hipocrisia, porque as meninas de 14 anos "já têm peito, usam aqueles shortinhos... Ganham um cascalho do turista, o que é que tem?"

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Mau humor mau humor mau humor mau humor

sexta-feira, 8 de agosto de 2008

Chá de computador

Hoje não posso reclamar de saudade do computador. Passei o dia com ele.

Uma entrevista que eu daria às duas da tarde foi cancelada (pelo que entendi, a repórter ficou presa – modo de dizer – em Brasília). A caminhada na PUC, também (por causa do mau tempo). Assim, fiquei horas e horas em torno de emails, google, blog, newsletters, youtube, convites, propagandas, jornais e portais de notícias, site da prefeitura e Secretarias... E às voltas com mais mil entrevistas por escrito – sobre o setor de comércio, sobre o setor de serviços, a Zona Norte, Saúde, Ceagesp, Cultura, trânsito, bicicletas, ficha suja. Para jornais de bairro, jornais de classe, jornalões, sites, blogs e orkuts. Até pra uma TV (Cultura) eu dei entrevista por escrito.

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De novo, me pediram para responder “de maneira sucinta, em até cinco linhas” a perguntas de cinco linhas. Coisinha simples: “Como evitar a curto prazo os engarrafamentos em áreas de crescimento imobiliário acentuado, como em Santana, onde há apenas uma linha de metrô como opção aos transportes rodoviários? E o que fazer para evitar o trânsito intenso em bairros como Vila Medeiros, Santana e Vila Guilherme onde há um terminal de cargas (o terminal Fernão Dias) e o fluxo de caminhões é alto?”. Dá pra ser sucinto??? Com um detalhe: “queremos saber de onde virá o dinheiro para cada proposta e o prazo estimado para entrega de obras”. Acho q o prblma é a geração MSN. Vou comçar a escrver assim, p ver s kb.

quarta-feira, 6 de agosto de 2008

Ficha suja

Já me perguntaram muitas vezes sobre os candidatos de “ficha suja”.

O que eu penso sobre o assunto?

Eu também me perguntei... Preciso organizar a resposta em partes (enquanto assisto à Sessão do STF que “julga ADPF que permite negar o registro de candidatura a políticos que respondem a processo judicial”).

1) No mínimo, temos direito à informação sobre os processos que os candidatos a cargo eletivo estejam respondendo na Justiça. Se disserem respeito ao exercício de função pública, nem se fala. Mas é importante qualificar, aprofundar essa informação. Qual é o processo; qual a acusação? Quem acusa? Em que ocasião? Por quê? Porque toda pessoa está sujeita a acusações inverídicas, por engano ou por má-fé – que não é muito rara na vida pública... Para prejudicar um adversário político, algumas pessoas lançam mão de qualquer recurso. Sabendo o contexto em que foi iniciado o processo, pode-se formar um juízo mais bem embasado – seja qual for a conclusão final da Justiça.

Portanto, sou a favor da publicação da “ficha”, desde devidamente explicada e contextualizada.

2) Quanto à impossibilidade de disputar eleição enquanto estiver respondendo a processos na Justiça – no primeiro momento, em um impulso, fiquei de acordo. Logo em seguida, lembrei da (óbvia) possibilidade de acusações injustas, e do quanto seria duplamente injusto impedir a candidatura de alguém que depois fosse absolvido, e mudei de idéia.

Em seguida...

[Vou interromper porque tenho de sair agora, ou perco minha carona para o Sarau da Cooperifa. Continua no próximo capítulo]

Médicos e periferia

Muita gente achou estranho eu falar em “médicos da periferia” no debate da Bandeirantes. Vou explicar.

Há anos existe um problema sério de conseguir profissionais de saúde – médicos, principalmente – para trabalhar na periferia das grandes cidades (e nos rincões do país).

Como resolver isso?

Oferecer salário maior ou gratificações em dinheiro para quem se dispuser a trabalhar tão longe é uma providência interessante, mas insuficiente. Às vezes, você não consegue alguém para preencher uma vaga, mesmo oferecendo o dobro. Por que? Porque as condições são horríveis. O prédio está caindo aos pedaços, equipamentos estão quebrados, faltam materiais... Depois o médico não consegue atender direito o paciente e ainda é ameaçado ou agredido (fora outras formas de violência possíveis).

Portanto, tem de haver boas condições de trabalho, claro, e reforço na segurança.

Pode haver também uma ajuda no translado. Para chegar ao trabalho mais descansado, menos estressado, não precisar encarar muitos quilômetros atrás do volante gastando muita gasolina, pode haver um serviço de vans que cumpra determinado roteiro e leve os profissionais de saúde até os postos mais distantes. Essa também é uma medida de segurança – e de estímulo à freqüência e pontualidade. Sim, porque além da falta de médicos, em alguns lugares o problema é que os médicos faltam...

Mas eu acho que a gente não pode aceitar essa situação como natural. Partir sempre do princípio que a periferia é um lugar inseguro, onde é difícil chegar, e que precisa “importar” médicos dos bairros ricos e mais centrais. Péra lá...

Não podemos ficar a vida inteira pensando em como estimular e facilitar a “viagem” dos médicos até os bairros pobres. Temos de pensar em investir na periferia para que ela deixe de ser um satélite do bairro rico; para que na periferia surjam médicos, professores, advogados, psicólogos, dentistas, arquitetos, engenheiros, biólogos...

A prefeitura não tem como seu dever investir em formação de nível superior – alguns até defendem isso. A Marta chegou a anunciar a criação de uma faculdade; há projetos de lei prevendo a concessão de bolsas para ensino superior. Mas a prefeitura tem de primeiro dar conta do que é atribuição sua – creches, pré-escolas, ensino fundamental (CEIs, EMEIs, EMEFs). O estado e o governo federal têm de se ocupar do ensino médio e superior. (Aliás, acho meio absurdo que o estado tenha milhares de escolas de ensino fundamental sob sua responsabilidade. Essa divisão deveria ser mais bem definida).

Mas, continuando, a prefeitura tem de garantir educação infantil e ensino fundamental de qualidade. O estado, melhorar 400% o ensino médio. Para que as crianças e jovens da periferia desenvolvam seus conhecimentos, habilidades, capacidades e sonhos. Para que tenham projetos de vida que contemplem a possibilidade de estudar medicina – e que ela realmente exista.

“Ah, mas isso é uma proposta a longo prazo”. Claro que é! Por isso apontei medidas de emergência para que haja imediatamente mais médicos nas UBS dos bairros distantes (sem falar de outras providências necessárias, porque é óbvio que a Saúde exige inúmeras ações para melhorar). Mas justamente as mudanças de longo prazo têm de começar imediatamente – se a gente não estiver pensando nisso desde já, quando a periferia deixará de ser um lugar pobre, onde há baixa escolaridade e empregabilidade e as pessoas vivem como se não fizessem parte e não tivessem direito a uma cidade rica?

terça-feira, 5 de agosto de 2008

Volta às aulas, quer dizer, ao plenário

Hoje recomeçam as atividades no plenário, que foi todo reformado durante o recesso de julho.

O painel eletrônico de votação foi trocado. Agora, é possível registrar presença e votar usando apenas impressões digitais. Muito interessante.

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Ao lado do elevador, tem um sensor que serve para o registro de presença, mas não de votação.

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Se alguém espera uma volta morna aos trabalhos parlamentares, pode estar enganado. No começo do mês, o vereador Paulo Fiorillo (PT) colheu assinaturas para solicitar a instalação de uma CPI que investigue as acusações de corrupção contra fiscais da Subprefeitura da Moóca.

Eu assinei. Aliás, se ninguém tivesse proposto, eu mesma o faria.

(Aquela outra CPI que eu propus ficou só com a minha assinatura, mesmo...)

segunda-feira, 4 de agosto de 2008

"Não sei, mas sou contra"

Acabo de ver um comentário no UOL me chamando de “aventureira” por propor pedágio urbano em São Paulo.

Como se fosse bom pra mim propor uma cobrança de pedágio, quando ninguém quer pagar mais nada... Bela “aventura” eu fui arrumar.

(“Aventureiro” é propor, ao mesmo tempo, “redução de impostos” e “8 pistas novas sobre o rio Tietê”. Digamos que essa fosse uma boa idéia, seria paga com quê? Impostos, eu suponho).

Outros comentários dizem: “É essa a idéia mágica para acabar com o trânsito?”

Pelo jeito, leram a manchete e não a entrevista... Eu disse que NÃO existe UMA solução para o trânsito. Metrô não é A solução. Corredor de ônibus não é A solução. Rodízio de caminhões não é a solução. Proibir estacionamento nas ruas não é a solução. Ciclovias e pedágio urbano não são a solução. Muitas ações combinadas são a solução – inclusive a redução da demanda por deslocamentos; a redução das distâncias entre casa e trabalho, por exemplo, para acabar com os milhões de viagens forçadas de todos os dias. Senão, não haverá metrô, trem, ônibus e ruas que dêem conta satisfatoriamente dessa multidão.

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Outro dia, em um posto de gasolina, o frentista reclamava comigo, sem nem saber quem eu era: “O pessoal fica falando que a gente tem de deixar o carro em casa. Mas cadê o transporte coletivo de qualidade?”

Perguntei: “Você tem carro?”. “Não!” Ele anda de ônibus... Até já teve carro, mas vendeu porque não conseguiu pagar as contas.

Muita gente anda de ônibus e é contra a cobrança de pedágio urbana. Ouve a palavra “pedágio” e já tem calafrios. Nem imagina que não vai pagar pedágio nenhum... Não pensa que já paga muito caro pelo congestionamento causado, principalmente, por automóveis particulares...

O pior não é quem não sabe o que é, como funciona e para que serve pedágio urbano. É quem não quer saber – e fala mal assim mesmo, de bate-pronto.

domingo, 3 de agosto de 2008

Caracteres, segundos e links

Mais uma semana com saudade do computador. Passei muito menos tempo com ele do que gostaria, e com menos liberdade de escolha. Nas poucas horas de contato, em vez de escrever sobre o que bem entendesse, respondi não sei quantas entrevistas por e-mail. Tudo “pra hoje”, como se a nossa agenda (de candidato) fosse igual à do fechamento dos jornais, revistas e sites...

Depois de chorar um pouco, conseguimos prorrogação de alguns prazos: “Ok, para amanhã, até o fim da tarde”. E dá-lhe longos questionários e controle rigoroso de tamanho das respostas...

***

Um deles era para um portal online (acho que a Folha – chega uma hora que a gente já nem sabe mais para quem está respondendo). Como era para internet, escrevi livremente, usando 3 parágrafos para responder sobre saúde, 3 sobre moradia, outros 3 sobre transporte coletivo... Relacionei as várias ações que acho necessárias, expliquei por que, descrevi como era possíveis.

Nada feito. Só depois da última resposta, vi a recomendação da jornalista: “Por favor, respostas curtas e objetivas”. A meu pedido, ela traduziu isso em números: “7 linhas. É igual para todo mundo. Quer refazer ou nós editamos por aqui?”.

Quis refazer, claro. Protestando: “Algumas PERGUNTAS tem sete linhas!!”. Ela sorriu por escrito: “É, vamos ter de editar por aqui também :o).”

***

A Vejinha procurou duas vezes. Uma na segunda: “Respostas até terça, se possível”. A Lylian, que organiza minha agenda (e sabe que duzentas atividades nem sempre podem ocupar o mesmo lugar no espaço), respondeu: “E se não for possível?”. “Bom, aí a gente vai publicando aos poucos, em ordem alfabética, até no máximo sexta”. Vai ver a resposta não foi bem assim, mas consegui um tempo e respondi na segunda mesmo. Se os outros atrasarem, lá vou eu para o fim da fila por ordem alfabética...

Na quinta, Vejinha outra vez: “Os leitores querem saber” – várias perguntas para sexta. Coisas “simples”, do tipo: “Qual a decisão mais urgente para o prefeito?”. Comecei a responder no começo da noite de sexta, com pouquíssima energia. (Depois do debate na Band, cheguei em casa depois de 1h30, fiquei conversando com a minha filha por quase uma hora e demorei mais uns 20 minutos para dormir. No dia seguinte, de manhã, fui fazer campanha no Largo 13. Quase não cansa...).

Apanhei pra burro para escrever até mesmo as respostas que já dei mil vezes (“O que fazer para melhorar o transporte coletivo?”). E também não conseguia ter concentração total porque tinha de atender a várias outras solicitações enquanto respondia (como ouvir o relatório de um SOS que atendemos de manhã, quando ligaram para avisar que a GCM estava removendo “gentilmente” moradores de rua da porta da Faculdade São Francisco). Normalmente, consigo fazer tranqüilamente duas ou três coisas ao mesmo tempo, escrever com barulho em volta, mas o problema é que já estava rodando com o tanque na reserva.

Depois de uma hora e meia avançando a passo de lesma e cinco perguntas respondidas, o aviso tenebroso aparece no meio da tela: “O Explorer encontrou um problema e deverá ser encerrado”.

Ironia filha da mãe. Não estava no meu computador, mas no de um amigo. Que sempre tira um sarro quando dá pau no meu Mozilla Firefox (software livre). No dele tem Windows, e dá pau justo comigo, sem me dar chance para tirar um sarro... Muito pelo contrário.

Como desgraças nunca vêm sozinhas, o pau foi federal, não consegui restabelecer a conexão. Eu estava respondendo direto no gmail, que normalmente salva rascunhos das mensagens à medida que elas vão sendo escritas. Um doce para quem adivinhar o que aconteceu: quando abri o email no outro computador, a versão salva era de horas atrás, quando ainda estava na metade de primeira resposta.

Desisti. O Portal da Vejinha está esperando até agora...

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O Estadão mandou uma série de perguntas com o prazo para cada uma – a primeira, adivinhe? Para o mesmo dia. Aparentemente, todas as assessorias reclamaram, e eles deixaram para o dia seguinte (quinta – o dia do debate).

O tema, se não me engano, era moradia. “1500 caracteres. Todos os candidatos terão o mesmo espaço”.

Essa “nóia” da isonomia é de enlouquecer. Se um candidato quiser responder em 3 linhas e o outro em 30, não pode. Todos têm de ter soluções do mesmo tamanho em centímetros de jornal. Espremi minhas observações sobre moradia o quanto pude, eliminei quatro ou cinco itens importantes, mas ainda ficaram 1622 toques. “Desculpe, não podemos aceitar. Nós editamos ou você quer refazer?”.

Não sei como, consegui exatos, redondos 1500 toques depois de uma ajeitada aqui e outra ali. Se algumas explicações ficaram meio superficiais? Pode apostar.

Um repórter ou colunista de jornal está sempre submetido a esses limites. Agora os candidatos a prefeito têm de aprender a trabalhar com isso – ou seus assessores, caso não sejam eles quem responde. A complexidade dos problemas fica para algum outro foro...

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Que não pode ser o debate na televisão, onde também há o tempo de 90 segundos em que se permite apenas concluir a frase – está no regulamento, devidamente aprovado por todos os assessores. Isso dá dois ou três segundos de tolerância, não mais.

Não é só quando estou debatendo que isso me aflige. Quando estou assistindo, também. Sempre me coloquei no lugar dos debatedores... Aliás, experimente você também: pergunte-se qualquer coisa complexa, delicada – exemplo: “Quais as suas propostas para acabar com a desigualdade no Brasil?”; “O que o Fluminense deve fazer para sair da zona de rebaixamento?”, e aquela básica: “Como acabar com os congestionamentos em São Paulo?”. Se você quiser recorrer ao senso-comum, fica mais fácil: “melhorar o transporte coletivo/ melhorar o ataque e a defesa/ criar empregos”. Mas se quiser ser um pouquinho mais elaborado... Vá lá. Tente. Pode pensar um pouco antes, mas na hora em que se fizer a pergunta, dispare o cronômetro imediatamente. Não é mole não.

Quando um jornalista ou locutor precisa gravar alguma coisa em precisamente 30, 60 ou 90 segundos, tem um texto escrito cuidadosamente na medida. Vai ao estúdio, grava a primeira. “Deu?”. “Estourou três segundos. De novo”. E refaz tantas vezes quanto for necessário.

No debate, não tem nada escrito, não dá tempo de pensar um pouco, não dá pra fazer de novo!

Bom, ninguém mandou entrar nessa história (e não estou nem um pouco arrependida, muito pelo contrário). E se não me convidassem para responder em 7 linhas, 1500 caracteres ou 90 segundos, eu ficaria louca da vida! Ainda bem que estou incluída. Mas não resisto a (mais) uma reclamadinha.

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Interrompi o texto para atender o interfone. “Tem um rapaz da Justiça Eleitoral aqui”.

Pensei que era a respeito do processo de perda de mandato – posso ser intimada para a audiência a qualquer momento. Não era.

“Chegou ao conhecimento desta Promotoria Eleitoral que o site oficial da Câmara dos Vereadores, na apresentação dos seus vereadores, apresenta links de alguns destes direcionados para seus sites de campanha”. Acusados: eu, o Natalini, a Mara Gabillli, o Paulo Fiorilo, o Apolinário, o Neder e o Goulart. Na interpretação da Promotoria, isso permite “a realização de propaganda eleitoral em espaço público”.

Bem, o site da Câmara não traz link para meu site de campanha (soninha23.can.br), mas meu site pessoal, soninha.com.br. Onde eu informo, sim, que sou candidata. Ok, se não posso, não informarei mais. Vou tirar o banner.

Mas essa discussão sobre o que é “espaço público” e o que um link representa para efeito da lei eleitoral mal começou.

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Os vereadores Dalton Silvano, Donato e Zelão também foram notificados. Porque, “apesar de não apresentarem os números de campanha, indicam os partidos políticos a que pertencem”.

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“Não sabia que vocês trabalhavam aos domingos”, disse ao oficial de justiça.

“E feriados”, respondeu.

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Vou responder às perguntas do portal Veja São Paulo (se é que ainda adianta) e depois eu volto.

sexta-feira, 1 de agosto de 2008

Testando

Sexta-feira, 11:29.

Cabine 13 do Acessa São Paulo no Poupatempo Santo Amaro, próximo ao Largo 13.
Ô número que não me larga! :o)

Eu fui de moto de casa até a São Gabriel, estacionei em uma travessa e peguei um ônibus no corredor.

Por que?

Quatro motivos.

1)Não estava com muito saco pra dirigir (a Santo Amaro é muito apertada e tensa para motos)
2)Tem uma boa opção em transporte coletivo (o corredor, craro)
3)A qualidade do ar realmente está péssima (ontem fiquei com os olhos ardendo e lacrimejando muito quando fui de bicicleta até a Câmara; parecia que tinham jogado ácido); melhor renunciar à moto um pouco
4)Era uma boa oportunidade para dar mais uma examinada no transporte público.

Chegando ao ponto, surpresa nenhuma: ele tem nome (“São Gabriel, 600”), mapa dos arredores, relação das linhas que passam por ali. Mas não o caminho que elas fazem... Tem de adivinhar, perguntar para alguém no ponto ou parar todo ônibus e perguntar para o motorista.

O painel eletrônico informava que faltavam cerca de 4 minutos para o próximo ônibus, e isso é legal. Enquanto eu o fotografava, chegou um ônibus! Veio rápido, parou e pude ver “Largo 13” na placa ao lado da porta. Era o meu.

Um ônibus grande como aquele deveria circular majestosamente, isto é, devagar... Mas não é o caso. Todas as paradas são bruscas.

Tem lugar para prender cadeira-de-rodas – e dois degraus grandes para entrar no ônibus. “Não tem elevador pra cadeirante?”. “Elevador é aqui”, disse o cobrador, apontando para o próprio braço. “Já teve de carregar cadeira?”. “Ô!”.

Queria ver se a lataria do ônibus informa que ele é “acessível” (o que seria uma mentira), mas esqueci. Me distraí com o fato de que ele não parou no ponto (porque estava um caos, com outros ônibus em fila dupla), mas um pouco adiante. As senhorinhas que esperavam para descer ficaram aflitas: “Não vai parar? Não vai parar?” Tiveram de andar uns 10 metros a mais. Para quem caminha com dificuldade como elas, um problema.

Agora vou voltar pra caminhada. Já testei mais um serviço... O Acessa tem softwre livre, gostei.