quinta-feira, 17 de julho de 2008

"Cuidado!"

Eu ia para o debate no Ig logo mais (15:00) de moto. Na maioria das situações, esse é o jeito mais rápido de chegar a qualquer lugar em São Paulo.

(Quando não é? De madrugada nas Marginais - eu não ando a 90 por hora de moto, mas de carro sim. Em alguns trajetos e horários o metrô é melhor. Idem para ônibus. A 9 de julho, por exemplo, é tão apertada que o congestionamento pega as motos também. E em algumas situações até bicicleta é mais rápido - eu de moto já perdi uma corrida intermodal para elas em setembro do ano passado).

Enfim, eu ia de moto, até um amigo mandar um email avisando: "Tem estacionamento de bicicleta no prédio do Ig...". Captei a mensagem e topei. "Mas como eu chego lá? 9 de julho não dá". Ele respondeu da melhor maneira possível: traçando uma rota no Bikely, um site sensacional, que "ajuda ciclistas a compartilhar o conhecimento de boas rotas de bicicletas". "Fiz o percurso com as menores subidas e evitando as grandes avenidas. Nesse roteiro há grande fluxo de veículos (onde não há, nessa região?), mas baixas velocidades", avisou. Ele assinalou o trajeto no mapa, que pode ser visto mais de perto ou de longe, e explicou o caminho passo a passo, com comentários como estes:

"Cuidado nessa esquina, muitos carros viram à direita. Ocupe a faixa toda, mantendo-se distante da calçada, e sinalize para que os carros que vêm de trás esperem você passar. Ou pare na esquina, espere o sinal fechar e saia quando ele abrir".

"Cuidado nesse cruzamento, havia uma rotatória aqui mas ela foi sepultada pelo recapeamento"

"Cuidado nessa esquina: à vezes os carros que vêm da direita precisam ir se enfiando para conseguir cruzar e você terá que desviar deles, mas os que vêm atrás de você podem não prever seu movimento de desvio. Sinalize sempre e tenha certeza que vão parar para você..."

(Sintomático que os três comecem com "cuidado"!)

"Dê um sorriso para a Praça do Ciclista e continue até a esquina"

"Vamos pegar um trecho da Augusta. Ocupe a faixa e não passe muito perto dos carros estacionados, que podem abrir a porta de repente".

Daqui a pouco eu vou (esse, na verdade, é o trajeto da volta). Depois, como sempre, eu conto como foi.

Quarta-feira: tricô, semáforos e reciclagem

Tricô, semáforos e reciclagem

Quando alguém me pergunta o que eu gosto de fazer, tenho uma lista enorme de coisas: ler, escrever, ouvir música, dançar, comer, ir ao estádio, jogar bola, ficar em casa com as filhas, ver seriados na TV, tirar e ver fotos, andar, andar de bicicleta, viajar... Não digo nunca uma que eu adoro, da qual eu só lembro no momento em que acontece: aprender. É um prazer imenso.

Aprender um idioma, um passo de dança, uma música no violão, um atalho no Word, um recurso no Google Maps... Um caminho novo, um origami, tricô e crochê. Ou por que embrulhar frutas em jornal ajuda a amadurecer (minha filha bióloga explicou). Adoro.

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Esta semana, já passei por essa sensação uma dezena de vezes. Em uma reunião de duas horas com representantes de funcionários da CET, que estão procurando todos os candidatos à prefeitura para expor suas sugestões, reivindicações e reclamações sobre o trânsito e a companhia, aprendi uma porrada de coisas. Foram eles que me explicaram a diferença entre semáforos inteligentes e eletrônicos; as indicações, vantagens e desvantagens entre um e outro. Bobagem? Acho não. Até outro dia, eu saía que nem uma papagaia (e que nem todo mundo) dizendo “precisa haver semáforos inteligentes na cidade toda!”. Tem lugares em que os eletrônicos são muito mais adequados. E mais baratos. Não foi só isso; eles me esclareceram uma porção de outras dúvidas (e despertaram outras, para as quais também não tinham resposta mas ficaram de procurar).

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Hoje (quarta-feira, dia 16) estive no Cempre – Compromisso Empresarial pela Reciclagem, ONG que me socorria muitas vezes quando eu ainda trabalhava na MTV e usava o site deles para buscar informações (sobre o volume da produção de resíduos/ dia em São Paulo, por exemplo, ou sobre os lugares que recebiam ou compravam material reciclável). Eles ainda oferecem socorro para prefeituras, empresas, cooperativas, condomínios, acadêmicos e demais interessados no assunto reciclagem.

Com eles, fui até a sede da Reciclázaro no Butantã. O trabalho da Reciclázaro, que é em várias frentes, eu conheço faz tempo – tanto vi nos meios de comunicação quanto fiz reportagens sobre eles. São muito bons. Acabaram de ser aprovados em um edital da Petrobrás – que recebeu inscrições de 6 mil projetos pelo Brasil todo, para aprovar pouco mais de 70 – e vão obter recursos para reformar o galpão onde fazem triagem de material reciclável. O projeto é demais: vão captar água da chuva, tratar o esgoto deles e da igreja ao lado em um biodigestor que vai gerar gás para a cozinha, aquecer água dos chuveiros com energia solar... E continuar separando centenas de toneladas de material reciclável todo mês.

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Conheço muito sobre esse assunto, estudo e discuto há muito tempo, tento interferir nos rumos da coleta seletiva como vereadora (em mil debates, reuniões, audiências públicas, ofícios, requerimentos, emails, etc.) , e ainda assim saí de lá – e da Coopamare, que eu conheço há mais tempo ainda – com informações novas e muito interessantes.

Por exemplo: eu já sabia que uma das cooperativas instaladas na antiga Usina de Compostagem da Leopoldina (e futuro Parque Orlando Vilas-Boas, sabe deus quando) vende isopor (que muita gente ainda pensa que não é reciclável) para uma fábrica de Santa Catarina. Mas eu não sabia que as cooperativas trabalham em rede para aumentar o volume de materiais como esse, mais difíceis de comercializar se não houver uma boa quantidade.

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As Cooperativas enfrentam, nos últimos anos, problemas muito persistentes de incerteza jurídica, institucional e financeira. Os contratos de convênio com a prefeitura expiraram e ainda não foram renovados; muitas estão instaladas em áreas provisórias e convivem com a ameaça permanente de desalojamento; há a concorrência com os serviços de “morcegão”, que “roubam” resíduos em coletas irregulares e “atravessam” a venda; a incompreensão e intolerância de vizinhos das centrais; a perseguição de Subprefeituras, GCMs ou PMs a catadores; a cobrança pela retirada do rejeito (o que sobra depois da triagem) como se eles fossem “grandes geradores” (eles não GERAM aquele lixo; aliás, eles DIMINUEM a geração de lixo!).

Como se não bastasse, há um problema novo. Estamos tentando interceder pelas Cooperativas junto à prefeitura por causa do rodízio de caminhões. Impedidos de rodar dia sim-dia não em horário comercial, não conseguem recolher material reciclável de escolas, empresas e condomínios – e, por causa do barulho ou da falta de funcionários, não podem retirar o material depois das 9 da noite. Como o material vai se acumulando, o pessoal acaba entregando para o caminhão de lixo – assim, o que seria reciclado vai parar mesmo no aterro sanitário, e os cooperados vêem sua renda diminuir imediatamente. Desmotivadas, as pessoas podem acabar desistindo de separar o material (“vai misturar tudo mesmo”) e lá se vai um enorme esforço de conscientização e fidelização por água abaixo.

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Pedi atenção e providências ao gabinete do prefeito. Fiquei sabendo que o Secretário de Transportes dava o problema como resolvido, porque os caminhões de lixo foram liberados do rodízio.

Acontece que os agentes da CET, imbuídos da mais profunda consciência ambiental, entenderam que caminhão de lixo é uma coisa, caminhão da coleta seletiva é outra. E eles têm razão, ó pá. Material reciclável não é lixo! É uma vitória que as pessoas pensem assim.

Acontece que a natureza do serviço é muito semelhante: é coleta de resíduos, tanto quanto a outra. E do ponto de vista de trânsito os dois merecem, sim, o mesmo tratamento, porque são serviços fundamentais.

Supliquei ao Secretário que resolva isso. Ou muda a palavra “lixo” para “resíduos”, ou deixa bem claro pra CET que os 200 caminhões – devidamente registrados junto à Limpurb, insignificantes numericamente em uma cidade desse tamanho – podem botar o nariz pra fora dia sim, outro também.

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O que mais teve no dia?

Entrevista por telefone para a Band AM (dessa vez, sobre o tema “corrupção de fiscais”); comentário por telefone para Folha Online sobre a ação contra a candidatura do Maluf; entrevista por email para o Estadão; discussão por email sobre materiais da campanha; discussão no gabinete sobre problemas na Baixada do Glicério e questões ligadas aos programas da Secretaria de Assistência e Desenvolvimento Social... Reunião na quadra da Escola de Samba Unidos do Peruche... Futebol (belo jogo), blogs e emails. E eu devo estar esquecendo alguma coisa. E amanhã tem mais, tem muito mais.