quinta-feira, 31 de julho de 2008

Faltam 8 horas... 7:55... 7:50...

Lembrei daqueles conselhos básicos a vestibulandos: “Não deixe para estudar na última hora. Você não vai aprender nada no dia da prova e ainda vai se desgastar e inquietar à toa. No máximo, dê uma repassada no que já sabe, mas poupe energia para o vestibular propriamente dito”.

Eu não vou aprender nada hoje, mas tenho algumas dúvidas de última hora e vou dar uma pesquisada.

Não tenho medo de não saber a resposta de alguma pergunta – porque vou dizer, muito honestamente, “não sei”. Tem coisa mais inútil do que enrolar? Quem não é seu fã vai perceber na hora: “Não respondeu!”. Quem é fã vai concluir: “Saiu-se bem, foi convincente” ou “saiu-se mal”. A utilidade disso para a verdadeira discussão sobre a cidade é aproximadamente... zero.

Então não tenho medo de nada? Hmm... Nada que me tire o sono ou a fome. Mas a minha preocupação é não lembrar, na hora, de alguma coisa que eu achava super importante dizer. Ou deixá-la para o fim e não dar tempo de dizer.

Acontece o tempo todo, em entrevistas ou telefonemas entre amigos... “Como eu não lembrei DAQUELE filme que eu adoro?”; “liguei para perguntar do capacete e falei tudo menos isso”. No debate, mais do que na vida, precisamos ser precisos, muito ágeis, infalíveis. Isso é que é dose.

Mas é melhor ter debate do que não ter, sem dúvida. Podem me chamar que eu vou a todos; adoro.

No iG, dias atrás, eu experimentei uma sensação de volta no tempo, um flashback. Eu me vi ajoelhada na carteira do colégio, braço espetado para o alto, impaciente, aflita, querendo responder todas as perguntas que a professora fazia. “Quem pode me dizer onde fica...?”. “EU! EU! EU!”. Éramos cinco ou seis meninas assim – e as outras, que queriam se esconder debaixo da carteira, não entendiam por que a professora não chamava logo uma de nós e preferia torturá-las. Algumas sofriam por não saber a resposta e ter medo do erro, do fracasso – e o pior que escola às vezes leva a isso, em vez de ajudar a superar isso. Outras sabiam, mas eram tão tímidas que tinham vergonha da própria voz.

Engraçado lembrar disso agora... Saudade dos meus tempos de Colégio. E tenho a nítida sensação de que vou ter saudade destes tempos de campanha também, então estou curtindo cada momento. (Mesmo que, como no Colégio, nem todos sejam legais).

quarta-feira, 30 de julho de 2008

Orgulho de um PM

Panfletagem no centro hoje na hora do almoço, e as mesmas experiências de sempre.

Tem gente que olha com cara de nojo ou riso de escárnio, como se dissesse "é muita cara-de-pau político vir pedir voto!".

Eu já tive a maior dificuldade para pedir voto. Achava uma coisa horrível, como se eu fosse vendedora porta-a-porta de mim mesma (quando eu era pequena, tinha muito vendedor porta-a-porta: de vassouras, panos de prato, produtos de limpeza, panela, tudo. Eu morria de dó de dizer "não, obrigada, minha mãe falou que não está precisando"... Me dava um aperto no peito!)

Agora eu não peço voto, mas me ofereço como candidata. O resultado é o mesmo, mas eu fico menos envergonhada. "Oi, sou candidata a prefeita, posso deixar um folheto com você?"

Tem gente que pega o folheto logo pra se ver livre da gente. Tem quem pegue por solidariedade, gentileza ou compaixão. Alguns, por curiosidade. Outros por simpatia. E um ou outro por interesse MESMO. Ai.

Mas juro que só vi 3 jogados no chão.

***

Mil histórias pra contar dessa caminhada, mas uma é muito especial.

Estávamos no calçadão perto da Praça do Patriarca, quando um PM apontou para mim e disse: "Olha, fala com eles, quem sabe eles podem te ajudar".

O soldado estava preocupado com uma moça sentada no chão, debulhada em lágrimas. Ela foi a uma das casas de crédito tentar um financiamento, que foi recusado. Chorava desesperada. Ele queria levá-la até a prefeitura, pedir ajuda, informações, mas ela não tinha vontade, energia e confiança para sair do lugar. O PM, muito cordial, muito sereno, disse que ela não podia ficar daquele jeito, que até em se matar ela tinha falado.

A história da moça é de trucidar o coração. Depois eu conto. Mas o PM... O PM foi o máximo. O máximo da sensibilidade, do interesse compassivo, da disponibilidade. Esse só pode ter entrado para a polícia para servir a população, ajudar a promover a segurança, reduzir a violência e o sofrimento.

Que volte para casa hoje orgulhoso de si - mesmo cansado, frustrado, aborrecido por não sei quantos motivos, que pense consigo mesmo (e com a namorada ou esposa, a mãe, os filhos): "Que bom estar nessa vida e poder ajudar as pessoas". Eu nem o conhecia, e fiquei orgulhosa dele.

Uma quarta como outra qualquer

A grande pergunta de hoje foi:

"Como você está se preparando para o debate?"

Resposta:

Estou me preparando há anos!

Há décadas!

Desde que eu era estudante de ginásio e magistério, professora, atriz de teatro amador, aluna da faculdade de cinema, militante de vários movimentos, ongueira, repórter, mediadora de debates... Leitora de livros, jornais e revistas, participante de fóruns, painéis, seminários, pesquisas, congressos, conferências... Usuária da saúde pública, da educação pública, do transporte público... E vereadora. Acumulando experiências, informações, conhecimento. Aprendendo.

Nesses últimos meses de estudo intensivo, falando com servidores municipais lá da ponta, do balcão de atendimento, e especialistas da Universidade; com técnicos e políticos que participaram de várias administrações e cidadãos interessados; aprendi muito mais sobre a cidade. Mas eu já conhecia muito bem uma variedade grande de assuntos e, nos últimos anos, participei de um zilhão de debates. Em uma escola municipal no Jardim Fontales e na Câmara Americana de Comércio; na Fatec e na Poli; em Heliópolis e na FAAP; na TV Comunitária e no Ig; na Rede Vida e no Fórum da População de Rua; no Estadão e na TV Assembléia; em carro de som na porta da Mercedes e no gabinete do Zé Dirceu; na rua; na Câmara Municipal e na ESPN...

Se eu for mal no debate, não há de ser por falta de "preparo".

terça-feira, 29 de julho de 2008

Das 7h30 às 10h00

- Sete e meia da terça???

Fiquei de mau humor no domingo à noite, quando soube que teria um compromisso tão cedo no dia seguinte à festa de lançamento da candidatura...
Nos últimos anos, percebo como a idade me fez menos tolerante a noites mal dormidas, ou de sono insuficiente... Nunca fui de dormir muito, mas hoje em dia cinco horas de sono me deixam imprestável no dia seguinte.

Azar. “Não vou morrer por causa disso, mas da próxima vez tentam evitar uma noite longa seguida de uma manhã cedo!”

***
O compromisso era uma missa na Igreja Matriz da Freguesia do Ó, seguida por uma conversa com os paroquianos e uma visita a obras assistenciais no bairro.

Foi muito gostoso.

Estava um dia lindo – exceto pela poluição... Mas um sol luminoso e o ar bem frio, uma combinação que eu adoro. Entrei na igreja quando cantavam, com violão acompanhando, uma das minhas músicas favoritas do tempo de Colégio Santana – que a gente se esgoelava de cantar até nos ônibus de excursão... (Pra quem era companheira dessa época: adivinhem qual. Daqui a pouco eu conto).

***
Mesmo quando eu freqüentava a igreja, achava incrível pensar que as pessoas iam à missa às 7:30 da manhã em um dia de semana. Uma vizinha ia a todas elas; era algo muito exótico para mim.

Mas depois virei budista, e comecei a fazer meditação às 6 da manhã... Hoje em dia não começo tão cedo, mas acho super natural pular da cama no escuro quando estou em retiro ou algo assim, para ir ao templo com os outros praticantes rezar pelo fim do sofrimento no mundo...

Então me vi na igreja achando aquilo muito natural, agradável, inspirador; curti as músicas, o sermão bem coloquial e sereno do padre, a liturgia que ainda sei de cor, muitos anos depois (27) de parar de ir à missa toda semana. E localizar, na pasta com as músicas que é distribuída aos fiéis, várias das minhas antigas favoritas: “Sobe a Jerusalém/ Virgem oferente sem igual...”; “Quando teu Pai revelou o segredo a Maria/ que pela força do Espírito conceberia...”.

Havia mais pessoas idosas do que jovens, mas reparei em um motoboy na fileira do fundo e em duas moças de aparência muito simpática e atraente, que depois soube serem irmãs – uma faz Direito no Mackenzie; a outra é fisioterapeuta na UTI de um hospital na região da Paulista. Normalmente, SAI do trabalho às 7 da manhã, mas hoje estava de folga.

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A música que a gente adorava cantar no Colégio (em duas vozes, o que era uma glória) era “o Louvado”, como dizíamos. “Louvado seja o meu senhor (4x)/ Por aqueles que agora nascem/ Por aqueles que agora morrem...”.

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Eu freqüentava a Missa das Crianças, às 9 da manhã na Paróquia de Santa Terezinha. Era no salão paroquial nos fundos da igreja, rezada o Padre Giba (que as crianças, insolentes sem querer, chamavam só de Giba). As crianças se encarregavam de tudo: a procissão inicial com os paramentos do padre e os objetos para o altar, a procissão de oferenda, as leituras... Arrumavam as cadeiras, limpavam o salão depois... Eu adorava aquilo. Queria saber tudo, participar de tudo. Quando havia missas especiais, em que eram distribuídos presentes para as crianças do bairro (chocolates na Páscoa, por exemplo), eu sempre me voluntariava para participar da organização. Passávamos horas enchendo coelhos de plástico com confeitos...

Um dia, resolveram eleger uma “diretoria” para que houvesse responsáveis fixos por determinadas tarefas, para representar as crianças junto ao padre e sei lá mais o quê. Sei que me elegeram presidente – e eu juro, por tudo que é mais sagrado, que fiquei surpresa. No Colégio, eu sabia que era bem conhecida (tinha entrado na primeira série com 5 anos, tirava notas muito boas, essas coisas), mas na igreja eu não tinha percebido ainda.

E aí estão duas raízes importantes da minha militância política: o Colégio e a igreja. Em casa, a grande influência era minha mãe – que nunca participou de nenhum movimento organizado, mas era uma revoltada de marca maior :o). Indignada com a ditadura, tortura, censura, injustiça, desigualdade, hipocrisia, incoerência, indiferença, opressão, exploração, egoísmo... Racismo, machismo, capitalismo... Uma frase clássica de minha mãe: “Nunca vou ser rica!”. Era o que dizia, com raiva, quando via alguma cena de miséria. Não admitia excesso de um lado e tanta falta de outra.

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Depois da missa e de uma de minhas experiências gastronômicas favoritas – café-com-leite e pão-com-manteiga-na-chapa na padaria – fomos até uma das creches mantidas pelos religiosos em convênio com a prefeitura.

No total, são 7 creches e 3 ou 4 núcleos sócio-educativos (para adolescentes e jovens). Essa que eu conheci é um espetáculo. Tudo é tão bem cuidado – as salas para as crianças, refeitório, cozinha, banheiros, salão de encontros – que inspira confiança só por ser como é. E pudemos ver as professoras em ação, cuidando com muita atenção da molecadinha. Uma graça. (E eu lembrei de como trabalhar em creche é exaustivo... Especialmente quando as condições são ruins e você tem 20 crianças para olhar sozinha, como aconteceu em alguns casos).

Muita gente boa da educação é contra os convênios; os aceitam como solução complementar porque a rede própria da prefeitura não daria conta de atender todo mundo (já tem um déficit monstruoso de vagas). Eu não, sou a favor. Desde que haja acompanhamento – da prefeitura e dos pais – é ótimo que a própria comunidade organizada tenha um equipamento como esse para suas crianças. Conheci várias creches conveniadas nas quais deixaria minha filha com tranqüilidade – na favela de Heliópolis ou no Núcleo Cristão do Parque Novo Mundo. A responsabilidade e dever de oferecer vagas para todas as crianças É do Poder Público, mas a oferta do serviço pode ser em parceria, sim, com muita qualidade. (E o equipamento administrado diretamente pela prefeitura também precisa de acompanhamento para garantir que o serviço seja bom!).

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Antes de visitar a creche, encontrei o Padre Noé em seus aposentos, que ficam no prédio da creche. Uma pessoa muito conhecida e querida na Freguesia, grande líder na construção de toda essa rede comunitária. Já tinha ouvido falar muito nele, mas conhecê-lo foi uma experiência encantadora.

Sabe aqueles líderes religiosos na presença dos quais você se sente serenamente bem, comovido, acolhido com calor genuíno, generosidade sincera, pura bondade? Foi como me senti. Já passei por isso no encontro com alguns mestres budistas, que parecem irradiar bem-querer e bem-estar. Foi uma sensação idêntica. Que querido, o padre Noé!

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Até aqui, não eram nem dez da manhã – e o dia teve muito mais do que isso. Estive no Fórum, a um Clube Escola, fui para a Câmara, corri até a FAU Maranhão para tentar comparecer ao velório do Joaquim Guedes (como é chocante alguém morrer atropelado... Não me conformo), estive no dentista, encontrei um conhecido de muito tempo atrás na Paulista, um “maluco” (auto-definido) na calçada disse que sonhava me conhecer e agora vou a um evento do Ivaldo Bertazzo na Ria Vitória. Em cada uma dessas frases entre vírgulas, há muito que contar (ok, posso dispensá-los do dentista). Talvez eu consiga escrever mais um pouco ainda hoje, mas não prometo. Aliás, não prometo nada que eu não tenha certeza que posso fazer :o).

Sem torcida organizada - mas sem portões fechados!

A assessoria do Democratas ligou querendo fazer um trato para o debate da Bandeirantes, dizendo que é comum os partidos levarem suas “torcidas” e criarem uma certa situação de tumulto na porta da emissora. Eu não tinha nem pensado nessa possibilidade de tumulto, mas disse que se eles estavam preocupados conosco podiam ficar tranqüilos porque o PPS não leva claque aos eventos; não dá ônibus e lanche para os "torcedores" irem lá bater palma para o nosso time e vaiar os adversários...

Portanto, assinei esse trato, mas a gente avisou desde o começo que chegaria ao debate de bicicleta, acompanhados por tantos ciclistas quanto os que estiverem dispostos a acompanhar até lá... Não são militantes nem cabos eleitorais do PPS. (Imagino que uma boa parte deles vá votar em mim - porque sabem que eu quero ser prefeita para ajudar as bicicletas e não ajudar as bicicletas porque quero ser prefeita – mas não é um movimento eleitoral de apoio à candidatura, é mais um ato em defesa das bicicletas!Além disso, muita gente quer ir ao debate e assistir de perto - porque é legal, é um momento raro. E como não tem lugar para todo mundo dentro da emissora, não vai haver crachá ou credencial para todos os acompanhantes, a Band providenciou uma área com um telão do lado de fora. A gente já divulgou esse endereço no site para quem quiser ir lá, e eu não vou agora desconvidar as pessoas e dizer: "Por favor, NÃO VÃO assistir ao debate porque nós fizemos um acordo entre os partidos".

Então, de novo, eu não vou organizar uma excursão de apoiadores até a Band, mas quem quiser ir assistir o debate no telão - e não fazer "corredor polonês" para os adversários - continua convidado. Se não era esse o combinado, foi mal aí. Ou fui eu que entendi mal ou foram eles (e a trilha do momento poderia ser "Vai ver/ que a confusão/ foi eu que fiz/ fui eu..." - Paralamas do Sucesso).

segunda-feira, 28 de julho de 2008

Tão de sacanagem

Deu no Estadão: “Sem propostas concretas, os candidatos à Prefeitura arriscam palpites sobre as ciclovias. São favoráveis, na maioria, ao uso de bicicleta como meio de transporte. Mas não há um plano concreto para que São Paulo receba ciclovias e ciclofaixas”.

COMO ASSIM, sem propostas concretas? Na verdade, todos os candidatos – exceto a Anaí, do PCO, e o Levy, do PRTB, que não pretendem investir nas bicicletas como meio de locomoção – dizem bem concretamente o que pretendem fazer em relação às bicicletas. E isso em versão resumida pelo jornal; talvez as idéias sejam ainda mais desenvolvidas e elaboradas do que aparecem ali (falo por mim – duas semanas atrás, respondi por email uma pergunta sobre bicicletas para o Estadão, em que detalhava várias propostas. Não usaram).

O plano concreto, resumidamente, é o seguinte: encomendar o projeto de um sistema cicloviário, prevendo pistas para circulação (ciclovias ou ciclofaixas), rotas sinalizadas, bicicletários e paraciclos, especialmente junto a terminais de trem, metrô e ônibus. A prefeita ou prefeito não tem de saber fazer uma ciclovia ou ciclofaixa tanto quanto não precisa fazer o projeto de um viaduto – tem engenheiro pra isso... (Eu tenho um Caderno Técnico da ANTP, Associação Nacional de Transportes Público, que detalha vários tipos de projetos. E a CET também tem estudos, assim como a Emurb, o Grupo Bicicletas, algumas Subprefeituras... Enfim, como eu disse ao jornal, o que falta é mandar fazer!

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Não são só a Anaí Caproni e o Levy Fidélis que não botam fé em bicicletas como meio de locomoção. Em um debate na Casa da Cidade, uma mulher disse que isso era “coisa de burguês”. Alguns engenheiros de tráfego acham que “é impossível”, e uma urbanista disse, no Opinião Nacional, que esse negócio de bicicletas é “mito”.

Se não querem defender a idéia de trocar carro por bicicleta, ok (eu defendo). Mas não podem esquecer que 300 mil pessoas, no mínimo (o dado é de 2002), usam bicicleta diariamente para se locomover. Ainda que ninguém mais resolva circular por ai pedalando, esses centenas de milhares precisam de condições mais seguras. E tem alguns estudantes da USP, arquitetos, médicos, etc. (“burqueses”), mas tem muito garçon, pedreiro, porteiro, segurança, entregador...

Seria ótimo que mais burgueses aderissem, aliás. Até para se contrapor à história de carro como símbolo de status. Na Europa, todo mundo acha lindo ver o diretor da empresa pegando o metrô com o jornal debaixo do braço, ou a empresária pedalando para o trabalho com a sandália de salto na mochila. Aqui, é feio, é coisa de pobre ou de excêntrico...

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Sinais evidentes dessa cultura: na Daslu, pelo que dizem, é impossível entrar a pé. Só de carro. Ou seja: 1) O lugar é só pra rico, mesmo (ah, vá). 2) Rico não anda a pé.

E quando um jornal perguntou como os candidatos a prefeito de locomovem por aí, um coordenador da campanha da Marta disse, com orgulho: “Ela pode andar até de Fusca; a pé, ela não fica”.

Ele quis mostrar dinamismo, eficiência, organização. Mas chega a ser um ato-falho: por acaso seria um problema grave a candidata ficar a pé? É feio?

Baldes de água fria

Toda semana a gente recebe um pedido de socorro: “Estão agredindo os moradores de rua, jogando água, spray de pimenta, dando borrachada!”

É um problema tristemente recorrente nos últimos tempos. Na hora de limpar as ruas, as pessoas que estão dormindo, embrulhadas em seus cobertores, são tratadas como lixo. Tacam água sem dó. Um absurdo.

Hoje o movimento da população de rua fez (mais) uma manifestação pelas ruas do centro, pedindo paz, pedindo respeito. Havia faixas e cartazes com frases como “Não somos contra a limpeza pública”; “Limpeza urbana ou limpeza humana?”.

A caminhada saiu da Praça da Sé, fez uma escala diante da Associação Comercial de São Paulo, outra diante dos escritórios do Governo do Estado na rua Boa Vista, uma parada diante da Bovespa e outra diante da Bolsa de Futuros, mais uma pausa na Secretaria de Assistência e Desenvolvimento Social, na Secretaria de Coordenação das Subprefeituras e na Prefeitura.

Em cada um desses lugares, a intenção era apenas entregar um manifesto e o troféu “Cidade Limpa, Consciência Suja”. Ninguém queria agredir, ocupar, depredar, e isso ficava bem claro nas falas no carro de som. “Viemos em paz; queremos paz”. “Não tenham medo. Ninguém vai entrar à força. Queremos que alguém venha receber o troféu”.

Acompanhando os manifestantes, garantindo que a rua continuasse aberta para o tráfego de veículos, PMs de bicicleta. Calmos, respeitosos, nem carrancudos estavam. Ainda bem. Pareciam até solidários àquela gente desgrenhada, desdentada, caminhando lentamente.

Na ACSP e na Bovespa, depois de alguma insistência, deu certo – uma pessoa desceu para receber o folheto e o troféu. Nos outros lugares, não. E a maior burrice, insensibilidade, falta de tato (e até de esperteza) se deu na frente da prefeitura.

De novo, o discurso deixou claro: “Não queremos invadir. Queremos que alguém venha receber o manifesto”. Nada. Ninguém veio. O povo insistia com palmas e gritos, à distância segura da entrada do prédio (até porque havia grades e GCMs). Não voou uma pedra, um pão velho, nada.

O movimento pediu, então, que uma comissão de 4 pessoas pudesse ir até o setor de protocolos, na recepção, entregar o manifesto – um representante dos catadores, um do movimento de moradia, um dos camelôs, um do movimento da população de rua. Os quatro se descolaram da massa e se dirigiram a uma entrada lateral, para não deixar nenhuma dúvida de que entrariam sozinhos, sem o grupo. Longos minutos de espera e... Nada feito. Bateram que bateram o pé que só entraria um.

Santa teimosia, Batman. Enquanto esperavam sob o sol, cansadas, com fome e sede, algumas pessoas foram se irritando, perdendo a paciência, ficando tensas. E não é difícil entender que são homens e mulheres muito próximos da raiva e da revolta, que não custariam muito para perder a cabeça e querer pular a grade de meio metro que as continha. As lideranças se mantiveram firmes, pedindo atenção e a entrada da comissão. Não teve jeito. A inspetora da Guarda Civil que negociava com eles insistia na entrada de um só.

É uma marca triste dessa gestão: a insensibilidade. Como disse ironicamente uma senhorinha, “podia ter descido um chefe-de-gabinete, um secretário, nem que fosse pra mentir!”.

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Diante da Secretaria das Subs e da Prefeitura, os manifestantes jogaram água e sabão para lavar o chão. “Eles querem limpeza? Aí está!”

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Ouvido na manifestação:

“Na rua tem pedreiro, tem encanador, tem eletricista. O povo da rua quer trabalhar!”

“A Bolsa vai cair! Vai cair o euro, o dólar, vai subir a população de rua! A gente vai ficar aqui na porta até alguém vir receber o troféu. Olha a queda nas ações!” (um líder ao microfone – e é um cidadão “de rua” também)

“Vamos jogar água na cama do Kassab!” (um manifestante).

“Por que esse movimento?”, perguntou uma mulher que passava.
“Porque à noite sai o pessoal lavando a rua e joga água em quem tá dormindo na calçada. E se eles reclamam, tomam spray de pimenta, cacetada..”.
“Que horror!”

“O que eles querem?”, perguntou um repórter.
“Não querem ser tratados como lixo. Não querem só albergue (e tem poucos!); querem atividade durante o dia, querem atendimento em saúde, tratamento em saúde mental. Querem ser respeitados . Que lembrem que embrulhado no cobertor tem gente”.

“A Assistência Social dá cobertor, a equipe de limpeza molha e a polícia joga no lixo!” (outro líder no carro de som).

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Eu continuo não acreditando que o prefeito ou o Andrea Matarazzo (Secretário das Subprefeituras, que leva a fama por todas essas arbitrariedades) mandem jogar água em quem está dormindo na calçada. Aliás, tenho certeza que não fazem isso. Aposto um braço. Mas se não dão ordens claras, firmes, sem deixar margem de dúvida, de que NÃO É para tratar a população de rua com brutalidade, erram por omissão. Ou falta de controle.

Essa população é tratada como se estivesse de sacanagem; como se ficasse na rua só pra contrariar, espezinhar, sacanear a prefeitura e o Viva o Centro... Parece que estão na rua porque estão a fim... “Mas tem gente explorando politicamente essas pessoas”, dirão alguns. E se tiver, isso faz dessas pessoas um inimigo a combater??

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É verdade que muita gente na rua se recusa a ir para um albergue. E por que? Por vários motivos. Às vezes, por paranóia. Às vezes, por medo mais do que justificado... Alguns não querem ir porque querem fumar e beber, ficar perto de seus cães, tomar conta das carroças... Ficar perto dos amigos e da família. Parece frescura? Então coloque-se no lugar deles. Fumar e beber são praticamente as únicas formas de prazer a seu alcance. Um prazer nocivo, é claro – mas se é difícil para um indivíduo “classe A” abandoná-lo, por que seria fácil para eles? E se você chega a um hotel para passar as férias e informam que você vai ficar em um prédio e sua namorada em outro, que suas coisas têm de ficar do lado de fora, o que você faria?

Não é fácil lidar com essa questão, que é muito complexa. Mas a última coisa capaz de resolvê-la é criar (ou deixar rolar) uma situação de confronto nas ruas. A administração precisa resolver essa sua esquizofrenia – enquanto investe em escritórios de inclusão, AMA para população de rua e outros programas dessa natureza, deixa o carro-pipa virar bicho-papão desse povo. Que já tem tanta dificuldade para confiar em quem quer que seja, e só fica mais arredio.

domingo, 27 de julho de 2008

Viagens de domingo de manhã

Ainda remoendo o "eu não voto em ninguém".

Em um mundo ideal (i.e., que não existe), sou anarquista.

Nada de Estado, de representantes eleitos, nomeados ou auto-proclamados! A coletividade se organiza conforme a necessidade.

Também não tem dinheiro – que sempre leva alguns (todos?) à tentação de acumular, ter mais que os outros, guardar para o futuro, reservar o suficiente para viver 100 vezes com fartura.

Só trocas. Seus tomates pelas minhas aulas de inglês. Sua música pelos pães que eu fiz em casa.

Mas neste mundo em que vivemos... Tem jeito?

Só se for para começar uma comunidade do zero, e isolá-la do resto.

(O modo Amish de viver também parece impossível, mas rola...)

***

Sexta fui à bicicletada, que tende à anarquia: não tem um responsável, um líder, um organizador. A polícia, por exemplo, tem a maior dificuldade em entender isso (queriam a todo custo prender o “chefe” da bicicletada pelada, e levaram o André Pasqualini, um dos bicicletantes mais conhecidos, pro Distrito Policial, concluindo que era ele).

É muito legal a experiência de participar de um grupo que não tem chefe. Tudo é votado: “Vamos para o Ibirapuera ou a Praça da Sé”?

Mas lideranças aparecem espontaneamente. Assim que percebem que as bicicletas estão ocupando todo o espaço da avenida (são centenas!), avisam: “Deixa duas faixas livres!” Ciclistas se entreolham: “Quais?”. “As da direita! A do ônibus e mais uma!”. Uns só escutam, mas outros tomam para si a tarefa de gritar. “Libera a direita! Junta todo mundo do lado esquerdo!”. Outros, além disso, se posicionam nos pontos em que deve ser o limite da massa e ficam sinalizando para os demais. Outros pedem para diminuir o barulho quando passamos por um hospital.

Ainda é um movimento coletivo, com responsabilidade dividida entre várias pessoas. Mas e na hora de um impasse do tipo “Vira nessa à direita ou na próxima?”. O caminho está resolvido: vamos descer a Vergueiro até o centro. Mas em que ponto fazemos a conversão?

A massa começa a procurar alguém que responda. Não dá para botar em votação: estamos pedalando! Quem decide? Alguém vira chefe na hora e diz: “Na praça à direita!”. Claro que não é um chefe absoluto, autoridade para todas as coisas. Mas é um ponto ascendente sobre os demais no momento em que a horizontalidade levaria ao impasse, a confusão ou à dispersão.

Os antropólogos, sociólogos e biólogos podem explicar essa nossa tendência ou necessidade de escolher alguém responsável por decisões em nosso nome – somos animais de matilha, como os cães, que identificam e respeitam um líder? Talvez.

***

Com explicações científicas ou não, é fácil entender por que os humanos desenvolveram sistemas políticos representativos, divisão de trabalho, atribuição de responsabilidades diferenciadas... Como as formigas, abelhas e cupins.


Em “colônias” numerosas como as que vivemos, se não houvesse Estado, governo, poder executivo, definidos como estão, nos depararíamos com duas situações: lideranças aparecendo e se afirmando naturalmente (parece bom, não? E se fosse uma liderança irresponsável, egóica, tirana?) ou verdadeiros vácuos de decisão, sem ninguém para tomar iniciativa.

Menos viagem, mais exemplos concretos: se São Paulo não tivesse governo, se tudo se resolvesse por ação direta, quem cuidaria do tratamento de esgoto? Garantiria a captação e produção da água que sai pelas torneiras? Quem faria a passarela para pedestres e ciclistas cruzarem a marginal?

No mundo ideal (i.e., que não existe...) as pessoas se uniriam em mutirão e construiriam uma passarela. Quem iria cortar a madeira, tecer as cordas, fundir o metal para fazer pregos, fabricar o verniz para proteger das intempéries? Garantir as telecomunicações (telefone, computador) para combinar a data? Fabricar a borracha dos pneus das bicicletas?

A “sociedade livre”? “Quem quiser fazer borracha, faz. Quem puder fabricar telefones e colocar o sinal no ar, que coloque”. Hmm... Já disse que esse papo me parece muito o da liberdade de mercado, que não me parece muito capaz de garantir justiça e igualdade não... É quando o anarquismo e o capitalismo se parecem demais. É o mundo da vitória dos mais fortes, dos mais capazes, dos mais espertos - ainda que não sejam honestos e justos.

No mundo real, sou a favor de Estado. De representantes eleitos, líderes que assumam a responsabilidade por determinadas tarefas em nome da coletividade. Com todos os defeitos que pode ter esse sistema, e não são poucos. (Um exemplo? Na democracia, os mais fortes são os que se organizam. Os desorganizados, ainda que sejam maioria, dançam. A massa invisível que não faz greve, não carrega faixas de protesto, não publica manifestos). Aperfeiçoemos, pois, o sistema.

sábado, 26 de julho de 2008

"Prefeita de onde?"

Algumas das frases que a gente escuta por aí, panfletando em campanha:

Eu: Oi, sou candidata a prefeita, estou aqui divulgando a candidatura...

"Prefeita de onde, de São Paulo?" (isto é, nunca ouviu falar em mim e não me achou muito com cara de prefeita)

“Prefeita daqui, de São Miguel?” (bom, parece tanto outra cidade, é tão longe do centro,da Paulista e Jardins, que podia mesmo ter prefeito próprio...)

“Eu não voto aqui em São Miguel, sou do Itaim Paulista” (candidato a vereador ouve isso ainda mais)

“Eu não voto aqui em São Paulo” (porque mora em Itaquaquecetuba ou porque veio de outro estado e nunca transferiu o título)

“Eu não voto em ninguém” (desnecessário explicar).

***

Ontem fui à Bicicletada. Provando, entre outras coisas, que não precisa ser atleta para se locomover de bicicleta por aí. Veja o meu caso: 40 anos (a um mês dos 41), sedentária (meu grande exercício é subir escada, porque não tenho saco pra esperar elevador), pedalo uma vez por semana e uma distância curta (casa-trabalho). Mas ontem eu fui da Câmara até a Praça do Ciclista na Paulista (subindo a Augusta), depois bicicletamos pela Haddock Lobo, Estados Unidos, Cristiano Viana; subimos a Teodoro, pegamos Doutor Arnaldo e Paulista, descemos a Vergueiro, Liberdade e fomos (uns cento e poucos, a essa altura) circular em volta do Marco Zero, felizes da vida, e tirar foto nas escadarias da catedral da Sé. Seguimos até o Largo São Bento, São João, Ipiranga e São Luis. Eu voltei pra Câmara e o pessoal subiu a Consolação; uma turma ia pegar um ônibus para participar da Bicicletada em Curitiba!

Eu estava tão bem, tão sem cansaço, que poderia ter pedalado mais uma hora numa boa (foram quase três). E acordei hoje sem um vestígio de dor.

quinta-feira, 24 de julho de 2008

Estrelas, botas, lixão, margarina...

Nem acredito que estou em casa a essa hora (20:40). Ouvindo o jogo do Palmeiras na TV – que está sem imagem há alguns dias. A empregada está de férias; minha mãe foi viajar; a filha mais velha, que me ajudaria a resolver esse e outros pepinos (às vezes ela dá dois tapas na televisão e a imagem volta), foi para a casa da avó para cuidar dos cachorros dela. Enquanto isso, a ração do meu acabou, as plantas estão morrendo de sede, já não há colheres limpas na gaveta e eu estou sempre atrasada para algum compromisso. O dia termina razoavelmente sossegado, mas a música-tema de hoje de manhã seria:



Nada assim tão dramático, mas o refrão dos Inocentes volta e meia me ocorre como trilha sonora...

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Hoje de manhã fui ao lançamento da Exposição Filhos do Brasil, no Ibirapuera. São fotos selecionadas em um concurso promovido pelo IDECACE (Instituto para o Desenvolvimento da Criança e do Adolescente pela Cultura e Esporte.), estão expostas em painéis muito grandes do lado de fora do Planetário, acompanhadas por frases de personalidades (como Paulo Freire e Betinho) e artigos do Estatuto da Criança e do Adolescente (que faz 18 anos) e a Declaração Universal dos Direitos Humanos (que faz 60).

Cheguei um pouco antes da cerimônia de abertura e aproveitei para sentar um pouco no sol, perto dos painéis, observando as fotos e fazendo anotações (mais um milhão de idéias surgidas enquanto eu estava na moto). Um momento de trabalho e ao mesmo tempo de sossego, no ambiente deliciosamente calmo do Parque àquela hora da manhã (9 e pouco). Olhando para a Declaração dos Direitos, pensei em como um direito singelo como aquele – parar, pensar, trabalhar em silêncio em lugar agradável – é absolutamente estranho a tanta gente.

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Se eu pudesse mexer na Declaração, alteraria o artigo 17: “1. Todo ser humano tem direito à propriedade, só ou em sociedade com outros”. Eu acrescentaria um “desde que”: “desde que essa propriedade não implique em danos a outros e prejuízos à coletividade”; “desde que a propriedade seja obtida legitimamente, sem agressão aos direitos dos demais”; “desde que o direito à propriedade não se sobreponha a outros direitos”...

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A abertura oficial foi dentro do Planetário, em cerimônia comovente.

Estive no Planetário três vezes: uma, para ver o espetáculo da projeção do céu da cidade, quando tinha 14 anos; outra, para participar de um debate no Dia Sem Automóvel do ano passado; e esta de hoje.

Um amigo que me acompanhou desta vez disse que estava tendo muitas lembranças da infância. “Muitas?”. Sim, o avô o tinha levado várias vezes. “Ele gostava de astronomia?”. “Não, gostava de agradar os netos!”. Sorriu, com saudade da infância e do avô.

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[Caramba, 4 a 2 no primeiro tempo! Que jogo é esse que não estou vendo!]

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Minha mãe e meu tio gostavam de astronomia. Ele chegou a comprar uma bela luneta, à qual acoplava uma câmera fotográfica e fazia fotos incríveis, reveladas no laboratório caseiro.

Em tempos de noites mais escuras e céus menos poluídos, subíamos ao terraço da casa da minha avó e minha mãe ficava apontando, a olho nu ou pelas lentes de aumento: “Nossa, como a Ursa Maior está visível hoje! Olha Andrômeda, que linda!” Eu olhava e não via ursa nenhuma, por mais que ela dissesse “ali a cabeça, ali o corpo...”. Só enxergava Cruzeiro do Sul e Três Marias; a Lua, Marte, Saturno...

Caraca, hoje em dia quem mora em São Paulo não tem a MENOR chance de ver um céu estrelado como aquele! Muito menos os que vi em Peruíbe (céu limpo, noite ainda mais escura), Ilha do Mel...

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A apresentação de hoje de manhã falava um pouco sobre isso: sobre o direito de ver um céu estrelado. E sobre a conexão que existe entre nós e as estrelas; a matéria de que somos feitos e as substâncias produzidas no seu interior. “Alguém pode se perguntar: o que eu tenho a ver com as estrelas? Tudo. Somos “filhos” delas, de certa maneira. E alguém pode pensar também que não tem nada a ver com as crianças na rua, maltratadas, em perigo. Mas temos tudo a ver com elas. Elas também são “filhas das estrelas”. Somos da mesma matéria. Somos todos filhos do Brasil”.

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A foto que ficou em primeiro lugar chama-se “Chute na infância”. Mostra um menino engraxando botas. O fotógrafo, Pedro Brandimarte, há muito tempo se envolve com crianças e adolescentes que vivem pelas ruas do centro, especialmente na Praça da Sé. E lembrou o comentário incrédulo que ouviu de um deles anos atrás, antes de entrar para conhecer um lugar de acolhida: “É verdade que aí dentro tem cotonete?”

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Lembrei da Esmeralda, autora de “Por que não dancei”, contando que imaginava que margarina era uma coisa do outro mundo, esplendidamente deliciosa, por causa dos comerciais que mostravam famílias felizes na TV. Vivendo na rua, dependente de crack, ficava deslumbrada com aquilo. No dia em que pôde comer margarina, foi uma decepção.

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Lembrei também de um poema da Elisa Lucinda, em que ela se desespera de pensar: o que fazem as meninas que vivem na rua quando menstruam?

Absorvente é que elas não têm.

É de doer mesmo. E a gente nem pensa nisso.

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O segundo lugar mostra os olhos de um menino do Vale do Jequitinhonha – uma espécie de monumento à vergonha (ou falta de vergonha) nacional. O terceiro, meninos no topo de um lixão.

No evento, um grupo de percussão (muito legal) cantou “eu/ sou brasileiro/ com muito orgulho/ com muito amor”... Sou, mas com muita aflição também. E fiquei com vontade de puxar um outro canto de arquibancada: “ahá/ uhu/ o lixão é nos-so”. Lixão é o fim da picada. O lixão é meu, é seu, é do prefeito, do governador, do presidente. Dos secretários, dos ministros. Das empresas. Como é que a gente pode tolerar lixão? Fingir que não existe, que tá tudo bem? E não empurra pra baixo do tapete, não: faz uma pilha enorme e deixa os pobres remexerem para pegar o que interessa, o que ainda tem valor.

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A exposição fica no Ibirapuera até 24 de agosto.

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Eu ia contar um pouco de cada um dos últimos 20 compromissos, mas hoje vou ficar por aqui.

Datena, PC, pesquisas, ET e caminhadas

Ai, que saudade eu estava do meu computador... Ou melhor, de UM computador, qualquer um. Passei a semana toda na rua para cima e para baixo. Este não é o meu – estou na redação da Bandeirantes, esperando para entrar no programa do Datena.

Pensei que ele não ia me convidar. Estou tão acostumada a não ser incluída em alguns programas... Em boa parte do tempo, é como se só houvesse três candidatos, no máximo quatro. Assim, pesquisas de intenção de voto acabam sendo o maior exemplo de profecia auto-realizável. Os que aparecem mais bem colocados – no mínimo, porque são mais conhecidos – são os que continuam aparecendo mais.

Tenho um texto começado sobre pesquisa; logo vou terminar e publicar. Muita gente já viu ET mas nunca respondeu a um pesquisador (em 22 anos de eleitora, ninguém nunca me perguntou “em quem você pretende votar?”; bom, também não vi ET...). Andando por aí, fazendo campanha, é difícil acreditar que uma em cada três pessoas (isto é, um pouco mais de 30%) esteja decidida a votar na Marta; outra (de cada trio) no Alckmin... A impressão que a gente tem é que a maioria não está decidida a nada. (Aliás, na pesquisa não estimulada, 34% das pessoas disseram que não sabem em quem votar ou não quiseram responder).

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Nos últimos dias, fiz três caminhadas de panfletagem. Uma na Praça Benedito Calixto (Pinheiros), outra em São Miguel e outra na Lapa. Em todos os lugares você encontra alguém que faz cara de nojo, não quer nem olhar na sua cara, quanto mais pegar um folheto. Mas a incidência de hostilidade e rejeição absoluta foi muito maior em Pinheiros do que nas ruas de comércio popular nos outros bairros. Na Benedito, uma mulher em uma das barracas de antigüidade não só não quis pegar o folheto (ok, ela pode não querer) mas disse que eu devia atravessar a rua e não pisar na calçada "dela". Não era nada pessoal, não. A bronca é com todos os políticos. Mas sobrou pra mim com uma violência, uma grosseria...

O pessoal de São Miguel provavelmente teria mais motivos para revolta, mas eles aceitam parar um segundo sua caminhada apressada, facilmente relaxam a expressão tensa e pegam um folheto. Acho que é até porque eles sabem como é tentar abordar alguém e ser mal tratado; como é viver de distribuir folheto, fazer propaganda corpo-a-corpo, tentar vender produto...

Vou entrar no ar. Depois eu termino

quarta-feira, 23 de julho de 2008

Em nome da isonomia

Tô meio sem tempo para escrever agora , mas não quero deixar de registrar o que me ocorreu enquanto eu vinha para cá (aliás, a quantidade de idéias que ocorrem quando eu estou no trânsito é incrível, quase insuportável – não dá para anotar nada quando se está de moto). Não é nada de mais; vou blogar para tirar da cabeça.

Com essa determinação de proibir quase tudo na internet a pretexto de garantir a isonomia entre os candidatos, é como se o tribunal eleitoral dissesse: “A partir de hoje, está proibido andar a pé. Quem quiser, que se desloque de carro. E veículo próprio – nada de pegar ônibus, carona...”

Na prática, é bem por aí. Aquilo que é barato ou grátis e acessível para qualquer um está vedado. Mas quem tiver grana para bancar uma página própria que suporte uma carga “pesada” (para, por exemplo, hospedar vídeos, em vez de deixá-los disponíveis no You Tube) pode fazer o que quiser.

Muito justo.

terça-feira, 22 de julho de 2008

A caminho da campanha secreta

Cada vez mais, o tribunal eleitoral entende que é feio fazer campanha, apresentar os candidatos, pedir voto...

Arrecadar recursos, então, é horroroso! Cruz-credo!

Queremos fazer uma campanha para a qual as pessoas possam contribuir voluntariamente, com qualquer valor – 5, dez, quinze ou vinte reais... Beleza. Mas receber doações é complicadíssimo. Tem de ter recibo preenchido por extenso com nome, RG, CPF, assinatura... “SPC do CIC”, como dizia o Renato Aragão.

Já que não pode distribuir brindes – entendo; é um jeito clássico de comprar voto (“te dou um boné pra você votar em mim”) – pensamos em vender camisetas, por exemplo. Teria uma dupla utilidade: arrecadar dinheiro e divulgar a candidatura.

Fomos lá consultar a regra. Que é clara... (Pra ver como clareza não é tudo!)

RESOLUÇÃO Nº 22.718, de 28/2/2008, que trata da Propaganda Eleitoral

Art. 12. É assegurado aos partidos políticos o direito de...

III – comercializar material de divulgação institucional, desde que não contenha nome e número de candidato, bem como cargo em disputa.

Incrível! Talvez a gente possa fazer algo do tipo “Fumar faz mal à saúde e causa dependência”; “Assista “O Homem que Virou Suco”, de João Batista de Andrade”; “Não perca o horário eleitoral gratuito” – sem bem que essa já é mais arriscada....

E se for assim, será que pode?

domingo, 20 de julho de 2008

"Você não foi...? Então vá, então vá" (Lenine)

Antes de qualquer outra coisa: não tem nada para fazer hoje? Ou no fim-de-semana que vem? Tem ao menos meio período livre? VÁ ao Festival de Inverno de Paranapiacaba. Tem gente que fica incomodada com esses imperativos dos cadernos de cultura: “Vá”, “veja”, “leia”, “fuja”. Azar. É imperativo mesmo!

Estive lá ontem. Não fazia muito tempo que tinha estado na vila, que desde 2002 pertence a Santo André. Na última visita, fiquei bem impressionada com a recuperação do lugar – a antepenúltima ida, muitos anos atrás, tinha sido deprimente, com tudo maltratado, caindo aos pedaços. Desta vez, fiquei com a impressão que houve novos progressos nos últimos meses (mesmo descontando o “trato” que deve ter havido especialmente para o festival). (Não posso deixar de dizer – ponto para a administração municipal, que é do PT. Quando ainda estava no partido, revoltada ou envergonhada com algumas de suas posturas, respirava aliviada ao ver ações que ainda eram motivo de orgulho).

As casas, museus e estabelecimentos comerciais estão bem conservados e sinalizados; as ruas, bem cuidadas. Estava uma tarde linda, fria e ensolarada; à noite, uma lua estupidamente bela. A neblina de Paranapiacaba é famosa, mas não deu o ar da graça neste fim-de-semana.

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A programação do festival é uma delícia. Fui com amigos (9) + uma filha (a caçula) para o show do Lenine, às cinco da tarde. Quase não consigo entrar – desde o meio-dia havia gente na fila para pegar ingressos (grátis). Muita gente ficou de fora; no fim, acho que todos conseguiram entrar (tomara! – apesar dos ingressos teoricamente esgotados, havia espaço de sobra para entrarem os que estavam na porta).

(Pensei que tínhamos perdido o show da Marina de La Riva por estarmos atrasados; depois soubemos que ele foi cancelado, não cheguei a saber por quê).

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Chegar a Paranapiacaba é muito fácil: Anchieta até a Billings, aí é só seguir as placas. Só tem um probleminha: a primeira vez em que aparece o nome “Paranapiacaba” aparece em uma placa é quando você já saiu da Anchieta e está prestes a passar por baixo da estrada. Antes disso, nada. Nenhuma referência. Aparecem São Bernardo, Rudge Ramos, Diadema, Taboão, Santo André, Riacho Grande, Santos, tudo – menos Paranapiacaba, que é uma super atração turística (ê, Brasil...). Então às vezes você fica na dúvida – “fico na pista externa ou interna da Anchieta?”. Eu mudei duas vezes à toa... No fim, tanto faz. São 21 km de Anchieta (vi agora no Google Maps).

(Olhando no jornal do Festival, achei outra explicação de como chegar: “Anchieta até km 29 (placa para Ribeirão Pires), entrar na SP 148 (Estrada Velha de Santos) até o km 33 e pegar a Rodovia Índio Tibiriçá (SP 31) até o km 45,5. Daí pegar a SP 122 até Paranapiacaba”. Mas, como eu disse, depois de sair da Anchieta tem placa. O problema é a volta: chega uma hora em que não há nenhum sinal indicando “São Paulo”. Você tem de escolher, sei lá, entre “São Bernardo” e “Ribeirão Pires”. Da outra vez, escolhi errado e fui por dentro das cidades, em vez de pegar a Anchieta – e só por causa desse vacilo anterior fiz o caminho certo desta vez).

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Também dá para ir de trem da Luz até Rio Grande da Serra e pegar um ônibus até a Vila de Paranapiacaba – de meia em meia hora nos fins-de-semana.

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Chegando de carro, há um bolsão de estacionamento (R$10,00) e um ônibus para translado até a vila. Tudo muito bem orientado, organizado e ágil. Aliás, uma das bênçãos do lugar é o fato de carros não circularem livremente por ali. São ladeiras muito íngremes de paralelepípedo, casas muito antigas, ruas estreitas. Carros destruiriam a paisagem.

O trem que é a razão de ser da vila (ela foi criada para abrigar funcionários da São Paulo Railway) foi abandonado anos atrás. Fiquei sabendo lá, pela Subprefeita, que será reativada uma linha turística ainda este ano, operada pela CPTM. Aleluia.

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Além dos shows “grandes” no Espaço Viradouro, como o do Lenine (hoje tem Zeca Baleiro às 18:00), há uma série de outros palcos e espaços com apresentações musicais, teatro, cinema, dança, etc. À noite, antes de virmos embora (queria ter ficado para o show “Agô – Cantos Sagrados Brasil e Cuba”, com Sapopemba (brasileiros), Liena Centeno (cubana) e os Heartbreakers, mas não agüentei o cansaço) comemos sopa no pão italiano (a minha, de batata, estava divina) ouvindo a apresentação da Mariane Mattoso e grupo Zambelô no Palco do Mercado (divina também).

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Resumindo: vai lá, vai? De carro ou de trem, de bicicleta se for atleta, de dia ou à noite... Leve dinheiro trocado (não tem caixa eletrônico e nem todo lugar aceita cheque ou cartão), leve a fome e os amigos, traga fotos, folhetos e peças de artesanato. Com tempo, percorra as trilhas e visite os museus. Duvido que você não goste do passeio por esse lugar que já é tombado como patrimônio histórico, cultural e ambiental do município, do estado e do país (os Conselhos de Patrimônio das três esferas assim o reconhecem) e agora aspira ao reconhecimento, pela Unesco, de que é patrimônio da humanidade.

O Festival termina no fim-de-semana que vem. No sábado tem Otto; no domingo, Scott Henderson Trio. Precisa retirar ingressos com no máximo duas horas de antecedência. Mas acredite em mim: se não der para entrar e ver esses shows, você não vai perder a viagem (porque há muitas outras coisas para ver e fazer – nem que seja só subir e descer ladeira, sentar ao sol, ficar olhando o movimento). Não esqueça a máquina fotográfica com bateria e memória suficiente e um agasalho – mesmo com sol, faz um friozinho bom.

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Se eu não fiz campanha? Não muita. Distribuí uns poucos folhetos (acabaram logo), e quando alguém dizia: “Soninha? Votei em você!”, eu respondia: “Ôba, obrigada, não quer votar de novo?” :o)

quinta-feira, 17 de julho de 2008

"Cuidado!"

Eu ia para o debate no Ig logo mais (15:00) de moto. Na maioria das situações, esse é o jeito mais rápido de chegar a qualquer lugar em São Paulo.

(Quando não é? De madrugada nas Marginais - eu não ando a 90 por hora de moto, mas de carro sim. Em alguns trajetos e horários o metrô é melhor. Idem para ônibus. A 9 de julho, por exemplo, é tão apertada que o congestionamento pega as motos também. E em algumas situações até bicicleta é mais rápido - eu de moto já perdi uma corrida intermodal para elas em setembro do ano passado).

Enfim, eu ia de moto, até um amigo mandar um email avisando: "Tem estacionamento de bicicleta no prédio do Ig...". Captei a mensagem e topei. "Mas como eu chego lá? 9 de julho não dá". Ele respondeu da melhor maneira possível: traçando uma rota no Bikely, um site sensacional, que "ajuda ciclistas a compartilhar o conhecimento de boas rotas de bicicletas". "Fiz o percurso com as menores subidas e evitando as grandes avenidas. Nesse roteiro há grande fluxo de veículos (onde não há, nessa região?), mas baixas velocidades", avisou. Ele assinalou o trajeto no mapa, que pode ser visto mais de perto ou de longe, e explicou o caminho passo a passo, com comentários como estes:

"Cuidado nessa esquina, muitos carros viram à direita. Ocupe a faixa toda, mantendo-se distante da calçada, e sinalize para que os carros que vêm de trás esperem você passar. Ou pare na esquina, espere o sinal fechar e saia quando ele abrir".

"Cuidado nesse cruzamento, havia uma rotatória aqui mas ela foi sepultada pelo recapeamento"

"Cuidado nessa esquina: à vezes os carros que vêm da direita precisam ir se enfiando para conseguir cruzar e você terá que desviar deles, mas os que vêm atrás de você podem não prever seu movimento de desvio. Sinalize sempre e tenha certeza que vão parar para você..."

(Sintomático que os três comecem com "cuidado"!)

"Dê um sorriso para a Praça do Ciclista e continue até a esquina"

"Vamos pegar um trecho da Augusta. Ocupe a faixa e não passe muito perto dos carros estacionados, que podem abrir a porta de repente".

Daqui a pouco eu vou (esse, na verdade, é o trajeto da volta). Depois, como sempre, eu conto como foi.

Quarta-feira: tricô, semáforos e reciclagem

Tricô, semáforos e reciclagem

Quando alguém me pergunta o que eu gosto de fazer, tenho uma lista enorme de coisas: ler, escrever, ouvir música, dançar, comer, ir ao estádio, jogar bola, ficar em casa com as filhas, ver seriados na TV, tirar e ver fotos, andar, andar de bicicleta, viajar... Não digo nunca uma que eu adoro, da qual eu só lembro no momento em que acontece: aprender. É um prazer imenso.

Aprender um idioma, um passo de dança, uma música no violão, um atalho no Word, um recurso no Google Maps... Um caminho novo, um origami, tricô e crochê. Ou por que embrulhar frutas em jornal ajuda a amadurecer (minha filha bióloga explicou). Adoro.

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Esta semana, já passei por essa sensação uma dezena de vezes. Em uma reunião de duas horas com representantes de funcionários da CET, que estão procurando todos os candidatos à prefeitura para expor suas sugestões, reivindicações e reclamações sobre o trânsito e a companhia, aprendi uma porrada de coisas. Foram eles que me explicaram a diferença entre semáforos inteligentes e eletrônicos; as indicações, vantagens e desvantagens entre um e outro. Bobagem? Acho não. Até outro dia, eu saía que nem uma papagaia (e que nem todo mundo) dizendo “precisa haver semáforos inteligentes na cidade toda!”. Tem lugares em que os eletrônicos são muito mais adequados. E mais baratos. Não foi só isso; eles me esclareceram uma porção de outras dúvidas (e despertaram outras, para as quais também não tinham resposta mas ficaram de procurar).

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Hoje (quarta-feira, dia 16) estive no Cempre – Compromisso Empresarial pela Reciclagem, ONG que me socorria muitas vezes quando eu ainda trabalhava na MTV e usava o site deles para buscar informações (sobre o volume da produção de resíduos/ dia em São Paulo, por exemplo, ou sobre os lugares que recebiam ou compravam material reciclável). Eles ainda oferecem socorro para prefeituras, empresas, cooperativas, condomínios, acadêmicos e demais interessados no assunto reciclagem.

Com eles, fui até a sede da Reciclázaro no Butantã. O trabalho da Reciclázaro, que é em várias frentes, eu conheço faz tempo – tanto vi nos meios de comunicação quanto fiz reportagens sobre eles. São muito bons. Acabaram de ser aprovados em um edital da Petrobrás – que recebeu inscrições de 6 mil projetos pelo Brasil todo, para aprovar pouco mais de 70 – e vão obter recursos para reformar o galpão onde fazem triagem de material reciclável. O projeto é demais: vão captar água da chuva, tratar o esgoto deles e da igreja ao lado em um biodigestor que vai gerar gás para a cozinha, aquecer água dos chuveiros com energia solar... E continuar separando centenas de toneladas de material reciclável todo mês.

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Conheço muito sobre esse assunto, estudo e discuto há muito tempo, tento interferir nos rumos da coleta seletiva como vereadora (em mil debates, reuniões, audiências públicas, ofícios, requerimentos, emails, etc.) , e ainda assim saí de lá – e da Coopamare, que eu conheço há mais tempo ainda – com informações novas e muito interessantes.

Por exemplo: eu já sabia que uma das cooperativas instaladas na antiga Usina de Compostagem da Leopoldina (e futuro Parque Orlando Vilas-Boas, sabe deus quando) vende isopor (que muita gente ainda pensa que não é reciclável) para uma fábrica de Santa Catarina. Mas eu não sabia que as cooperativas trabalham em rede para aumentar o volume de materiais como esse, mais difíceis de comercializar se não houver uma boa quantidade.

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As Cooperativas enfrentam, nos últimos anos, problemas muito persistentes de incerteza jurídica, institucional e financeira. Os contratos de convênio com a prefeitura expiraram e ainda não foram renovados; muitas estão instaladas em áreas provisórias e convivem com a ameaça permanente de desalojamento; há a concorrência com os serviços de “morcegão”, que “roubam” resíduos em coletas irregulares e “atravessam” a venda; a incompreensão e intolerância de vizinhos das centrais; a perseguição de Subprefeituras, GCMs ou PMs a catadores; a cobrança pela retirada do rejeito (o que sobra depois da triagem) como se eles fossem “grandes geradores” (eles não GERAM aquele lixo; aliás, eles DIMINUEM a geração de lixo!).

Como se não bastasse, há um problema novo. Estamos tentando interceder pelas Cooperativas junto à prefeitura por causa do rodízio de caminhões. Impedidos de rodar dia sim-dia não em horário comercial, não conseguem recolher material reciclável de escolas, empresas e condomínios – e, por causa do barulho ou da falta de funcionários, não podem retirar o material depois das 9 da noite. Como o material vai se acumulando, o pessoal acaba entregando para o caminhão de lixo – assim, o que seria reciclado vai parar mesmo no aterro sanitário, e os cooperados vêem sua renda diminuir imediatamente. Desmotivadas, as pessoas podem acabar desistindo de separar o material (“vai misturar tudo mesmo”) e lá se vai um enorme esforço de conscientização e fidelização por água abaixo.

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Pedi atenção e providências ao gabinete do prefeito. Fiquei sabendo que o Secretário de Transportes dava o problema como resolvido, porque os caminhões de lixo foram liberados do rodízio.

Acontece que os agentes da CET, imbuídos da mais profunda consciência ambiental, entenderam que caminhão de lixo é uma coisa, caminhão da coleta seletiva é outra. E eles têm razão, ó pá. Material reciclável não é lixo! É uma vitória que as pessoas pensem assim.

Acontece que a natureza do serviço é muito semelhante: é coleta de resíduos, tanto quanto a outra. E do ponto de vista de trânsito os dois merecem, sim, o mesmo tratamento, porque são serviços fundamentais.

Supliquei ao Secretário que resolva isso. Ou muda a palavra “lixo” para “resíduos”, ou deixa bem claro pra CET que os 200 caminhões – devidamente registrados junto à Limpurb, insignificantes numericamente em uma cidade desse tamanho – podem botar o nariz pra fora dia sim, outro também.

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O que mais teve no dia?

Entrevista por telefone para a Band AM (dessa vez, sobre o tema “corrupção de fiscais”); comentário por telefone para Folha Online sobre a ação contra a candidatura do Maluf; entrevista por email para o Estadão; discussão por email sobre materiais da campanha; discussão no gabinete sobre problemas na Baixada do Glicério e questões ligadas aos programas da Secretaria de Assistência e Desenvolvimento Social... Reunião na quadra da Escola de Samba Unidos do Peruche... Futebol (belo jogo), blogs e emails. E eu devo estar esquecendo alguma coisa. E amanhã tem mais, tem muito mais.

quarta-feira, 16 de julho de 2008

Diário de domingo (na quarta, fazer o quê?)

Fiquei feliz quando vi, na agenda de campanha no domingo, que o compromisso seria na festa Tanabata Matsuri, na Liberdade. Adoro a história do encontro anual das estrelas: já fui muitas vezes lá pendurar nas árvores meus pedidos por paz, saúde, amor, prosperidade. E passear na feirinha do bairro japonês (e chinês, coreano...) é gostoso em qualquer domingo.


(Normalmente meus pedidos são vagos, abrangentes – “Que todos os amores sejam recíprocos” (santo otimismo). Mas já fiz um pedido bem específico e ele foi atendido com perfeição. Estava duríssima, como fui quase sempre, e queria um determinado emprego, que me pagaria muito melhor e daria um alívio nas contas. Ele veio, no mesmo ano. Esse pedido foi em 94 – alguém aí sabe dizer qual foi o emprego?)

Neste ano do centenário da imigração japonesa, dizem os organizadores, o movimento tem sido maior toda semana. Fomos até lá na hora do almoço, para pegar as ruas cheias. Boa idéia? Mais ou menos. Não dava para andar na praça... Quando chegamos à esquina da Galvão Bueno com a Rua dos Estudantes, finalmente deu para parar e conversar com algumas pessoas.

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Antes de chegar ali, eu também parei e conversei – com donos das bancas, para comprar algumas coisinhas, como ímãs e outros enfeites. Uma assessora minha brincou: “O pessoal do partido vai ter que aprender a fazer campanha com mulher” – é a segunda vez que eu vou a uma feirinha “a trabalho” e paro a cada cinco metros para dizer “Aaaah, olha que bonitinho! Quanto é?”

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Na esquina citada acima, fui abordada por um voluntário da WWF, que não precisou me explicar o que é a entidade (claro que eu conheço) para me convencer a assinar uma ficha de filiação. “Quanto é [a contribuição que preciso me comprometer a fazer]?”. “R$20,00 por mês”, com possibilidade de pagar no cartão. Topei na hora. Aliás, escolhi o valor de R$30,00 – irrecusável.

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Nesse mesmo lugar, uma pessoa veio falar sobre a Lei Seca: “O que você acha?”. “Me parece que o limite e a pena são meio exagerados, mas beber e dirigir não rola mesmo”. “Eu também acho, mas quem quer beber e não quer dirigir...”. Logo vi onde ele ia chegar, e era lá mesmo: “...não tem opção”. Sim, porque é fácil dizer “pega um táxi”, mas com essa tarifa? (Caríssima em São Paulo - mais ainda de madrugada, na bandeira 2). E o transporte coletivo em São Paulo depois da meia-noite é de chorar. Precisa melhorar muito.

Já tentei negociar com a Secretaria Estadual de Transportes (talvez “implorar” fosse um termo mais adequado) para que o metrô funcionasse de madrugada. Eles me explicaram que precisam da noite para tarefas de manutenção – especialmente da linha mais antiga, a norte-sul, que podia (devia) ter recebido mais investimentos nos últimos anos, para não ficar tão antiquada e necessitada de reparos... Para se ter uma idéia, o metrô precisa até fabricar algumas peças de reposição, simplesmente porque elas estão fora do mercado. Não tem onde comprar. O certo era (é) modernizar, tanto quanto possível – mas não dá para fazer tudo ao mesmo tempo, e nesse quesito a CPTM (incomparavelmente mais deteriorada, especialmente a Linha F) precisa de investimentos mais urgentes.

Mas consegui um pequeno avanço: no sábado, o serviço foi estendido em uma hora, e o último metrô sai de cada extremidade da linha à uma da manhã, e não mais à meia-noite. Já é alguma coisa. Dá pra pegar a sessão das dez no cinema... Sem falar no alívio, pelo menos nesse dia, para quem larga o serviço à meia-noite.

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Mais adiante, encontrei o Ivan Valente, candidato pelo PSOL. Queixamo-nos juntos do desinteresse pelo debate dos candidatos “favoritos” – aqueles que, quando estão abaixo dos favoritos, reclamam deles por não irem aos debates...

Ontem teria tido debate no Estadão. Como Marta e Alckmin não puderam ou não quiseram ir, o Estadão cancelou. Ou seja: além de não participar, ainda inviabilizam! (Claro que o jornal podia não ter cancelado...).

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À noite, estive no encerramento do 3º Festival de Cinema Latino-Americano no Memorial da América Latina. Auditório enorme e praticamente lotado. A programação era ótima, eu adoraria ter passado a semana toda vendo os filmes.

Nesse último dia, houve a entrega dos prêmios (entre elas, o de melhor filme segundo o júri popular para “Jogo de Cena”, do Eduardo Coutinho, o melhor filme do festival – (ainda) não vi e (já) gostei :o)) e homenagem ao Fernando Solanas, terminando com a exibição de “Tangos, Exílio de Gardel”, filme dele de 1985.

Também não posso reclamar desse “evento de campanha” – o vice da nossa chapa, o cineasta João Batista de Andrade, foi o criador e é curador do festival. Não fui lá pedir votos, mas sou candidata onde quer que eu vá... Encontrei alguns poucos conhecidos de antigamente, dos meus tempos de estudante de cinema na ECA-USP – esperava encontrar mais. E só não foi um programa mais legal porque o ar-condicionado da sala de exibição estava violentamente forte e eu estava com sono e dor-de-cabeça... Mesmo assim, gostei.

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No dia da convenção do partido, quando confirmamos nossa chapa para a eleição municipal (candidata a prefeita + vice + candidatos à Câmara), o João Batista fez um discurso em que lembrou a participação de um filme equatoriano na segunda edição do Festival. Que tan lejos, de Tania Hermida, venceu, na ocasião, o prêmio de melhor filme no júri popular. Os cineastas do Equador tomaram para si o grito das arquibancadas do futebol – “Si, se puede”, brandido na vitória de sua seleção sobre o Brasil nas Eliminatórias da Copa de 2002.

“Si, se puede”, de fato – os equatorianos venceram a Libertadores 2008... “Yes, we can”, dizem os partidários de Barack Obama, que emplacou a candidatura dos Democratas à presidência (e quem imaginaria isso um ano atrás?)

Si, se puede... Quem disse que não pode? :o)

segunda-feira, 14 de julho de 2008

Querido Diário - Sexta e Sábado

Eu ia escrever à mão: “Ainda bem que o computador estava desligado quando eu cheguei em casa ontem (ou melhor, hoje), porque tinha tantas coisas na cabeça que ia acabar blogando na mesma hora”.

Não resisti: liguei o computador.

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O parêntesis ali em cima me lembra algumas das gracinhas mais velhas e bobas da humanidade, como dizer “Tchau, agora a gente só se vê no ano que vem!” no dia 31 de dezembro. E criança, quando passa da meia-noite, adora fazer graça: “Até amanhã. Quer dizer, até hoje”. (Ou será que era só eu?). Enfim, cheguei depois da meia-noite, foi isso.

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Na sexta-feira passei por uma provação. O título do post seria “querem me enlouquecer”. Eu tinha um compromisso às 19:00 em uma associação comunitária (União Social Jardim Santana - uma graça, aliás) em Itaquera. Pra facilitar minha vida, arrumaram um motorista e um carro emprestado para ir até lá. Péééssima idéia – ir de carro no sentido centro-leste no fim da tarde de sexta! Da rua Augusta até lá levamos bem uns 80 minutos. De metrô, teria demorado o que, 25? Não é o melhor horário do mundo para pegar metrô – aliás, é um dos piores. Mesmo assim, eu preferiria mil vezes.

Mas tem gente – muita gente – que insiste, acredita em carro como o meio mais confortável, mesmo que seja para ficar um tempão parada dentro dele. A única coisa que eu realmente gosto e sinto falta na moto é de rádio (no metrô, dá para ouvir MP3). Mas, enfim, eu ia com duas pessoas, estávamos cheios de bagagem, então aceitei a carona. Depois de aproveitar os primeiros 15 minutos para resolver algumas coisas por telefone, resolvi ligar o computador para tirar o atraso. Também não passei de 15 minutos – fiquei enjoada e desisti.

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Se eu fizesse uma galeria de fotos dos lugares em que tenho trabalhado no computador nos últimos tempos, ficaria divertido. Sexta à noite foi (dentro do carro) na Marginal Tietê; na segunda-feira, em uma Lan House na Augusta e, na terça, em uma copiadora atrás da PUC. Adorei os dois últimos lugares – concentração absoluta e alto rendimento a R$2,50 a hora.

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O pessoal reunido na associação em Itaquera tinha uma característica marcante: os olhares mais doces que eu já vi ao mesmo tempo em um lugar só. Não sei qual é o segredo, mas eram pessoas que sorriam de um jeito meio triste, muito humilde... Mereciam um livro de retratos em preto-e-branco, daqueles que comovem em qualquer lugar do mundo.

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Depois fomos até uma igreja Batista ali perto, pequena e muito arrumadinha, que estava comemorando um ano de existência. Havia no culto uma banda e um cantor que mandavam muito bem. E as pessoas se entregam com um amor que é tocante. Música é uma coisa de louco – na missa católica, no culto evangélico, no candomblé... Os corais de spirituals nos Estados Unidos... Incrível como mexe com as pessoas. Eu lembro de músicas que a gente cantava nas missas de Dia das Mães no Colégio que arrepiam até hoje. Lindas, lindas.

Tenho uma filha evangélica, mas nunca estive na igreja que ela freqüenta. Sei que ela também ama esse negócio, dedica muitas horas por semana ao trabalho voluntário, cultos, vigílias... É muito importante na vida dela. Quando eu vou a encontros desse tipo, sempre penso nela, nas músicas que ela sabe de cor, nas pregações que escuta... É curioso.

Bom, curioso para ela deve ser me imaginar rezando em tibetano em um templo budista, e pra mim é muito natural.

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Cheguei em casa cansada mas sem sono, e peguei o começo de um filme na TV Cultura: “Perdas e Danos”, com Juliette Binoche (que uma amiga de faculdade, a Stella, chamava de “Juliette Brioche”, porque ela parece um biscoitinho de tão linda) e Jeremy Irons. Um filme angustiante, pesado, perturbador, que indica desde a primeira cena que vai terminar mal. Assisti até o primeiro intervalo e desliguei. (Primeiro a TV e depois eu; às vezes eu desligo primeiro).

Na manhã seguinte, fomos à Pedreira, Zona Sul de São Paulo. Que devia chamar “Zonas Suis”, de tão grande que é, e tão variada. Imagine, Ipiranga é Zona Sul. Fica a dezenas de quilômetros de Socorro, Grajaú, Parelheiros, Marsilac...

Achei a Pedreira uma graça. Claro, quem conheceu o lugar vinte anos atrás e volta a ele agora deve ficar horrorizado com seu crescimento (eu fico assim no Tremembé), mas já me acostumei a ver lugares de São Paulo tão detonados, tão estrangulados por construções amontoadas, que fiquei surpresa de ver um lugar até que espaçado, tranqüilo, com um uma quantidade razoável de verde à vista.

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À tarde, reunião no partido para trabalhar no programa de governo. Parecia um estacionamento de notebooks.

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À noite fui a um sarau em um bar de rock no Capão Redondo. Sarau é um barato, e naquele pedaço da cidade tem vários. Quem começou essa história de sarau foi o Sergio Vaz, poeta, que ainda na época da MTV eu conheci como o coração da Cooperifa. Ele sempre foi de sonhar alto e longe, mas é possível que nem ele esperasse que poesia fosse se tornar algo tão forte na quebrada... O Bar do Zé Batidão ferve nas quartas de sarau da Cooperifa. No dia 15 tem sarau na Casa de Cultura de Santo Amaro (João Dias, 800). E na Fundação Cafu todo último sábado do mês.

No sarau você vê um serralheiro (petista, ele me disse) que tem um caderno com 60 poesias – muito, muito boas! A namorada do “Pastel”, dono do bar, lê um poema do Sidnei (será que é assim que escreve?), que é tímido demais para ir ao microfone, mas também escreve muito bem. Ouve a música de protesto de um professor de biologia da rede estadual. Depois, um rock que deixaria o Eddie Vedder orgulhoso. Vê a leitura de poemas do Drummond, a recitação de Cecília Meirelles e Neruda, letras de música do Lulu Santos (“Eu vejo a vida melhor no futuro...”) e do Chico César (“Amplidão”, que a Elba canta). Declarações de amor e reflexões sobre o Brasil. Comendo pastel e tomando refrigerante (eu) ou cerveja (quase todo mundo).

Eu li a letra que fiz para a música-tema da campanha. Não é nenhum primor de poesia (meu negócio é prosa...) mas eu acredito em cada palavra.

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Antes de ir embora, falei sobre a candidatura. Contei o “sermão” que um amigo fez no meu casamento (um dia eu conto aqui também) e fiz uma paródia da fala dele: “Estamos aqui reunidos no movimento mudar-o-mundo” (a versão dele foi “Estamos aqui reunidos no movimento fazer-feliz-um-ao-outro”). Junto comigo, como nos outros eventos, havia um candidato a vereador pelo PPS. Estava indo tudo muito bem, o pessoal ouviu com atenção e simpatia, até que um rapaz na calçada gritou, como quem fizesse um brinde: “Viva a participação popular”. Eu disse “é isso aí”, mas ele retrucou: “Você não entendeu. Eu não estou concordando com o que você está dizendo”.

Anarquista, e não concorda com a idéia de democracia representativa. Defende a organização e participação direta da população.

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Eu vejo um milhão de problemas na democracia representativa... Precisamos reformar e aperfeiçoar o sistema (especialmente o nosso, que é cheio de distorções) e garantir muitas maneiras de participação e controle popular. Mas no modelo de sociedade que temos hoje, não vejo jeito de ter outro sistema. Há muito que intermediar, muitos interesses conflitantes, muitas necessidades coletivas gigantes... Imagine a coleta de lixo sem governo. Com a prefeitura controlando já rola uma lei da selva...

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A conversa virou um debate ali mesmo – na boa – dei um exemplo hipotético. “Precisa de uma linha de ônibus entre Pirituba e Vila Nova Cachoeirinha. Não tem governo. Como faz?” “Alguém vai lá e cria a linha”. E se ninguém criar? E se muitos criarem e virar uma “guerra” por passageiros? E se criarem e cobrarem muito caro, e depois cancelarem por falta de lucratividade? Perguntei qual era a diferença entre isso e o livre-mercado... Defendi o papel do Estado – para arrecadar e investir, redistribuir, prover, organizar, garantir, controlar.

Ele não concordou não, mas conseguimos discutir civilizadamente, no ambiente acalorado do Bar do Rock.

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Depois ainda deu tempo de ir ao aniversário do amigo do irmão de uma amiga... Sério, eu não sabia de quem era o aniversário, mas queria encontrar minha amiga, que mora no Rio e estaria aqui para a festa. Um lugar muito legal, uma casa com um dos cachorros mais pacíficos que eu já vi, que passeava na pista de dança molemente, indiferente a tudo, como se estivesse sozinho em um lugar vazio. Simpaticão, adorável. Depois eu soube que ele é que o dono do lugar, e deixa a gente usar.

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A semana terminou (bom, ainda não terminou) com saldo positivo no item CDs: o fotógrafo das fotos de divulgação me deu um CD do Kings of Convenience, que eu ouvi na casa dele e adorei; saí do sarau com um disco do Máxima Culpa, “Denúncias e Questionamentos”, um demo acústico do trabalho do Anjos JPM (Jovens Para Morrer); uma coletânea da Umdasul, “Us Qui São Representa”, com produção executiva do Ferréz (outro “culpado” pela paixão pelas letras na quebrada)... Ainda ganhei uma camiseta Umdasul e um adesivo. E não me deixaram pagar o pastel no sarau (“cortesia da casa”). (Xi, será que o TRE vai considerar “doação não contabilizada”?)

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Cheguei em casa e o meu cachorro não estava; para não ficar o tempo todo sozinho, foi passar o fim-de-semana na casa da “avó”. Senti a maior falta... Lembrei do Zé Presidente (o cachorro da festa de aniversário) e pensei que devia haver uma política pública assim: cachorro para pessoas sozinhas!

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Queria tanto acordar às seis pra ver o vôlei... Falô.

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A idéia do “cachorro para pessoas sozinhas” é um pouco fantasiosa – se bem que eu acho mesmo que ia fazer super bem para idosos, crianças abrigadas, adolescente... Mas outras idéias de políticas públicas que me ocorrem são mais concretas.

A linha de trem ao lado da Marginal Pinheiros, por exemplo, é ladeada por grades e não muros. Será que a gente não podia fazer isso também em outros lugares da cidade, que ficam feios e isolados com muros quilométricos?

Na Marginal Tietê, havia meninos atravessando a pista correndo, no sentido margem-rio, com livros e cadernos debaixo do braço – claramente, indo ou voltando da escola. Para onde iam?

Naquele pedaço, há um duto da Sabesp com uma escadinha de trabalho. Provavelmente, atravessariam o rio por ali, e depois cruzariam as outras pistas correndo também. Loucura!

Mas olhe em volta. Cadê o caminho para os pedestres? Andar pela beira da Marginal até a ponte, cruzar as alças de acesso, se espremer na calçada estreita e insegura... É ruim também, e muito, mas muito mais longo.

Há muitos anos a gente encurta caminho para os carros e encomprida para os pedestres.

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Como se vê, eu liguei o computador à uma da manhã – mas não a conexão com a internet. Escrevi e não publiquei... Agora vai.

Fico devendo umas fotos.

Ver o lado bom... E criticar se for o caso :oP

Eu já disse muitas vezes que não vou fazer campanha eleitoral dizendo que “os outros candidatos são todos uns bobões, não sabem nada e só fazem tudo errado; eu, em compensação, sei tudo”. Que é mais ou menos como se faz normalmente, não?

Isso não é uma “estratégia”, como escreveram outro dia em um jornal. É uma crença. Eu não acho que os outros “não sabem nada” e “nunca fizeram nada que prestasse”. Só acho que eu sei muito mais do que eles :o)) .

Olha, é brincadeira, mas eu realmente sei mais do que eles em vários temas. Porque tenho mais interesse, mais curiosidade, mais vontade de aprender. Porque gosto de coisas que eles não gostam; dou importância para temas para os quais eles não dão muita bola – porque são coisas que “não dão voto”, por exemplo (tipo “mudanças climáticas”, que não estão na capa dos jornais e nas manchetes do rádio como os congestionamentos) - ou pior, podem “tirar voto”. Porque participei de mais palestras, seminários, cursos e debates nos últimos anos que todos eles juntos! Porque adoro ouvir as pessoas que sabem de coisas que eu não sei. Porque tenho uma vida que os quatro à minha frente não têm; passo cotidianamente por experiências que são comuns para milhões de pessoas e extraordinárias para eles, tipo pegar ônibus.

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Em todo caso, não é mesmo uma estratégia, é a renúncia a uma estratégia (de golpear o fígado do adversário, atacando seus defeitos, dizendo o que as pessoas querem ouvir...). Afinal, é fácil meter o pau na Saúde, por exemplo, que melhora ano a ano mas continua muito ruim... Difícil é responder como fazer para que mais médicos queiram trabalhar na periferia, sejam todos gentis e responsáveis, compareçam sempre ao trabalho com pontualidade... E conseguir fazer isso. É impossível? Não. Tem de ser feito? Tem. Mas dizer “eu tenho a solução e daqui a 4 anos vocês vão ver” – ou, pior ainda, “no meu governo não tinha nada disso” -- é mentira.

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Mas isso não quer dizer que eu tenha feito uma promessa de não criticar os adversários, oras bolas. Porque agora, quando eu critico o Maluf, por exemplo, por querer gastar bilhões tapando o Tietê com concreto e asfalto pra passar mais carro ali, alguém reclama: “Peraí, você disse que não ia falar mal dos outros!”. Se critico a Marta por dizer que o projeto do metrô foi feito pelo Ministério do Turismo, vem alguém: “TÁ VENDO?! Ex-petista ressentida, só entrou na disputa para tirar voto dela”. Se critico o Alckmin porque a educação piorou horrores no governo dele, o Kassab porque resolveu disciplinar o tráfego de caminhões mas não quer nem saber de mexer com os automóveis, lá vem alguém dizer “Eu sabia! Uma vez petista, sempre petista!”.

Nã-ni-na. Reconhecer o que eles fizeram de bom é diferente de SÓ falar o que eles têm de bom!

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Esta longa digressão vem a propósito de um comentário que eu não vou conseguir deixar de fazer, mesmo que me custe uma rodada de xingamentos petistas. Eu agüento. (E tenho certeza que alguns petistas hão de concordar comigo).

Entrei ontem no site da candidatura da Marta – muito bonito, como era de se esperar. O PT já tem alguma “tradição” em internet e sempre primou pelo cuidado com a comunicação visual, desde o querido Carlito Maia. Mas o conteúdo, ai ai ai...

Eu fico aflita às vezes com o nosso “atraso” em sistematizar e colocar logo no ar o programa de governo – que estamos fazendo desde outubro do ano passado, pouco depois de o PPS decidir que iria ter candidat@ na eleição deste ano. Muitas coisas já estão sendo publicadas nesse tempo todo; o Projeto SP traz textos nossos e colaborações (aliás, estão todos convidados) e compartilha propostas que ainda estão sendo trabalhadas. E tem o www.soninha23.can.br, que aos poucos vai tomando jeito. Mas eu queria ter tudo arrumado, organizado, desde já.

Só que o site da candidatura da Marta está muuuito, mas muito mais “atrasado”. Clicando em “propostas”, por exemplo, você encontra quatro temas: educação, saúde, trânsito e segurança. E só. Não tem meio ambiente, moradia, cultura, esporte, participação popular, inclusão digital, garantia de direitos, crianças e adolescentes, juventude, nada. Pelo menos por enquanto. Claro que vai ter depois... Mas agora tá assim, simplificado demais, cheio de lacunas.

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A gente pode pensar: “Bom, eles só publicaram o que já está mais elaborado”. Ledo e Ivo engano. Eis as propostas para o trânsito: "Ampliar as linhas do Metrô; construir mais corredores de ônibus; recuperar e ampliar os benefícios do Bilhete Único; abrir ciclovias; melhorar a operação e a fiscalização do trânsito".

Só isso.

Sério, não era a "resposta em 30 segundos" para o SP TV, é uma seção do site. Onde há tempo, espaço e possibilidades para explicar as coisas direito, ilustrar, ponderar... Expor conceitos, detalhar propostas... Que nada. "Ampliar os benefícios do Bilhete Único". Como assim? "Melhorar a operação do trânsito". Ok, isso é o que todos queremos - não uma "proposta". A prefeitura vai fazer isso como?

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Na Saúde, as propostas são: "Implantar uma rede de Policlínicas para acabar com o atraso nos exames e no tratamento das doenças mais graves; construir o hospital de Brasilândia; construir o hospital de Jaçanã; construir o hospital de Parelheiros; aperfeiçoar as AMAs".

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Na Educação: criar a Rede CEU, beneficiando toda a cidade; criar centros de qualificação profissional nos CEUs; criar um Centro de Aperfeiçoamento de Professores; implementar o Ensino Fundamental de 9 Anos; aumentar o número de vagas nas creches; trabalhar pela erradicação do analfabetismo. Meio vago, né? (E "implementar o Ensino Fundamental de 9 anos" não é uma "proposta", é um dever do município).

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Por fim, a Segurança: "Recriar a Secretaria Municipal de Segurança Urbana; recuperar as Bases Comunitárias de Segurança; reestruturar a Guarda Civil Metropolitana; implantar o Observatório de Segurança com sistema de acompanhamento das áreas mais violentas da cidade; ampliar a participação de São Paulo no PRONASCI – Programa Nacional de Segurança Pública e Cidadania".

Se ao menos os títulos fossem hiperlinks, a gente clicaria neles e entederia melhor qual é a idéia de "reestruturação da GCM", por exemplo...

E se era só para fazer uma lista de desejos, já podia colocar tudo lá. Meio ambiente: mais árvores, menos poluição do ar e da água. Cultura: mais teatros, cinemas, circos e bicliotecas. Esporte: Mais quadras. :oP

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Sim, estou sendo irônica, estou. Deixa eu me divertir só um pouquinho, vai... Que eu deixo a Marta trabalhar, hehehe. Não só deixo, como incentivo: cadê as propostas? :o)

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Em benefício do PT, registre-se que os outros candidatos ainda não têm site de campanha. (Ou vai ver fui eu que não achei...). E o blog da Marta, que até sábado à tarde só tinha um textinho de abertura, agora tem bons posts sobre o ECA, políticas de inclusão, revitalização do centro, educação... Curiosidade e não maldade: será que é ela mesma que escreve?

quinta-feira, 10 de julho de 2008

Vai ser bom, não foi?

Estou indo para a gravação do SPTV – vou falar 30 segundos sobre transporte e 30 sobre trânsito. E resolvi fazer o resumo do resumo da síntese das propostas e tentar falar sobre elas em 30 segundos. Impossível!! Não dá para explicar nada, só para citar os itens, e mesmo assim passa do tempo. Agora tenho de escolher qual ponto super importante eu vou ter de tirar da resposta para caber no tempo que a TV me reservou.

Pra que isso, meu deus? Por que fazer tão relâmpago, tão inevitavelmente superficial?

Experimente você falar 30 segundos sobre qualquer coisa. Não dá! As antigas fichas telefônicas duravam 3 minutos. Imagine-se tendo de responder uma pergunta muito importante, sobre tema super complexo, no tempo de uma ficha. E que tal em 1/6 desse tempo?

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12:21 - Pronto. Fui até lá (o apartamento de uma amiga, perto da Câmara) e voltei. Precisei fazer umas quatro ou cinco tentativas de cada, mas rolou. Até que é um bom treino para os debates que reservam 1min30 por resposta...

quarta-feira, 9 de julho de 2008

Querido diário...

Hoje às dez estive na BandNews FM para uma entrevista de uma hora sobre a candidatura à prefeitura. Respondi perguntas dos apresentadores no estúdio, de jornalistas convidados e de ouvintes. A primeira participação pré-gravada foi do Boris Casoy, que quis saber como eu pretendia lidar com uma Câmara acostumada a se relacionar com o Poder Executivo na base do toma-lá-dá-cá. Se eu cederia ou se estaria pronta a enfrentar hostilidades.

Excelente pergunta.

Em um mundo ideal, os parlamentares examinariam as propostas do Executivo e concluiriam se são boas ou ruins, e em função dessa análise votariam contra ou a favor. No mundo real, não é assim... Os partidos da base governista apóiam qualquer coisa que venha do governo, desde que sejam contemplados em suas reivindicações. Em compensação, se não forem atendidos, não aprovam nada, mesmo que seja o melhor projeto de todos os tempos.

O que fazer nesse mundo real? Estabelecer que os vereadores serão atendidos em seus pedidos desde que sejam no interesse da coletividade. Óbvio? Sim! Mas então POR QUE NÃO FAZEM DESSE JEITO?

“Ah, falar é fácil, na prática não é assim. Os vereadores farão exigências que resultem em vantagens pessoais... Isso é um problema em toda parte”. Então tá – um prefeito se propõe a combater o congestionamento, a violência, os problemas na saúde e na educação, a poluição e o aquecimento global, mas entrega os pontos quando de fala em política – “Impossível, não dá pra ser de outro jeito, é uma prática muito arraigada”?

Tem de ter jeito. Se não, pra que ir? (Parece aquela situação em que os técnicos da seleção brasileira reclamam que “o adversário fez uma marcação muito forte”. Queria o que, defesa aberta, postura frouxa? Ou então, seria como se a Secretaria de Segurança dissesse “não dá para diminuir a violência, os bandidos não querem”. A Secretaria de Saúde reclamasse das pessoas que não deixam de ficar doentes...)

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O prefeito ou prefeita (governador, presidente) tem de estar pronto para enfrentar os costumes pouco republicanos com a mesma disposição com que enfrenta os outros problemas. Sim, o sistema político é confuso, desajeitado, e facilmente deixa o chefe do Executivo refém de um Parlamento hostil ou venal. Enquanto ele não muda, sejamos firmes em nossos princípios e convicções, estabelecendo um limite para concessões.

Um partido quer participar da administração, indicando pessoas para determinados cargos? Ok – desde que elas tenham capacidade e sigam as diretrizes da prefeita. (No governo federal, seria como se todos os indicados pelo PMDB tivessem as credenciais do Ministro da Saúde, de quem gosto muito...). Para aprovar um projeto do Executivo, o vereador exige a aprovação de um projeto seu, ou a execução de uma emenda ao orçamento? Beleza. TODOS os vereadores, mesmo aqueles de quem eu discordo 95% das vezes, têm boas idéias, bons projetos. Vamos discutir, juntos, quais são eles e colocá-los em prática.

Achar que os vereadores não são capazes de negociar nesses termos – e, por isso, sequer tentar – é nivelar tudo muito por baixo. Render-se ao nível mais baixo é um erro das duas partes – de quem faz exigências contrárias ao interesse público e de quem as atende. Se você não estabelecer um limite para concessões, quem o fará?

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No restante do programa, falamos sobre trânsito e transporte (ah, vá...), população de rua, Cidade Limpa, Serra, segundo turno, crescimento econômico... Muito bom (eu gostei do programa).

Em seguida, gravei uma resposta sobre trânsito e transporte para a Rádio Bandeirantes e respondi um “questionário” do CQC. Os outros candidatos farão o mesmo roteiro – a menos que não queiram.

Mais tarde, fizemos uma breve reunião sobre internet, agenda de campanha e programa de governo.

Na seqüência, examinei as mais de 100 fotos que fizemos na segunda-feira para escolher as que serão usadas em material impresso, banners, site, divulgação para a imprensa, etc. É muito engraçado perceber a diferença que faz olhar uma mesma foto reduzida ou ampliada, suavizada ou contrastada, de perto ou de longe, sozinha ou em comparação com as outras...

Depois de várias rodadas eliminatórias, ficamos com cinco imagens que podem ser usadas em materiais diferentes. Uma cara mais séria combina com alguns impressos, mas não parecerá muito simpática na porta da casa de alguém.

Sempre aparece alguém para dizer: “Fotos diferentes? Não é assim que se faz; fica muito confuso”. Até parece que as pessoas não são capazes de saber que Soninha sou eu, séria ou rindo...

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No fim do dia, mais um chá-de-computador – blog, emails, programa de governo. Comida chinesa pedida por telefone e documentário sobre o 9-11 (atentado ao WTC) na televisão. Os familiares das vítimas formaram uma associação e participaram de audiências para apurar as responsabilidades do governo na tragédia, querendo responder à inquietação inútil e inevitável: podia ter sido evitado?

Os testemunhos dos sobreviventes – pessoas que trabalhavam nos prédios, policiais, bombeiros – foram muito comoventes. Os depoimentos dos representantes do governo, evasivos. As famílias ficaram muito incomodadas com as respostas do tipo “não posso dizer agora; vou ter de apurar essa informação” – mesmo que fossem compreensíveis em alguns casos.

No último dia, um chefe do serviço anti-terrorismo disse, sem meias-palavras: “Desculpem, nós erramos. Deveríamos ter sido capazes de evitar. Se aconteceu, é porque falhamos de alguma maneira”.

Incrível o efeito que a contrição teve sobre os presentes. Não mudava NADA, objetivamente, mas foi um bálsamo, um consolo, um alívio. Parecia que tudo o que elas queriam era um pouco de honestidade, solidariedade, compaixão.

Por que as pessoas demoram tanto a fazer o mais certo – dizer a verdade, admitir um erro e pedir desculpas? Se são teimosas e não reconhecem que erraram, nem para si mesmas, esse é um problema. Se sabem que erraram mas pensam que é melhor fingir que não, é um problema ainda maior.

terça-feira, 8 de julho de 2008

Inventando a roda quadrada

A Justiça Eleitoral quer proibir quase todo tipo de manifestações na internet para impedir que haja “vantagem indevida” par algum candidato.

Valei-nos, padroeiro dos bytes, seja você quem for... A internet é justamente o veículo mais capaz de compensar vantagens indevidas!

É possível utilizá-la a custo praticamente zero. Um computador conectado em algum serviço de uso gratuito (Telecentro, Acessa São Paulo, Sesc, etc.) e pronto – qualquer um pode fazer campanha. Para si mesmo ou para seu candidato. Com um reles celular, pode gravar vídeos, fazer entrevistas, colher depoimentos e publicar tudo. Sem gastar uma fortuna em layout e fotolito e toneladas de papel, pode falar com milhares de pessoas. Pode dar respostas rápidas. Pode indicar suas referências. Pode oferecer muito mais informações do que nos folhetos, no rádio e na televisão.

Ao proibir orkuts e blogs, ao ameaçar multar com mais de cinqüenta mil reais quem falar bem de um candidato ou mal de outro, ou cometer o “crime” de declarar em quem vai votar, o Tribunal ameaça justamente os menores, os mais pobrinhos, os que têm menos espaço na grande mídia.

Se você só pode ter vídeos no seu site oficial e não hospedá-los no You Tube, isso significa que precisa ter um provedor “da pesada”, que custa muito mais caro. E por aí vai.

Como se não bastasse, é dificílimo – senão impossível – fiscalizar e punir corretamente. Se alguém criar uma página com nome falso, se um internauta na Suécia resolver fazer campanha pelo seu candidato no interior do Espírito Santo, como a Justiça vai punir o autor da infração? E quantas infrações serão, milhões??

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No começo das discussões sobre células-tronco no Supremo, a cientista Mayana Zatz foi a Brasília dar uma palestra sobre o assunto.

Eles não querem chamar alguém que entenda de internet para explicar como funciona esse troço?

Também podem perguntar para seus filhos, sobrinhos, netos... Ou fazer algo que a internet permite com certo conforto: pesquisar por si mesmos.

Os debates vêm aí

Na quinta-feira, vou gravar um depoimento para a Globo sobre transportes para eles usarem no SPTV. Tempo: 30 segundos. TRINTA SEGUNDOS para dizer o que eu pretendo fazer pelo transporte em São Paulo!

Isso não é debate, é gincana. Concurso de narrador do Jóquei Clube. Quadro divertido do Fantástico ("minha vida em 15 segundos").

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Hoje gravei uma chamada confirmando a minha participação no debate na Band, que será no fim do mês.

Tem havido muitas reuniões entre os assessores dos candidatos para combinar as regras – no Ig, Estadão, Globo, Record, na própria Band...

Como sempre acontece, os mais bem colocados resistem, relutam, não confirmam presença... Existe uma crença – compreensível – de que quem está na frente só tem a perder. Principalmente porque será o alvo preferencial de todos os presentes...

Nas últimas eleições, o Serra não foi a quase nenhum debate, o Lula também não. Só não entendo como eles podem achar vantagem em ficar apanhando sem ao menos estar lá para responder, mas sou a única... É consenso entre políticos e assessores que é melhor não ir.

E o que acho um absurdo também é passar a vida toda criticando quem “foge do debate” e depois... “Fugir”.

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Debate é arriscado mesmo. Os debatedores ficam tentando atingir um o ponto fraco do outro. Às vezes parece concurso de “Vixxxe!”, para ver quem dá a cutucada mais “esperta” no rival. Discutir os temas pra valer, que é bom...

Mesmo que não haja provocações e baixarias, é tenso. Você está lá ao vivo e uma pequena hesitação ou engano que seriam perfeitamente normais em qualquer outra situação da vida real se tornam obstáculos sérios. Você trabalha que nem um camelo por meses, anos para entender de um assunto e se preparar para a candidatura e pode por tudo a perder em uma resposta gaguejada. Terrível!

E o pior de tudo mesmo é o tempo: 2 minutos, 1 minuto e meio... Adoro os debates americanos, em que os candidatos desenvolvem à vontade o seu raciocínio, sendo interrompidos apenas se o mediador achar que alguém está abusando do tempo, fugindo do assunto, se comportando de maneira inadequada ou algo assim.

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Acho que eu fico mais nervosa e aflita assistindo debates quando sou só eleitora do que vou ficar quando estiver participando deles. É como jogar e torcer... Depois dos primeiros chutes, o jogador está mais calmo que o torcedor na arquibancada. Não poder fazer nada é muito enervante!