Hoje às dez estive na BandNews FM para uma entrevista de uma hora sobre a candidatura à prefeitura. Respondi perguntas dos apresentadores no estúdio, de jornalistas convidados e de ouvintes. A primeira participação pré-gravada foi do Boris Casoy, que quis saber como eu pretendia lidar com uma Câmara acostumada a se relacionar com o Poder Executivo na base do toma-lá-dá-cá. Se eu cederia ou se estaria pronta a enfrentar hostilidades.
Excelente pergunta.
Em um mundo ideal, os parlamentares examinariam as propostas do Executivo e concluiriam se são boas ou ruins, e em função dessa análise votariam contra ou a favor. No mundo real, não é assim... Os partidos da base governista apóiam qualquer coisa que venha do governo, desde que sejam contemplados em suas reivindicações. Em compensação, se não forem atendidos, não aprovam nada, mesmo que seja o melhor projeto de todos os tempos.
O que fazer nesse mundo real? Estabelecer que os vereadores serão atendidos em seus pedidos desde que sejam no interesse da coletividade. Óbvio? Sim! Mas então POR QUE NÃO FAZEM DESSE JEITO?
“Ah, falar é fácil, na prática não é assim. Os vereadores farão exigências que resultem em vantagens pessoais... Isso é um problema em toda parte”. Então tá – um prefeito se propõe a combater o congestionamento, a violência, os problemas na saúde e na educação, a poluição e o aquecimento global, mas entrega os pontos quando de fala em política – “Impossível, não dá pra ser de outro jeito, é uma prática muito arraigada”?
Tem de ter jeito. Se não, pra que ir? (Parece aquela situação em que os técnicos da seleção brasileira reclamam que “o adversário fez uma marcação muito forte”. Queria o que, defesa aberta, postura frouxa? Ou então, seria como se a Secretaria de Segurança dissesse “não dá para diminuir a violência, os bandidos não querem”. A Secretaria de Saúde reclamasse das pessoas que não deixam de ficar doentes...)
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O prefeito ou prefeita (governador, presidente) tem de estar pronto para enfrentar os costumes pouco republicanos com a mesma disposição com que enfrenta os outros problemas. Sim, o sistema político é confuso, desajeitado, e facilmente deixa o chefe do Executivo refém de um Parlamento hostil ou venal. Enquanto ele não muda, sejamos firmes em nossos princípios e convicções, estabelecendo um limite para concessões.
Um partido quer participar da administração, indicando pessoas para determinados cargos? Ok – desde que elas tenham capacidade e sigam as diretrizes da prefeita. (No governo federal, seria como se todos os indicados pelo PMDB tivessem as credenciais do Ministro da Saúde, de quem gosto muito...). Para aprovar um projeto do Executivo, o vereador exige a aprovação de um projeto seu, ou a execução de uma emenda ao orçamento? Beleza. TODOS os vereadores, mesmo aqueles de quem eu discordo 95% das vezes, têm boas idéias, bons projetos. Vamos discutir, juntos, quais são eles e colocá-los em prática.
Achar que os vereadores não são capazes de negociar nesses termos – e, por isso, sequer tentar – é nivelar tudo muito por baixo. Render-se ao nível mais baixo é um erro das duas partes – de quem faz exigências contrárias ao interesse público e de quem as atende. Se você não estabelecer um limite para concessões, quem o fará?
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No restante do programa, falamos sobre trânsito e transporte (ah, vá...), população de rua, Cidade Limpa, Serra, segundo turno, crescimento econômico... Muito bom (eu gostei do programa).
Em seguida, gravei uma resposta sobre trânsito e transporte para a Rádio Bandeirantes e respondi um “questionário” do CQC. Os outros candidatos farão o mesmo roteiro – a menos que não queiram.
Mais tarde, fizemos uma breve reunião sobre internet, agenda de campanha e programa de governo.
Na seqüência, examinei as mais de 100 fotos que fizemos na segunda-feira para escolher as que serão usadas em material impresso, banners, site, divulgação para a imprensa, etc. É muito engraçado perceber a diferença que faz olhar uma mesma foto reduzida ou ampliada, suavizada ou contrastada, de perto ou de longe, sozinha ou em comparação com as outras...
Depois de várias rodadas eliminatórias, ficamos com cinco imagens que podem ser usadas em materiais diferentes. Uma cara mais séria combina com alguns impressos, mas não parecerá muito simpática na porta da casa de alguém.
Sempre aparece alguém para dizer: “Fotos diferentes? Não é assim que se faz; fica muito confuso”. Até parece que as pessoas não são capazes de saber que Soninha sou eu, séria ou rindo...
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No fim do dia, mais um chá-de-computador – blog, emails, programa de governo. Comida chinesa pedida por telefone e documentário sobre o 9-11 (atentado ao WTC) na televisão. Os familiares das vítimas formaram uma associação e participaram de audiências para apurar as responsabilidades do governo na tragédia, querendo responder à inquietação inútil e inevitável: podia ter sido evitado?
Os testemunhos dos sobreviventes – pessoas que trabalhavam nos prédios, policiais, bombeiros – foram muito comoventes. Os depoimentos dos representantes do governo, evasivos. As famílias ficaram muito incomodadas com as respostas do tipo “não posso dizer agora; vou ter de apurar essa informação” – mesmo que fossem compreensíveis em alguns casos.
No último dia, um chefe do serviço anti-terrorismo disse, sem meias-palavras: “Desculpem, nós erramos. Deveríamos ter sido capazes de evitar. Se aconteceu, é porque falhamos de alguma maneira”.
Incrível o efeito que a contrição teve sobre os presentes. Não mudava NADA, objetivamente, mas foi um bálsamo, um consolo, um alívio. Parecia que tudo o que elas queriam era um pouco de honestidade, solidariedade, compaixão.
Por que as pessoas demoram tanto a fazer o mais certo – dizer a verdade, admitir um erro e pedir desculpas? Se são teimosas e não reconhecem que erraram, nem para si mesmas, esse é um problema. Se sabem que erraram mas pensam que é melhor fingir que não, é um problema ainda maior.