domingo, 20 de julho de 2008

"Você não foi...? Então vá, então vá" (Lenine)

Antes de qualquer outra coisa: não tem nada para fazer hoje? Ou no fim-de-semana que vem? Tem ao menos meio período livre? VÁ ao Festival de Inverno de Paranapiacaba. Tem gente que fica incomodada com esses imperativos dos cadernos de cultura: “Vá”, “veja”, “leia”, “fuja”. Azar. É imperativo mesmo!

Estive lá ontem. Não fazia muito tempo que tinha estado na vila, que desde 2002 pertence a Santo André. Na última visita, fiquei bem impressionada com a recuperação do lugar – a antepenúltima ida, muitos anos atrás, tinha sido deprimente, com tudo maltratado, caindo aos pedaços. Desta vez, fiquei com a impressão que houve novos progressos nos últimos meses (mesmo descontando o “trato” que deve ter havido especialmente para o festival). (Não posso deixar de dizer – ponto para a administração municipal, que é do PT. Quando ainda estava no partido, revoltada ou envergonhada com algumas de suas posturas, respirava aliviada ao ver ações que ainda eram motivo de orgulho).

As casas, museus e estabelecimentos comerciais estão bem conservados e sinalizados; as ruas, bem cuidadas. Estava uma tarde linda, fria e ensolarada; à noite, uma lua estupidamente bela. A neblina de Paranapiacaba é famosa, mas não deu o ar da graça neste fim-de-semana.

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A programação do festival é uma delícia. Fui com amigos (9) + uma filha (a caçula) para o show do Lenine, às cinco da tarde. Quase não consigo entrar – desde o meio-dia havia gente na fila para pegar ingressos (grátis). Muita gente ficou de fora; no fim, acho que todos conseguiram entrar (tomara! – apesar dos ingressos teoricamente esgotados, havia espaço de sobra para entrarem os que estavam na porta).

(Pensei que tínhamos perdido o show da Marina de La Riva por estarmos atrasados; depois soubemos que ele foi cancelado, não cheguei a saber por quê).

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Chegar a Paranapiacaba é muito fácil: Anchieta até a Billings, aí é só seguir as placas. Só tem um probleminha: a primeira vez em que aparece o nome “Paranapiacaba” aparece em uma placa é quando você já saiu da Anchieta e está prestes a passar por baixo da estrada. Antes disso, nada. Nenhuma referência. Aparecem São Bernardo, Rudge Ramos, Diadema, Taboão, Santo André, Riacho Grande, Santos, tudo – menos Paranapiacaba, que é uma super atração turística (ê, Brasil...). Então às vezes você fica na dúvida – “fico na pista externa ou interna da Anchieta?”. Eu mudei duas vezes à toa... No fim, tanto faz. São 21 km de Anchieta (vi agora no Google Maps).

(Olhando no jornal do Festival, achei outra explicação de como chegar: “Anchieta até km 29 (placa para Ribeirão Pires), entrar na SP 148 (Estrada Velha de Santos) até o km 33 e pegar a Rodovia Índio Tibiriçá (SP 31) até o km 45,5. Daí pegar a SP 122 até Paranapiacaba”. Mas, como eu disse, depois de sair da Anchieta tem placa. O problema é a volta: chega uma hora em que não há nenhum sinal indicando “São Paulo”. Você tem de escolher, sei lá, entre “São Bernardo” e “Ribeirão Pires”. Da outra vez, escolhi errado e fui por dentro das cidades, em vez de pegar a Anchieta – e só por causa desse vacilo anterior fiz o caminho certo desta vez).

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Também dá para ir de trem da Luz até Rio Grande da Serra e pegar um ônibus até a Vila de Paranapiacaba – de meia em meia hora nos fins-de-semana.

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Chegando de carro, há um bolsão de estacionamento (R$10,00) e um ônibus para translado até a vila. Tudo muito bem orientado, organizado e ágil. Aliás, uma das bênçãos do lugar é o fato de carros não circularem livremente por ali. São ladeiras muito íngremes de paralelepípedo, casas muito antigas, ruas estreitas. Carros destruiriam a paisagem.

O trem que é a razão de ser da vila (ela foi criada para abrigar funcionários da São Paulo Railway) foi abandonado anos atrás. Fiquei sabendo lá, pela Subprefeita, que será reativada uma linha turística ainda este ano, operada pela CPTM. Aleluia.

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Além dos shows “grandes” no Espaço Viradouro, como o do Lenine (hoje tem Zeca Baleiro às 18:00), há uma série de outros palcos e espaços com apresentações musicais, teatro, cinema, dança, etc. À noite, antes de virmos embora (queria ter ficado para o show “Agô – Cantos Sagrados Brasil e Cuba”, com Sapopemba (brasileiros), Liena Centeno (cubana) e os Heartbreakers, mas não agüentei o cansaço) comemos sopa no pão italiano (a minha, de batata, estava divina) ouvindo a apresentação da Mariane Mattoso e grupo Zambelô no Palco do Mercado (divina também).

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Resumindo: vai lá, vai? De carro ou de trem, de bicicleta se for atleta, de dia ou à noite... Leve dinheiro trocado (não tem caixa eletrônico e nem todo lugar aceita cheque ou cartão), leve a fome e os amigos, traga fotos, folhetos e peças de artesanato. Com tempo, percorra as trilhas e visite os museus. Duvido que você não goste do passeio por esse lugar que já é tombado como patrimônio histórico, cultural e ambiental do município, do estado e do país (os Conselhos de Patrimônio das três esferas assim o reconhecem) e agora aspira ao reconhecimento, pela Unesco, de que é patrimônio da humanidade.

O Festival termina no fim-de-semana que vem. No sábado tem Otto; no domingo, Scott Henderson Trio. Precisa retirar ingressos com no máximo duas horas de antecedência. Mas acredite em mim: se não der para entrar e ver esses shows, você não vai perder a viagem (porque há muitas outras coisas para ver e fazer – nem que seja só subir e descer ladeira, sentar ao sol, ficar olhando o movimento). Não esqueça a máquina fotográfica com bateria e memória suficiente e um agasalho – mesmo com sol, faz um friozinho bom.

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Se eu não fiz campanha? Não muita. Distribuí uns poucos folhetos (acabaram logo), e quando alguém dizia: “Soninha? Votei em você!”, eu respondia: “Ôba, obrigada, não quer votar de novo?” :o)