terça-feira, 19 de agosto de 2008

Vamos brincar de ibope? (1)

O Estadão ia fazer um debate entre os candidatos à prefeitura.

A Marta e o Alckmin decidiram não ir, e o jornal cancelou.

A Gazeta ia fazer um debate entre os candidatos.

A Marta e o Alckmin não vão, e eles cancelaram também.

Quero só ver se vai ter o debate da Record.

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Os *&¨% dos assessores aconselham os candidatos que estão na frente nas pesquisas de intenção de voto a não ir aos debates – porque eles não teriam nada a ganhar e tudo a perder.

Acho o fim da picada.

Primeiro, achar que o debate pode ser assim tão decisivo. Teria de ser uma atuação desastrosa para perder votos potenciais, não? E eles temem ter uma atuação desastrosa, depois de tanta experiência, tanto preparo, tanto media training, tanto aconselhamento da assessoria?

Eu, hein...

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E pensar que um dos dois – no mínimo um dos dois – não vai se eleger.

Será que eles já têm um plano B?

Por que só perguntam para mim o plano B? (“O que você vai fazer se não se eleger?”)

O que será que a Marta vai fazer se não se eleger?

E o Alckmin?

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Hoje eu vi o nome do atual Ministro do Turismo. Juro que não lembro.

Engraçado, também não vi mais anúncios do ministério... Será que ele não tem mais projetos novos, que mereçam destaque?

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As pesquisas, as &¨%$ das pesquisas...

Segundo a última, do Ibope, a Marta subiu pra caramba (+7%). Quem caiu? O Alckmin (-5%)

Uai, a Marta tirou votos do Alckmin?

Faz sentido?

O que teria acontecido?

Em um mundo tão polarizado, em que muitos decidem seu voto não em função da preferência, mas da rejeição (“voto em quem tiver mais chance de derrotar que eu mais detesto”), teriam eleitores tucanos decidido se bandear para o PT?

Por que?

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No segundo turno, a posição deles teria se invertido. Antes, ele ganhava. Agora é ela.

Por que????

O que aconteceu para o Alckmin cair na intenção de voto desse jeito?

Não entendo.

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Na simulação de segundo turno entre Alckmin e Kassab, OS DOIS perderam votos em relação à pesquisa anterior. Também não faz muito sentido... Se um perdesse e o outro ganhasse, seria mais fácil de entender.

[continua abaixo]

Vamos brincar de ibope? (2)

Entrei no site do Ibope para conseguir informações mais precisas.

Na pesquisa estimulada, em que os eleitores olham para um disco com os nomes dos candidatos, Marta foi a escolhida por 41% dos entrevistados. Alckmin, por 26%.

Do jeito que esse povo ama o Alckmin, é muito esquisito que ele tenha 2/3 dos votos da Marta.

Na espontânea, em que apenas perguntam para o entrevistado “em quem você vai votar?”, sem mostrar nome nenhum, 33% disseram que não sabem ou não quiseram opinar.

33%!

Nessa mesma pesquisa, sabe quantos responderam “na Marta”? 29% (aumentou 5). O Alckmin, 14% (diminuiu 3).

Ou seja, precisa somar os dois para ganhar dos indecisos!!!!

Brancos e nulos somam 11% - o mesmo que Kassab + Maluf (6 + 5).

Indecisos + “não quero falar” + brancos e nulos = 44%. Mais do que Marta e Alckmin juntos.

Mas os analistas ficam discutindo até a possibilidade de a eleição ser decidida ainda no primeiro turno.

Mein gott!

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Expectativa de vitória

O IBOPE Inteligência perguntou aos eleitores quem será o próximo prefeito, independentemente de sua intenção de voto. A percepção para 45% dos entrevistados é a de que Marta será eleita. Já Geraldo Alckmin é citado por 32% e Gilberto Kassab por 6% dos eleitores.

O nome disso é “profecia auto-realizável”.

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Eu continuo com meus 2 ou 1%.

São Paulo é enorme, tem um mundo de gente que nem me conhece, outro tanto que conhece mais ou menos mas não sabe que sou candidata, outros sabem que sou mas mal sabem quem sou, outros sabem e me detestam e não votariam em mim nem para derrotar o Coringa do Batman. Ok. Descontando isso tudo, eu não represento a preferência de uma ou duas pessoas em cada cem. Tenho certeza absoluta de que é mais do que isso.

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Mas... As pessoas que preferem a mim perguntam (perguntam mesmo) “que adianta votar nela, ela não vai ganhar...”

Outros comentários ouvidos por aí: “Eu não vou votar nela [eu], mas quero que ela ganhe pr’aqueles todos lá ficarem com a cara no chão”; “Eu só não vou votar nela porque ela não vai ganhar”, “Eu votaria em você, mas sou amigo do Geraldo, lá de Pinda...”. (É, a gente ouve de tudo!)

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Ouve-se também “eu voto em você porque é bonita”, “eu voto em você porque é simpática”... Mas também “eu decidi votar em você depois do debate”. E “você é mais inteligente do que eu pensava”. (Eu perguntei – ele não pensava que eu fosse “inteligente”).

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Ainda sobre o debate: “Você precisa ser menos jornalista” (nem sei como é isso; o que é “ser jornalista” para “ser menos”); “precisa ser menos boazinha”; “você ficou com medo de ir para cima deles?”; “você precisa apresentar suas propostas na área de saúde”...

EXPERIMENTEM FALAR QUALQUER COISA APROVEITÁVEL EM 90 SEGUNDOS!!!

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Além dos muitos comentários sobre a minha franja (que também me incomodou sobremaneira), ouvi algumas broncas por não ter dito “boa noite”.

É verdade, foi mal. É que quando estou assistindo um debate, eu não faço a menor questão, fico impaciente para que o debatedor responda logo a questão. Então não falei, mas muita gente sentiu falta, se sentiu desrespeitada.

O pior é que ontem eu fui à Rádio Bandeirantes e também fui logo respondendo à primeira pergunta, sem dizer “bom dia”. Ma che estúpida.

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“A gente entende o que você fala!”; “você é a mais lúcida”; “você me inspira confiança”; “você conhece muito bem a cidade”; “que legal que você fala as coisas como elas são mesmo”... Esses comentários eu adorei.

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Voltando à &¨%$ da pesquisa: foram entrevistados 805 eleitores. OITOCENTOS E CINCO. 11 ônibus cheios.

Quero fazer uma experiência – sem nenhum, nenhum valor científico.

Convido todos os interessados/ curiosos a perguntar, para tantas pessoas quanto puderem (quantas puderem?), “em quem você vai votar para prefeito ou prefeita de São Paulo?”

Os entrevistados têm de ser, ao menos, maiores de 18 anos. De preferência, eleitores na capital – mas se for difícil fazer duas perguntas, ok, ficamos com uma só.

Cada entrevistador pode fazer sua listinha simples com as respostas – registrando também as opções “não sei”, “em ninguém”, “não quis responder”, claro.

Não vale perguntar para dois irmãos, pai e mãe e computar quatro votos. Tem de ser uma amostragem variada – o gerente do banco, o segurança, o garçom, o cobrador do ônibus, a advogada da firma, a diretora da escola, o pipoqueiro... Homens e mulheres, zona Norte e zona Sul, jovens e idosos...

Aí todo mundo pode postar comentários aqui: “3 votos para a Marta, 3 para o Alckmin, 2 para o Kassab, um para o Maluf, um para a Soninha, um para o Ivan, dois nulos”. Não vale mentir – caramba, qual seria a graça?

Se 80 pessoas fizerem 10 perguntas cada uma, teremos as 800 entrevistas. Não é difícil. Podemos ter muito mais!

E aí, vamos brincar de ibope?

Pra sair do aperto

Ah, não tô batendo pino, não... Acabo de ir ao dentista no dia errado. O certo é amanhã (ainda bem que não foi ontem).

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Ele ficou sem graça, como se a culpa fosse dele. "Desculpe, o rapaz das 8:30 já está aí...". "Imagine, fui eu que errei! Vou fazer o que estaria fazendo a essa hora - vou para o computador trabalhar. E eu ia pedir para ouvir o jogo do Brasil no celular, agora vou poder ver"

"Não, o jogo do Brasil é às dez". É, tô bem mesmo...

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Às dez vou estar na rua, participando de mais uma caminhada em homenagem aos sete moradores de rua assassinados há quatro anos. Depois, vou participar de um debate sobre políticas públicas para população de rua.

Incrível como se fala besteira a respeito desse tema. Uma das mais comuns, ultimamente, é reclamar que "o Cidade Limpa tirou os outdoors mas não tirou os mendigos da rua". Acho que esperavam que eles fossem recolhidos com pá de lixo e despejados em um caminhão. De preferência, daqueles com triturador.

Ou talvez esperassem a edição de uma lei assim: "A partir desta data, fica proibida a permanência de pessoas pobres, mal vestidas e mal cheirosas nas calçadas da cidade". Pronto!

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Banheiro público que é bom, nada...

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Conversando sobre isso (banheiros) outro dia, uma colega (Helena Werneck, Coordenadora de Mulheres do PPS) chamou a atenção para uma distinção básica - entre homens e mulheres.

Antes que alguém diga "Dã", reflitam sobre o seguinte: homem, "educado" desde pequeno para ser assim, faz xixi em qualquer lugar. Não é só "mendigo", não. Quando eu morava na Vila Madalena, a esquina do meu prédio (Mourato X Wizard) virava um mijódromo durante a noite - jovens universitários transformavam a parede da casa da esquina em mictório público, na maior cara-dura.

Minha mãe ficava louca da vida quando alguém sugeria que ela pusesse meu irmão (dois anos mais novo que eu) para fazer xixi em qualquer lugar ("homem é tão fácil!"). "Meu filho não é cachorro. As meninas vão segurar até aparecer um banheiro e ele também".

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O fato é que temos duas necessidades bem diferentes - uma, de mictórios públicos para homens, em grande quantidade. Outra, de banheiros para mulheres. E um ou outro banheiro "completo" para homens também.

Banheiro público tem um problema sério de manutenção, limpeza e segurança. O do metrô da Sé, por exemplo, virou ponto de michê anos atrás. (Não faço idéia como está agora).

Mictório público pode ser uma cabine semi-aberta, em que os pés, por exemplo, fiquem evidentes. Esquisito? Falta privacidade? Ué, mas eles vivem abrindo a braguilha em qualquer lugar!

Semi-abertos, naturalmente ventilados, impossíveis de servirem como ponto de emboscada para punguistas e outros mal-intencionados, fáceis de instalar, poderiam mudar rapidamente a paisagem (e principalmente o cheiro) da cidade.

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Fiquei sabendo que a Praça da Sé é lavada DEZ vezes durante um dia - e ainda assim não cheira lá muito bem.

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Nos lugares em que for possível, aí sem devem ser instalados banheiros completos - com porta (que feche), vaso sanitário, papel, pia, sabonete, prateleira para apoiar objetos, gancho para pendurar bolsas e mochilas, lixo e alguém tomando conta. Mas eles não precisam existir em quantidade tão numerosa.

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Pesquisando o tema na internet, encontrei coisas incríveis. Como o site Toilet Map, o "mapa nacional de banheiros públicos" da Austrália. Você pode localizar banheiros por região (Capital, Austrália Ocidental), na "sua área", "perto de um endereço", "em um ponto de interesse", "em uma latitude/ longitude", pelo CEP. As opções de busca incluem "horário de funcionamento", "facilidades oferecidas" e "acessibilidade". Você pode também "sugerir um banheiro". E "planejar sua viagem", identificando antecipadamente os pontos de parada durante uma jornada. E pode criar o seu mapa pessoal de banheiros, anotando os favoritos.

Não está satisfeito? Existe um pequeno questionário para quem quiser ajudar a melhorar o site. E um telefone para tirar dúvidas, se necessário.

I-na-cre-di-tá-vel. E ela (a Austrália) tem a mesma idade que nós (Brasil).

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Também existe um mapa mundial de banheiros, em Public Toilets. Se estiver apertado em Nokiaville, na Finlândia, ou Menomonee Falls, nos Estados Unidos, pode descobrir onde fazer xixi antes mesmo de sair de casa.

Não, o Brasil não está no mapa.

Na Grã-Bretanha, existe a British Toilet Association, por mais e melhores banheiros públicos. Que tem boas notícias a respeito de sua campanha política: "O Departamento de Governo Local e Comunitário publicou seu Guia Estratégico, intitulado "Aperfeiçoando o Acesso Público a Banheiros de Melhor Qualidade".

Um trecho do documento: "O governo quer encorajar as pessoas a deixar o carro em casa e usar mais o transporte público, e é mais provável que elas o façam se estiverem confiantes de poder usar banheiros limpos e acessíveis ao longo de seu deslocamento".

E, pelo que entendi, alguns banheiros público foram feitos com recursos obtidos com a construção do Estádio de Wembley, que teve de financiar algumas melhorias no entorno.

A associação comemora seus "esforços reconhecidos depois de 10 anos de luta" por "melhores banheiros para todos". "Os banheiros públicos britânicos já foram invejados no mundo todo. Nos últimos anos, um número significativo de banheiros foi fechado. Vamos parar com a deterioração".

Uma das maneiras de participar da campanha é escrever na seção "Salve nossos Banheiros - Diga o que está acontecendo aos banheiros públicos na sua região".

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A Wikipedia tem uma página sobre banheiros: Toilet. Ela tem ilustrações de vários tipos de banheiros abertos - alguns até mais abertos do que eu estava imaginando.

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Existe também a World Toilet Organization (WTO), uma organização internacional sem fins lucrativos comprometida com a melhora das condições sanitárias no mundo todo. Incrível que ainda estejamos nesse ponto... 2008 foi estabelecido pela ONU como "o ano do saneamento básico". Faltam 4 meses para acabar o ano... Será que fizemos progressos significativos?

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Tem até banheiro que funciona muito bem sem água - veja aqui: mictório ambientalmente correto

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Empresários e executivos que trabalham no centro da cidade, como Antonio Ermirio de Moraes, já reclamaram várias vezes das ruas usadas como mictório. (Aliás, quem nunca reclamou?) Tive uma idéia- que tal banheiros públicos patrocinados pela CBA, ou generosamente doados à cidade?

Eu sei, eu sei que ele tem uma participação importante na Beneficência Portuguesa. È que, sei lá, em ano olímpico eu sempre fico com a impressão que todo mundo pode dar mais um pouco de si...