terça-feira, 19 de agosto de 2008

Pra sair do aperto

Ah, não tô batendo pino, não... Acabo de ir ao dentista no dia errado. O certo é amanhã (ainda bem que não foi ontem).

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Ele ficou sem graça, como se a culpa fosse dele. "Desculpe, o rapaz das 8:30 já está aí...". "Imagine, fui eu que errei! Vou fazer o que estaria fazendo a essa hora - vou para o computador trabalhar. E eu ia pedir para ouvir o jogo do Brasil no celular, agora vou poder ver"

"Não, o jogo do Brasil é às dez". É, tô bem mesmo...

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Às dez vou estar na rua, participando de mais uma caminhada em homenagem aos sete moradores de rua assassinados há quatro anos. Depois, vou participar de um debate sobre políticas públicas para população de rua.

Incrível como se fala besteira a respeito desse tema. Uma das mais comuns, ultimamente, é reclamar que "o Cidade Limpa tirou os outdoors mas não tirou os mendigos da rua". Acho que esperavam que eles fossem recolhidos com pá de lixo e despejados em um caminhão. De preferência, daqueles com triturador.

Ou talvez esperassem a edição de uma lei assim: "A partir desta data, fica proibida a permanência de pessoas pobres, mal vestidas e mal cheirosas nas calçadas da cidade". Pronto!

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Banheiro público que é bom, nada...

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Conversando sobre isso (banheiros) outro dia, uma colega (Helena Werneck, Coordenadora de Mulheres do PPS) chamou a atenção para uma distinção básica - entre homens e mulheres.

Antes que alguém diga "Dã", reflitam sobre o seguinte: homem, "educado" desde pequeno para ser assim, faz xixi em qualquer lugar. Não é só "mendigo", não. Quando eu morava na Vila Madalena, a esquina do meu prédio (Mourato X Wizard) virava um mijódromo durante a noite - jovens universitários transformavam a parede da casa da esquina em mictório público, na maior cara-dura.

Minha mãe ficava louca da vida quando alguém sugeria que ela pusesse meu irmão (dois anos mais novo que eu) para fazer xixi em qualquer lugar ("homem é tão fácil!"). "Meu filho não é cachorro. As meninas vão segurar até aparecer um banheiro e ele também".

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O fato é que temos duas necessidades bem diferentes - uma, de mictórios públicos para homens, em grande quantidade. Outra, de banheiros para mulheres. E um ou outro banheiro "completo" para homens também.

Banheiro público tem um problema sério de manutenção, limpeza e segurança. O do metrô da Sé, por exemplo, virou ponto de michê anos atrás. (Não faço idéia como está agora).

Mictório público pode ser uma cabine semi-aberta, em que os pés, por exemplo, fiquem evidentes. Esquisito? Falta privacidade? Ué, mas eles vivem abrindo a braguilha em qualquer lugar!

Semi-abertos, naturalmente ventilados, impossíveis de servirem como ponto de emboscada para punguistas e outros mal-intencionados, fáceis de instalar, poderiam mudar rapidamente a paisagem (e principalmente o cheiro) da cidade.

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Fiquei sabendo que a Praça da Sé é lavada DEZ vezes durante um dia - e ainda assim não cheira lá muito bem.

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Nos lugares em que for possível, aí sem devem ser instalados banheiros completos - com porta (que feche), vaso sanitário, papel, pia, sabonete, prateleira para apoiar objetos, gancho para pendurar bolsas e mochilas, lixo e alguém tomando conta. Mas eles não precisam existir em quantidade tão numerosa.

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Pesquisando o tema na internet, encontrei coisas incríveis. Como o site Toilet Map, o "mapa nacional de banheiros públicos" da Austrália. Você pode localizar banheiros por região (Capital, Austrália Ocidental), na "sua área", "perto de um endereço", "em um ponto de interesse", "em uma latitude/ longitude", pelo CEP. As opções de busca incluem "horário de funcionamento", "facilidades oferecidas" e "acessibilidade". Você pode também "sugerir um banheiro". E "planejar sua viagem", identificando antecipadamente os pontos de parada durante uma jornada. E pode criar o seu mapa pessoal de banheiros, anotando os favoritos.

Não está satisfeito? Existe um pequeno questionário para quem quiser ajudar a melhorar o site. E um telefone para tirar dúvidas, se necessário.

I-na-cre-di-tá-vel. E ela (a Austrália) tem a mesma idade que nós (Brasil).

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Também existe um mapa mundial de banheiros, em Public Toilets. Se estiver apertado em Nokiaville, na Finlândia, ou Menomonee Falls, nos Estados Unidos, pode descobrir onde fazer xixi antes mesmo de sair de casa.

Não, o Brasil não está no mapa.

Na Grã-Bretanha, existe a British Toilet Association, por mais e melhores banheiros públicos. Que tem boas notícias a respeito de sua campanha política: "O Departamento de Governo Local e Comunitário publicou seu Guia Estratégico, intitulado "Aperfeiçoando o Acesso Público a Banheiros de Melhor Qualidade".

Um trecho do documento: "O governo quer encorajar as pessoas a deixar o carro em casa e usar mais o transporte público, e é mais provável que elas o façam se estiverem confiantes de poder usar banheiros limpos e acessíveis ao longo de seu deslocamento".

E, pelo que entendi, alguns banheiros público foram feitos com recursos obtidos com a construção do Estádio de Wembley, que teve de financiar algumas melhorias no entorno.

A associação comemora seus "esforços reconhecidos depois de 10 anos de luta" por "melhores banheiros para todos". "Os banheiros públicos britânicos já foram invejados no mundo todo. Nos últimos anos, um número significativo de banheiros foi fechado. Vamos parar com a deterioração".

Uma das maneiras de participar da campanha é escrever na seção "Salve nossos Banheiros - Diga o que está acontecendo aos banheiros públicos na sua região".

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A Wikipedia tem uma página sobre banheiros: Toilet. Ela tem ilustrações de vários tipos de banheiros abertos - alguns até mais abertos do que eu estava imaginando.

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Existe também a World Toilet Organization (WTO), uma organização internacional sem fins lucrativos comprometida com a melhora das condições sanitárias no mundo todo. Incrível que ainda estejamos nesse ponto... 2008 foi estabelecido pela ONU como "o ano do saneamento básico". Faltam 4 meses para acabar o ano... Será que fizemos progressos significativos?

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Tem até banheiro que funciona muito bem sem água - veja aqui: mictório ambientalmente correto

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Empresários e executivos que trabalham no centro da cidade, como Antonio Ermirio de Moraes, já reclamaram várias vezes das ruas usadas como mictório. (Aliás, quem nunca reclamou?) Tive uma idéia- que tal banheiros públicos patrocinados pela CBA, ou generosamente doados à cidade?

Eu sei, eu sei que ele tem uma participação importante na Beneficência Portuguesa. È que, sei lá, em ano olímpico eu sempre fico com a impressão que todo mundo pode dar mais um pouco de si...