terça-feira, 7 de outubro de 2008

O segundo dia

Vontade de fazer imediatamente um milhão de coisas. Escrever mensagens de agradecimento, telefonar para eleitos e não-eleitos, começar a escrever projetos (de educação, meio ambiente, cultura, população em situação de rua) para o ano que vem, planejar uma ida ao Rio para fazer campanha para o Gabeira, batalhar (ainda como vereadora) por muitas questões pontuais testemunhadas durante a campanha eleitoral... E, ao mesmo tempo, o cansaço acumulado que deixa a gente com preguiça de dar o primeiro passo. Engraçada essa sensação de "não vejo a hora de ligar o computador" ao mesmo tempo em que eu só queria abrir uma revistinha de palavras cruzadas, ao menos um pouquinho...

Consegui fazer as duas coisas :o)

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Palavras e cenas que jamais vou esquecer: pais e mães apresentando os filhos pequenos e dizendo - "Ele/ ela votou em você". (Os meninos e meninas foram à urna com os pais e apertaram os botões com meu número, felizes da vida). Outras tantas crianças, ao longo da campanha, vieram me dizer "quando eu crescer quero votar em você!". Ou, como os adolescentes que fizeram questão de me encontrar no sábado à tarde: "Eu não gostava nem um pouco de política, mas você me fez querer acompanhar". Ou ainda, como ouvi de uma família no Grajaú: "Quando começa o seu programa no horário eleitoral, meu marido manda as crianças ficarem quietas, porque é o único que ele faz questão de assistir".


Um menino de uns 9 ou dez anos que encontrei no domingo veio se dizer meu eleitor, e a mãe pediu para ele dizer por quê. "Porque você liga para o meio ambiente!". Pessoas muito mais novas ou muito mais velhas do que eu me "acusavam": "Por sua causa, eu não vou votar nulo desta vez!". Muitos disseram: "Você não vai chegar desta vez, mas eu vou votar em você agora e você vai chegar um dia".
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Claro que não foram só coisas boas. Um militante do PT (estava todo adesivado na porta de uma seção eleitoral) me chamou de "traidora". Uma amiga da minha empregada disse que não ia votar em mim porque eu era "muito burra" - "Imagine, dizer que bicicleta vai resolver o problema do trânsito em São Paulo!". Recebi o link de um vídeo no You Tube em que um sujeito pergunta se eu vou oferecer maconha na merenda escolar. Afe.

Mas tinha militante do PT e do PSOL que dizia: "Soninha, eu não vou votar em você, mas você é dez, eu gosto das suas idéias". Muito, muito legal. Se as pessoas pudessem votar em dois nomes, acho que eu ganharia em segundo lugar :o). Como disse um amigo, "é como o Juventus, o Moleque Travesso. Tira ponto dos grandes, tem a simpatia de todo mundo".

Só que um dia eu quero terminar em primeiro. Bom, acho que o Juventus também. Quem disse que time pequeno não ganha campeonato? Lembra o São Caetano? :o))

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Se o voto fosse espontâneo e não obrigatório, também tenho certeza que minha porcentagem seria maior – por ser um voto convicto, entusiasmado. Não é muito conveniente citar, aqui, propaganda de cartão de crédito, mas em todo caso não foram eles que inventaram a expressão: ver pessoas lamentando o fato de não poderem votar em mim (porque seus títulos são de outros lugares, por exemplo) "não tem preço".

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O Maluf continuou na minha frente. Bom, ainda outro dia ele foi eleito deputado federal com um milhão de votos... Na mesma eleição em que eu tive 41 mil e fiquei longe, bem longe de uma vaga na Câmara.

Será que seus eleitores conhecem/aprovam seu desempenho como parlamentar? Será que, enquanto engenheiro e "tocador de obras", que "rouba mas faz" (foi como um conhecido justificou o voto nele – fora de brincadeira), ele atende à expectativa da torcida malufista?

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As razões pelas quais as pessoas decidem seu voto são as mais incrivelmente variadas. O tio de uma amiga minha votou no Maluf a vida toda, mas dessa vez ia votar em mim: "Eu já não estou enxergando muito bem, tenho muita dificuldade para andar, e acho que ela é a única que se importa de verdade com as calçadas!".

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Eu estou feliz, muito feliz. Foi delicioso fazer uma campanha "C.Q.D." - Como Queríamos Demonstrar, como nos problemas matemáticos. Mostrar para as pessoas em geral que a política partidária não é uma espécie de lavagem cerebral da qual ninguém escapa. Que é perfeitamente possível entrar na política e continuar fiel aos ideais, aos princípios fundamentais, à vontade de mudar o mundo - e mudar, inclusive, a política. Mostrar para os próprios políticos que a gente não precisa abrir mão de todas as convicções mais caras para "chegar lá"; não precisa fazer campanha eleitoral mentirosa, simplista, maniqueísta, boboca. Tem gente interessada e disposta em participar de uma discussão mais complicada, mais elaborada, mas ao mesmo tempo mais leve, compreensível.

Que bom saber que se pode contar com muita gente na hora de comprar algumas brigas; de levantar bandeiras, defender causas, pautar alguns temas. Que bom saber também que muita gente (umas 266.978 pessoas) conta comigo para suas brigas, causas, bandeiras. Podem contar. Eu estou aqui, e é bem fácil me achar.

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E o segundo turno?

Tenho falado bastante sobre ele; já respondi a inúmeras entrevistas sobre o tema. Mas quero escrever aqui sobre isso com calma. Amanhã sem falta.