quinta-feira, 11 de setembro de 2008

Hoje tem debate na Band

“E aí, você vai de bicicleta?”

Vou não.

Da primeira vez, foi TÃO legal, que a gente foi da Paulista até a Band falando “Vamos juntos de bicicleta a TODOS os debates! Globo, Record, todos! (Queria só ver se ainda tivesse o da RedeTV!, lá em Alphaville...)

Quem era “a gente”? Um grupo de umas duas ou três dezenas de ciclistas e cicloativistas – gente que usa a bicicleta como meio de locomoção e pede melhores condições para elas e mais respeito de todos. Que lembra que ela ocupa pouco espaço, não polui, não piora o aquecimento global, não faz barulho. Que é gostoso pedalar, ver as pessoas em volta, os detalhes da cidade. E que muitas outras pessoas pedalariam também se fosse mais seguro e mais prático (estacionar a bicicleta ainda é um problema na maioria dos lugares – tem cabimento?).

Por que eu fui de bicicleta daquela vez? Para demonstrar que é possível, sim, pedalar por aí – mesmo com as condições horríveis de hoje em dia (a travessia da ponte da Eusébio Matoso foi aterrorizante. Já é tenso para os carros e motos....). Que não é preciso ser atleta para isso (quem dera eu fosse...). Para lembrar que os ciclistas existem; para fazer um manifesto a favor deles.

E foi muito gostoso. Saí de casa pedalando, o que já é um belo meio de começar o dia. Fui à Câmara, passei o dia lá, no fim da tarde subi (pela Augusta) até a Paulista. É subidinha, mas dá para encarar muito numa boa – e é dez vezes melhor que a Consolação, tensa e apertada. Na Praça do Ciclista, encontramos os outros todos e nos preparamos para sair, pouco depois das 20:00. Fiquei com medo de me atrasar, mas o André Pasqualini, do CicloBr, tranqülizava - “dá menos de uma hora, com certeza”.

Finalmente saímos. Descer a Hadock foi muito, muito bom – mesmo com a tensãozinha de estar embalado e com medo de algum carro estacionado abrir a porta de repente. Fomos atentos, cautelosos, e fazendo festa. Cantando “Invasão das Bicicletas”, verdadeiro hino da Bicicletada.

Andar pelas ruas largas, arborizadas e tranqüilas dos Jardins, nas paralelas à Rebouças, também foi demais. Foi quando começou o coro divertido: “Se a Soninha não ganhar, olê, olê, olá... Vou pra Bogotá!” (onde foi feita uma revolução pró-ciclistas).

A subida da Morumbi foi mais cansativa, mas não a ponto ficar de língua de fora. Ainda mais porque uns ajudam os outros; os mais fortes e mais experientes empurram os demais, formando uma cadeia semelhante à das aves voando em “V”. Pior mesmo foi lidar com o estresse dos motoristas. Como éramos muitos, acabamos ocupando uma pista inteira, e na ladeira fomos mais lentos, mas nada de insuportável. Se cada um de nós estivesse em um carro, seria dez vezes pior... Mas o “piloto” de uma SUV ficou tão impaciente que nos ultrapassou na faixa dupla, em uma curva de alta velocidade para quem vinha no outro sentido, e quase provocou um acidente horrível. Para não bater de frente, freou na curva, balançou... Mais um pouco, capotava. Santo Deus. Queria ir a 70 por hora por que, pra quê? Avenida não é estrada...

Mas como foi bom chegar até lá pelo próprio esforço, ofegante, transpirando, com calor apesar do ar frio... Gastando energia, oxigenando o cérebro.

E mesmo assim, não vou de bicicleta desta vez? Não, por dois motivos basicamente: para a minha campanha não virar folclore. Tudo bem dizerem que eu sou “a da bicicleta” - sou mesmo. Mas essa não é a única e nem mesmo a principal bandeira da nossa candidatura. Nem ao menos é a principal proposta para o trânsito, é UMA delas. E também para a própria bicicleta não virar folclore ou “marketing”. É um meio de locomoção para ser levado a sério.

(E qual é a principal bandeira de nossa campanha? São ao menos duas: se não corrigirmos a imensa desigualdade regional em São Paulo, o abismo e as distâncias entre as regiões ricas, bonitas, bem providas de todos os serviços públicos e privados, e as regiões mais pobres, precárias, feias e carentes de tudo, nenhum dos outros problemas (na educação, saúde, meio ambiente, trânsito e transporte, segurança, desenvolvimento econômico e social) terá solução de verdade. A outra: é perfeitamente possível fazer política (já desde a campanha eleitoral) e administrar a cidade de modo diferente. A primeira parte, já estou fazendo. A segunda depende de me colocarem lá na chefia :o)).