Estou morrendo de preguiça de blogar, mas se passar mais um dia sem escrever, vou me sentir muito mal. Carregarei não apenas pilhas extras de papéis com anotações como uma sensação de culpa.
A semana foi de lascar. Em parte, porque foi cansativa, mas também porque foi cheia de desgostos.
Eis alguns dos muitos compromissos, com comentários:
- Na segunda-feira, depois de um dia cheio como todos, participei da rodada de encontros de alunos do Colégio Bandeirantes com candidatos à prefeitura. Conversei com eles por mais de duas horas; foi ótimo. Era um grupo de pessoas (na maioria, adolescentes e jovens) com um interesse incrível, raro de encontrar. Sem falar nos que participaram pela internet. Saí de lá exausta, mas feliz.
- Na terça, novo encontro, dessa vez com alunos da Faap. Como na véspera, cada candidato teria direito a uma sessão “individual”, apresentando seu programa de governo e respondendo a perguntas em seguida. Algumas pessoas assistiram à minha apresentação e gostaram. Mas eu tinha feito a mesma palestra no Bandeirantes doze horas antes, e fiquei com a sensação de que a segunda não foi tão boa quanto a primeira. A gente fica se sentindo meio disco riscado depois de um tempo...
- À noite, encontro com empresários do setor de serviços na inauguração da sede da Cebrasse (Central Brasileira do Setor de Serviços). Muito bom, muito interessante. Questionamentos sobre reforma tributária, gestão da máquina pública, relacionamento com a Câmara, gestão de resíduos... Foram mais duas horas e tanto de conversa. Para chegar lá de moto, um parto: levei de 15 a 20 minutos para contornar quatro quarteirões na região da Paulista. Imagine quem estava de carro. Não sei como vocês (motoristas) agüentam.
- Na quarta de manhã (8:30), abertura da Mostra de Responsabilidade Ambiental da Fiesp no prédio da Bienal. Queria passar horas visitando todos os stands, fotografando todos os objetos feitos de material reaproveitado ou reciclado, assistindo aos debates, mas precisei dar uma passada meio rápida porque às 11:00 teria entrevista na CBN. Foi legal, embora eu tenha falado rápido demais, na minha ansiedade para fazer caber um mundo de assuntos em pouco tempo.
Na saída da rádio, conheci uma personagem que merece um post exclusivo – D. Carmem. Uma figura incrível; ainda bem que cheguei a fotografá-la (embora o ideal fosse gravar a conversa, impossível de descrever com a riqueza de detalhes que ela merecia). D. Carmem queria falar com os repórteres da rádio sobre a “lotação” (microônibus) que não pára para os idosos. Esticamos a conversa na calçada e aprendi coisas fantásticas sobre ela. Por exemplo: trabalhou para o irmão do Portinari. Pelo menos é o que diz, de um jeito bem convincente.
- Na quarta à tarde, audiência no cartório eleitoral relativa ao processo movido pelo PT contra mim, exigindo que eu abra mão do mandato (por ter mudado de partido). Além de algumas irritações que já contei em post anterior, o juiz quase levou todos nós à loucura – eu, os advogados da minha parte, os advogados do PT... Ele fazia caretas e reclamava ostensivamente de algumas perguntas (dos dois lados). “Isso é coisa que se pergunte?”; “Mas que obviedade, meu deus do céu”; “Que pergunta mais enrolada, doutor. Não dá pra simplificar, não?”; “O sr. quer mesmo perguntar isso? É hoje que a gente não sai daqui”; “Eu vou direto pro céu, depois dessa”. É, assim mesmo. Rude, inconveniente. Entre uma testemunha e outra, se queixava da vida, do trabalho, da feira livre na rua de cima, dos advogados das causas que precisou julgar na 31ª. vara... Coisa de doido.
- À noite, fomos à Favela da Caixa D´Água, em um dos extremos da zona leste de São Paulo. Como freqüentemente acontece, pessoas muito simples, muito humildes, muito cansadas, se aproximaram esperançosas, querendo saber “o que você vai fazer pela gente”. “Você vai me arrumar um trabalho? Porque eu estou precisando”, disse um senhor negro, já idoso, de olhar muito doce. Outra mulher se aproximou: “Eu também. Eu preciso trabalhar”. Vieram pedir, mesmo – não cobrar. Quase imploraram.
É de cortar o coração. Dá vontade, mesmo, de arrumar qualquer coisa para eles fazerem AGORA – pelo padrão de vida que levam, pela idade e as possibilidades que têm, entregar folhetos de campanha a R$100,00 por semana já seria uma grande coisa. Mas é isso que a gente vai fazer, é assim que vai resolver?
É duro, em época de campanha várias favelas se animam porque sabem que vai aparecer dinheiro, remédio, cesta básica, eletrodoméstico... Mas e depois?
Respondi a eles que eu não podia arrumar emprego para um e para o outro, mas que posso, como prefeita, dar incentivo para empresas se instalarem na região, gerando emprego para muitas pessoas.
A mulher sacudiu a cabeça, com um sorriso triste, faltando um dente – “E uma empresa vai querer vir funcionar aqui?” É como se fosse o Garrincha tentando entender a estratégia do técnico, “mas você já combinou com os russos?”
Aquela mulher já se acostumou a viver no fim do mundo. Não espera que o lugar deixe de ser no fim do mundo. “Empresa aqui? Tsc, tsc”.
- A semana não acabou aí, não descrevi todos os compromissos e ocupações, mas já escrevi o suficiente para não ficar tão defasada e daqui a pouco vou dormir. Amanhã de manhã tem rádio Bandeirantes, depois uma ida à redação do Grupo 1 de jornais, à noite tem evento do Nossa São Paulo na zona leste... Depois eu conto o resto.
Terminei a semana rodando com o combustível na reserva (e olha que deixei de ir a vários lugares – lançamento de CD do Pentágono no CEU Rubi, Bienal do Livro, encontro preparatório da Conferência Regional de Direitos Humanos, estréia da peça de uma amiga...). No sábado, a sujeira do fundo do tanque subiu e sujou o carburador. Não, não estou falando da moto, mas daquela peça que vai em cima do banco e embaixo do capacete. Rateei, engasguei, travei. Fui a nocaute no sábado à tarde, com uma enxaqueca que pontuou bem alto no ranking histórico. À noite, teria quatro compromissos, mas só agüentei dois.
No domingo de manhã, dei uma passada no Parque Aquarius (Zona Leste de novo). À tarde, encontro com candidatos organizado pela Cúria Regional da Brasilândia (Marta mandou Aldo representá-la; Alckmin, Kassab e Maluf não mandaram ninguém! Ivan, Reichman e Edmilson foram). À noite, o mais legal: uma conversa de horas com um grupo pequeno de pessoas na Trópis, uma ONG (na verdade, não tenho certeza se é ONG) na Vila das Belezas (Zona Sul). Foi ótimo... De novo, interesse genuíno, faiscante, inquiridor. Não dava vontade de ir embora. Café, pão de queijo, estantes de livros, almofadas no chão, crianças circulando, perguntas e mais perguntas, abraços fortes, sonhos compartilhados.
Tanque abastecido outra vez, vamo que vamo. Mas deixa eu descansar um pouco senão não agüento. (Esta semana, pela primeira vez desde que começou a campanha, eu me perguntei: “Falta muito???” Tenho estado muito cansada mas muito feliz; quando a felicidade falta, o cansaço vira um monstro horroroso. ).