quarta-feira, 13 de agosto de 2008

"Normais"

Saí agora há pouco do cartório eleitoral em que foram ouvidas algumas das testemunhas do processo que o PT move contra mim por eu ter saído do partido antes da conclusão do mandato.

Pelo PT, depuseram três vereadores – o presidente do Diretório Municipal e dois ex-líderes da bancada na Câmara Municipal.

O que eles disseram, basicamente, foi que eu sempre me entendi muito bem com todo mundo, nunca reclamei de nada, estava sempre muito feliz no partido. Depois de alguma insistência nas perguntas, admitiam divergências aqui e ali – tudo coisa “normal na política”.

Pois é, vai definir o que é “normal na política”...

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Independentemente da definição do que é divergência “normal”, fiquei furiosa quando disseram que eu nunca me indispus seriamente contra as decisões e orientações da liderança do partido na Câmara.

Em várias ocasiões, na reunião semanal da bancada, eu disse “NEM F***!”, diante de um pedido para votar assim ou assado.

Eu sabia que devia ter gravado. Aliás, várias vezes eu saí da reunião e voltei para o gabinete dizendo: “Eu devia ter gravado a reunião, porque se eu contar vocês não vão acreditar!”. Eu anotava em papel de rascunho lia alguns argumentos usados para defender nossas “estratégias em plenário” e os assessores ficavam passados... Exemplo: “O projeto do Executivo é bom, mas não vamos botar azeitona na empada dos tucanos. Temos de ter em mente o quadro eleitoral em 2006, então vamos obstruir a votação”, blá-blá-blá. Eu ficava doida: “O projeto é bom? E nós não vamos votar nele exatamente porque ele é bom?”. “Sim, porque uma coisa é a análise de mérito, e outra é a tática de plenário em função da estratégia política...”. Blá-blá-blá.

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Os tucanos, por sua vez, fazendo a mesma coisa em Brasília. Dizendo que o mais importante era “ferrar o Lula”, e dá-lhe Severino presidente da Câmara Federal.

Que beleza.


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Às vezes, a resposta das testemunhas do PT era “não me recordo”. Normal não se recordar de algumas coisas, mas tem episódios que deveriam ser inesquecíveis.

Por exemplo: a eleição dos presidentes das Comissões Permanentes. Só depois de estar na Câmara eu soube que a eleição é combinada antes entre os líderes dos partidos. Os vereadores se reúnem, dizem “eu voto em fulano para presidente da Comissão”, mas o voto não foi decidido por eles, e sim pelas lideranças das bancadas. Que fazem lá seus acordos - “O PT fica com duas comissões menores, o Centrão com duas grandes e três pequenas, o PSDB fica sem nenhuma” – e discutem ou apenas comunicam às bancadas.

Pois eu fui comunicada de que a Comissão de Administração Pública, da qual eu seria membro, deveria votar em Agnaldo Timóteo, do PP, para sua presidência.

Eu disse que não poderia ir à Comissão e dizer “eu voto nele” porque, por motivos diversos, eu simplesmente não votaria nele - não votaria nele para vereador em São Paulo, muito menos para presidente de uma Comissão. E que não via como poderia explicar aos meus eleitores: “Ele não era meu candidato, mas o partido fez um acordo com o Centrão e eu tive de votar nele”.

“Soninha, você tem de entender que política é assim, o Parlamento é assim, aqui é assim”. “Eu não sou assim! Não vou votar a favor de algo que sou contra porque os líderes das bancadas fizeram um acordo!!!”.

Como seria péssimo para o acordo (no entendimento deles) que eu votasse contra (embora os outros 6 votos “acordados” fossem mais do que suficientes para elegê-lo), o partido decidiu me colocar em outra comissão (a de Constituição e Justiça). E por causa dessa “rebeldia” acabei fazendo parte de uma das comissões mais prestigiadas da Câmara...

Só falta esquecerem que eu fui pra CCJ para evitar aborrecimentos com o Centrão – e dizerem que fui “prestigiada” pelo partido na ocasião...

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Agnaldo Timóteo defende muito o Lula. Também defende a ditadura. E acha esse negócio de "combate à exploração sexual de adolescentes" uma hipocrisia, porque as meninas de 14 anos "já têm peito, usam aqueles shortinhos... Ganham um cascalho do turista, o que é que tem?"

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