terça-feira, 29 de julho de 2008

Das 7h30 às 10h00

- Sete e meia da terça???

Fiquei de mau humor no domingo à noite, quando soube que teria um compromisso tão cedo no dia seguinte à festa de lançamento da candidatura...
Nos últimos anos, percebo como a idade me fez menos tolerante a noites mal dormidas, ou de sono insuficiente... Nunca fui de dormir muito, mas hoje em dia cinco horas de sono me deixam imprestável no dia seguinte.

Azar. “Não vou morrer por causa disso, mas da próxima vez tentam evitar uma noite longa seguida de uma manhã cedo!”

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O compromisso era uma missa na Igreja Matriz da Freguesia do Ó, seguida por uma conversa com os paroquianos e uma visita a obras assistenciais no bairro.

Foi muito gostoso.

Estava um dia lindo – exceto pela poluição... Mas um sol luminoso e o ar bem frio, uma combinação que eu adoro. Entrei na igreja quando cantavam, com violão acompanhando, uma das minhas músicas favoritas do tempo de Colégio Santana – que a gente se esgoelava de cantar até nos ônibus de excursão... (Pra quem era companheira dessa época: adivinhem qual. Daqui a pouco eu conto).

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Mesmo quando eu freqüentava a igreja, achava incrível pensar que as pessoas iam à missa às 7:30 da manhã em um dia de semana. Uma vizinha ia a todas elas; era algo muito exótico para mim.

Mas depois virei budista, e comecei a fazer meditação às 6 da manhã... Hoje em dia não começo tão cedo, mas acho super natural pular da cama no escuro quando estou em retiro ou algo assim, para ir ao templo com os outros praticantes rezar pelo fim do sofrimento no mundo...

Então me vi na igreja achando aquilo muito natural, agradável, inspirador; curti as músicas, o sermão bem coloquial e sereno do padre, a liturgia que ainda sei de cor, muitos anos depois (27) de parar de ir à missa toda semana. E localizar, na pasta com as músicas que é distribuída aos fiéis, várias das minhas antigas favoritas: “Sobe a Jerusalém/ Virgem oferente sem igual...”; “Quando teu Pai revelou o segredo a Maria/ que pela força do Espírito conceberia...”.

Havia mais pessoas idosas do que jovens, mas reparei em um motoboy na fileira do fundo e em duas moças de aparência muito simpática e atraente, que depois soube serem irmãs – uma faz Direito no Mackenzie; a outra é fisioterapeuta na UTI de um hospital na região da Paulista. Normalmente, SAI do trabalho às 7 da manhã, mas hoje estava de folga.

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A música que a gente adorava cantar no Colégio (em duas vozes, o que era uma glória) era “o Louvado”, como dizíamos. “Louvado seja o meu senhor (4x)/ Por aqueles que agora nascem/ Por aqueles que agora morrem...”.

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Eu freqüentava a Missa das Crianças, às 9 da manhã na Paróquia de Santa Terezinha. Era no salão paroquial nos fundos da igreja, rezada o Padre Giba (que as crianças, insolentes sem querer, chamavam só de Giba). As crianças se encarregavam de tudo: a procissão inicial com os paramentos do padre e os objetos para o altar, a procissão de oferenda, as leituras... Arrumavam as cadeiras, limpavam o salão depois... Eu adorava aquilo. Queria saber tudo, participar de tudo. Quando havia missas especiais, em que eram distribuídos presentes para as crianças do bairro (chocolates na Páscoa, por exemplo), eu sempre me voluntariava para participar da organização. Passávamos horas enchendo coelhos de plástico com confeitos...

Um dia, resolveram eleger uma “diretoria” para que houvesse responsáveis fixos por determinadas tarefas, para representar as crianças junto ao padre e sei lá mais o quê. Sei que me elegeram presidente – e eu juro, por tudo que é mais sagrado, que fiquei surpresa. No Colégio, eu sabia que era bem conhecida (tinha entrado na primeira série com 5 anos, tirava notas muito boas, essas coisas), mas na igreja eu não tinha percebido ainda.

E aí estão duas raízes importantes da minha militância política: o Colégio e a igreja. Em casa, a grande influência era minha mãe – que nunca participou de nenhum movimento organizado, mas era uma revoltada de marca maior :o). Indignada com a ditadura, tortura, censura, injustiça, desigualdade, hipocrisia, incoerência, indiferença, opressão, exploração, egoísmo... Racismo, machismo, capitalismo... Uma frase clássica de minha mãe: “Nunca vou ser rica!”. Era o que dizia, com raiva, quando via alguma cena de miséria. Não admitia excesso de um lado e tanta falta de outra.

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Depois da missa e de uma de minhas experiências gastronômicas favoritas – café-com-leite e pão-com-manteiga-na-chapa na padaria – fomos até uma das creches mantidas pelos religiosos em convênio com a prefeitura.

No total, são 7 creches e 3 ou 4 núcleos sócio-educativos (para adolescentes e jovens). Essa que eu conheci é um espetáculo. Tudo é tão bem cuidado – as salas para as crianças, refeitório, cozinha, banheiros, salão de encontros – que inspira confiança só por ser como é. E pudemos ver as professoras em ação, cuidando com muita atenção da molecadinha. Uma graça. (E eu lembrei de como trabalhar em creche é exaustivo... Especialmente quando as condições são ruins e você tem 20 crianças para olhar sozinha, como aconteceu em alguns casos).

Muita gente boa da educação é contra os convênios; os aceitam como solução complementar porque a rede própria da prefeitura não daria conta de atender todo mundo (já tem um déficit monstruoso de vagas). Eu não, sou a favor. Desde que haja acompanhamento – da prefeitura e dos pais – é ótimo que a própria comunidade organizada tenha um equipamento como esse para suas crianças. Conheci várias creches conveniadas nas quais deixaria minha filha com tranqüilidade – na favela de Heliópolis ou no Núcleo Cristão do Parque Novo Mundo. A responsabilidade e dever de oferecer vagas para todas as crianças É do Poder Público, mas a oferta do serviço pode ser em parceria, sim, com muita qualidade. (E o equipamento administrado diretamente pela prefeitura também precisa de acompanhamento para garantir que o serviço seja bom!).

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Antes de visitar a creche, encontrei o Padre Noé em seus aposentos, que ficam no prédio da creche. Uma pessoa muito conhecida e querida na Freguesia, grande líder na construção de toda essa rede comunitária. Já tinha ouvido falar muito nele, mas conhecê-lo foi uma experiência encantadora.

Sabe aqueles líderes religiosos na presença dos quais você se sente serenamente bem, comovido, acolhido com calor genuíno, generosidade sincera, pura bondade? Foi como me senti. Já passei por isso no encontro com alguns mestres budistas, que parecem irradiar bem-querer e bem-estar. Foi uma sensação idêntica. Que querido, o padre Noé!

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Até aqui, não eram nem dez da manhã – e o dia teve muito mais do que isso. Estive no Fórum, a um Clube Escola, fui para a Câmara, corri até a FAU Maranhão para tentar comparecer ao velório do Joaquim Guedes (como é chocante alguém morrer atropelado... Não me conformo), estive no dentista, encontrei um conhecido de muito tempo atrás na Paulista, um “maluco” (auto-definido) na calçada disse que sonhava me conhecer e agora vou a um evento do Ivaldo Bertazzo na Ria Vitória. Em cada uma dessas frases entre vírgulas, há muito que contar (ok, posso dispensá-los do dentista). Talvez eu consiga escrever mais um pouco ainda hoje, mas não prometo. Aliás, não prometo nada que eu não tenha certeza que posso fazer :o).