Mais uma semana com saudade do computador. Passei muito menos tempo com ele do que gostaria, e com menos liberdade de escolha. Nas poucas horas de contato, em vez de escrever sobre o que bem entendesse, respondi não sei quantas entrevistas por e-mail. Tudo “pra hoje”, como se a nossa agenda (de candidato) fosse igual à do fechamento dos jornais, revistas e sites...
Depois de chorar um pouco, conseguimos prorrogação de alguns prazos: “Ok, para amanhã, até o fim da tarde”. E dá-lhe longos questionários e controle rigoroso de tamanho das respostas...
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Um deles era para um portal online (acho que a Folha – chega uma hora que a gente já nem sabe mais para quem está respondendo). Como era para internet, escrevi livremente, usando 3 parágrafos para responder sobre saúde, 3 sobre moradia, outros 3 sobre transporte coletivo... Relacionei as várias ações que acho necessárias, expliquei por que, descrevi como era possíveis.
Nada feito. Só depois da última resposta, vi a recomendação da jornalista: “Por favor, respostas curtas e objetivas”. A meu pedido, ela traduziu isso em números: “7 linhas. É igual para todo mundo. Quer refazer ou nós editamos por aqui?”.
Quis refazer, claro. Protestando: “Algumas PERGUNTAS tem sete linhas!!”. Ela sorriu por escrito: “É, vamos ter de editar por aqui também :o).”
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A Vejinha procurou duas vezes. Uma na segunda: “Respostas até terça, se possível”. A Lylian, que organiza minha agenda (e sabe que duzentas atividades nem sempre podem ocupar o mesmo lugar no espaço), respondeu: “E se não for possível?”. “Bom, aí a gente vai publicando aos poucos, em ordem alfabética, até no máximo sexta”. Vai ver a resposta não foi bem assim, mas consegui um tempo e respondi na segunda mesmo. Se os outros atrasarem, lá vou eu para o fim da fila por ordem alfabética...
Na quinta, Vejinha outra vez: “Os leitores querem saber” – várias perguntas para sexta. Coisas “simples”, do tipo: “Qual a decisão mais urgente para o prefeito?”. Comecei a responder no começo da noite de sexta, com pouquíssima energia. (Depois do debate na Band, cheguei em casa depois de 1h30, fiquei conversando com a minha filha por quase uma hora e demorei mais uns 20 minutos para dormir. No dia seguinte, de manhã, fui fazer campanha no Largo 13. Quase não cansa...).
Apanhei pra burro para escrever até mesmo as respostas que já dei mil vezes (“O que fazer para melhorar o transporte coletivo?”). E também não conseguia ter concentração total porque tinha de atender a várias outras solicitações enquanto respondia (como ouvir o relatório de um SOS que atendemos de manhã, quando ligaram para avisar que a GCM estava removendo “gentilmente” moradores de rua da porta da Faculdade São Francisco). Normalmente, consigo fazer tranqüilamente duas ou três coisas ao mesmo tempo, escrever com barulho em volta, mas o problema é que já estava rodando com o tanque na reserva.
Depois de uma hora e meia avançando a passo de lesma e cinco perguntas respondidas, o aviso tenebroso aparece no meio da tela: “O Explorer encontrou um problema e deverá ser encerrado”.
Ironia filha da mãe. Não estava no meu computador, mas no de um amigo. Que sempre tira um sarro quando dá pau no meu Mozilla Firefox (software livre). No dele tem Windows, e dá pau justo comigo, sem me dar chance para tirar um sarro... Muito pelo contrário.
Como desgraças nunca vêm sozinhas, o pau foi federal, não consegui restabelecer a conexão. Eu estava respondendo direto no gmail, que normalmente salva rascunhos das mensagens à medida que elas vão sendo escritas. Um doce para quem adivinhar o que aconteceu: quando abri o email no outro computador, a versão salva era de horas atrás, quando ainda estava na metade de primeira resposta.
Desisti. O Portal da Vejinha está esperando até agora...
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O Estadão mandou uma série de perguntas com o prazo para cada uma – a primeira, adivinhe? Para o mesmo dia. Aparentemente, todas as assessorias reclamaram, e eles deixaram para o dia seguinte (quinta – o dia do debate).
O tema, se não me engano, era moradia. “1500 caracteres. Todos os candidatos terão o mesmo espaço”.
Essa “nóia” da isonomia é de enlouquecer. Se um candidato quiser responder em 3 linhas e o outro em 30, não pode. Todos têm de ter soluções do mesmo tamanho em centímetros de jornal. Espremi minhas observações sobre moradia o quanto pude, eliminei quatro ou cinco itens importantes, mas ainda ficaram 1622 toques. “Desculpe, não podemos aceitar. Nós editamos ou você quer refazer?”.
Não sei como, consegui exatos, redondos 1500 toques depois de uma ajeitada aqui e outra ali. Se algumas explicações ficaram meio superficiais? Pode apostar.
Um repórter ou colunista de jornal está sempre submetido a esses limites. Agora os candidatos a prefeito têm de aprender a trabalhar com isso – ou seus assessores, caso não sejam eles quem responde. A complexidade dos problemas fica para algum outro foro...
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Que não pode ser o debate na televisão, onde também há o tempo de 90 segundos em que se permite apenas concluir a frase – está no regulamento, devidamente aprovado por todos os assessores. Isso dá dois ou três segundos de tolerância, não mais.
Não é só quando estou debatendo que isso me aflige. Quando estou assistindo, também. Sempre me coloquei no lugar dos debatedores... Aliás, experimente você também: pergunte-se qualquer coisa complexa, delicada – exemplo: “Quais as suas propostas para acabar com a desigualdade no Brasil?”; “O que o Fluminense deve fazer para sair da zona de rebaixamento?”, e aquela básica: “Como acabar com os congestionamentos em São Paulo?”. Se você quiser recorrer ao senso-comum, fica mais fácil: “melhorar o transporte coletivo/ melhorar o ataque e a defesa/ criar empregos”. Mas se quiser ser um pouquinho mais elaborado... Vá lá. Tente. Pode pensar um pouco antes, mas na hora em que se fizer a pergunta, dispare o cronômetro imediatamente. Não é mole não.
Quando um jornalista ou locutor precisa gravar alguma coisa em precisamente 30, 60 ou 90 segundos, tem um texto escrito cuidadosamente na medida. Vai ao estúdio, grava a primeira. “Deu?”. “Estourou três segundos. De novo”. E refaz tantas vezes quanto for necessário.
No debate, não tem nada escrito, não dá tempo de pensar um pouco, não dá pra fazer de novo!
Bom, ninguém mandou entrar nessa história (e não estou nem um pouco arrependida, muito pelo contrário). E se não me convidassem para responder em 7 linhas, 1500 caracteres ou 90 segundos, eu ficaria louca da vida! Ainda bem que estou incluída. Mas não resisto a (mais) uma reclamadinha.
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Interrompi o texto para atender o interfone. “Tem um rapaz da Justiça Eleitoral aqui”.
Pensei que era a respeito do processo de perda de mandato – posso ser intimada para a audiência a qualquer momento. Não era.
“Chegou ao conhecimento desta Promotoria Eleitoral que o site oficial da Câmara dos Vereadores, na apresentação dos seus vereadores, apresenta links de alguns destes direcionados para seus sites de campanha”. Acusados: eu, o Natalini, a Mara Gabillli, o Paulo Fiorilo, o Apolinário, o Neder e o Goulart. Na interpretação da Promotoria, isso permite “a realização de propaganda eleitoral em espaço público”.
Bem, o site da Câmara não traz link para meu site de campanha (soninha23.can.br), mas meu site pessoal, soninha.com.br. Onde eu informo, sim, que sou candidata. Ok, se não posso, não informarei mais. Vou tirar o banner.
Mas essa discussão sobre o que é “espaço público” e o que um link representa para efeito da lei eleitoral mal começou.
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Os vereadores Dalton Silvano, Donato e Zelão também foram notificados. Porque, “apesar de não apresentarem os números de campanha, indicam os partidos políticos a que pertencem”.
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“Não sabia que vocês trabalhavam aos domingos”, disse ao oficial de justiça.
“E feriados”, respondeu.
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Vou responder às perguntas do portal Veja São Paulo (se é que ainda adianta) e depois eu volto.