Saí agora há pouco do cartório eleitoral em que foram ouvidas algumas das testemunhas do processo que o PT move contra mim por eu ter saído do partido antes da conclusão do mandato.
Pelo PT, depuseram três vereadores – o presidente do Diretório Municipal e dois ex-líderes da bancada na Câmara Municipal.
O que eles disseram, basicamente, foi que eu sempre me entendi muito bem com todo mundo, nunca reclamei de nada, estava sempre muito feliz no partido. Depois de alguma insistência nas perguntas, admitiam divergências aqui e ali – tudo coisa “normal na política”.
Pois é, vai definir o que é “normal na política”...
***
Independentemente da definição do que é divergência “normal”, fiquei furiosa quando disseram que eu nunca me indispus seriamente contra as decisões e orientações da liderança do partido na Câmara.
Em várias ocasiões, na reunião semanal da bancada, eu disse “NEM F***!”, diante de um pedido para votar assim ou assado.
Eu sabia que devia ter gravado. Aliás, várias vezes eu saí da reunião e voltei para o gabinete dizendo: “Eu devia ter gravado a reunião, porque se eu contar vocês não vão acreditar!”. Eu anotava em papel de rascunho lia alguns argumentos usados para defender nossas “estratégias em plenário” e os assessores ficavam passados... Exemplo: “O projeto do Executivo é bom, mas não vamos botar azeitona na empada dos tucanos. Temos de ter em mente o quadro eleitoral em 2006, então vamos obstruir a votação”, blá-blá-blá. Eu ficava doida: “O projeto é bom? E nós não vamos votar nele exatamente porque ele é bom?”. “Sim, porque uma coisa é a análise de mérito, e outra é a tática de plenário em função da estratégia política...”. Blá-blá-blá.
***
Os tucanos, por sua vez, fazendo a mesma coisa em Brasília. Dizendo que o mais importante era “ferrar o Lula”, e dá-lhe Severino presidente da Câmara Federal.
Que beleza.
***
Às vezes, a resposta das testemunhas do PT era “não me recordo”. Normal não se recordar de algumas coisas, mas tem episódios que deveriam ser inesquecíveis.
Por exemplo: a eleição dos presidentes das Comissões Permanentes. Só depois de estar na Câmara eu soube que a eleição é combinada antes entre os líderes dos partidos. Os vereadores se reúnem, dizem “eu voto em fulano para presidente da Comissão”, mas o voto não foi decidido por eles, e sim pelas lideranças das bancadas. Que fazem lá seus acordos - “O PT fica com duas comissões menores, o Centrão com duas grandes e três pequenas, o PSDB fica sem nenhuma” – e discutem ou apenas comunicam às bancadas.
Pois eu fui comunicada de que a Comissão de Administração Pública, da qual eu seria membro, deveria votar em Agnaldo Timóteo, do PP, para sua presidência.
Eu disse que não poderia ir à Comissão e dizer “eu voto nele” porque, por motivos diversos, eu simplesmente não votaria nele - não votaria nele para vereador em São Paulo, muito menos para presidente de uma Comissão. E que não via como poderia explicar aos meus eleitores: “Ele não era meu candidato, mas o partido fez um acordo com o Centrão e eu tive de votar nele”.
“Soninha, você tem de entender que política é assim, o Parlamento é assim, aqui é assim”. “Eu não sou assim! Não vou votar a favor de algo que sou contra porque os líderes das bancadas fizeram um acordo!!!”.
Como seria péssimo para o acordo (no entendimento deles) que eu votasse contra (embora os outros 6 votos “acordados” fossem mais do que suficientes para elegê-lo), o partido decidiu me colocar em outra comissão (a de Constituição e Justiça). E por causa dessa “rebeldia” acabei fazendo parte de uma das comissões mais prestigiadas da Câmara...
Só falta esquecerem que eu fui pra CCJ para evitar aborrecimentos com o Centrão – e dizerem que fui “prestigiada” pelo partido na ocasião...
***
Agnaldo Timóteo defende muito o Lula. Também defende a ditadura. E acha esse negócio de "combate à exploração sexual de adolescentes" uma hipocrisia, porque as meninas de 14 anos "já têm peito, usam aqueles shortinhos... Ganham um cascalho do turista, o que é que tem?"
****
Mau humor mau humor mau humor mau humor
sexta-feira, 8 de agosto de 2008
Chá de computador
Hoje não posso reclamar de saudade do computador. Passei o dia com ele.
Uma entrevista que eu daria às duas da tarde foi cancelada (pelo que entendi, a repórter ficou presa – modo de dizer – em Brasília). A caminhada na PUC, também (por causa do mau tempo). Assim, fiquei horas e horas em torno de emails, google, blog, newsletters, youtube, convites, propagandas, jornais e portais de notícias, site da prefeitura e Secretarias... E às voltas com mais mil entrevistas por escrito – sobre o setor de comércio, sobre o setor de serviços, a Zona Norte, Saúde, Ceagesp, Cultura, trânsito, bicicletas, ficha suja. Para jornais de bairro, jornais de classe, jornalões, sites, blogs e orkuts. Até pra uma TV (Cultura) eu dei entrevista por escrito.
***
De novo, me pediram para responder “de maneira sucinta, em até cinco linhas” a perguntas de cinco linhas. Coisinha simples: “Como evitar a curto prazo os engarrafamentos em áreas de crescimento imobiliário acentuado, como em Santana, onde há apenas uma linha de metrô como opção aos transportes rodoviários? E o que fazer para evitar o trânsito intenso em bairros como Vila Medeiros, Santana e Vila Guilherme onde há um terminal de cargas (o terminal Fernão Dias) e o fluxo de caminhões é alto?”. Dá pra ser sucinto??? Com um detalhe: “queremos saber de onde virá o dinheiro para cada proposta e o prazo estimado para entrega de obras”. Acho q o prblma é a geração MSN. Vou comçar a escrver assim, p ver s kb.
Uma entrevista que eu daria às duas da tarde foi cancelada (pelo que entendi, a repórter ficou presa – modo de dizer – em Brasília). A caminhada na PUC, também (por causa do mau tempo). Assim, fiquei horas e horas em torno de emails, google, blog, newsletters, youtube, convites, propagandas, jornais e portais de notícias, site da prefeitura e Secretarias... E às voltas com mais mil entrevistas por escrito – sobre o setor de comércio, sobre o setor de serviços, a Zona Norte, Saúde, Ceagesp, Cultura, trânsito, bicicletas, ficha suja. Para jornais de bairro, jornais de classe, jornalões, sites, blogs e orkuts. Até pra uma TV (Cultura) eu dei entrevista por escrito.
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De novo, me pediram para responder “de maneira sucinta, em até cinco linhas” a perguntas de cinco linhas. Coisinha simples: “Como evitar a curto prazo os engarrafamentos em áreas de crescimento imobiliário acentuado, como em Santana, onde há apenas uma linha de metrô como opção aos transportes rodoviários? E o que fazer para evitar o trânsito intenso em bairros como Vila Medeiros, Santana e Vila Guilherme onde há um terminal de cargas (o terminal Fernão Dias) e o fluxo de caminhões é alto?”. Dá pra ser sucinto??? Com um detalhe: “queremos saber de onde virá o dinheiro para cada proposta e o prazo estimado para entrega de obras”. Acho q o prblma é a geração MSN. Vou comçar a escrver assim, p ver s kb.
quarta-feira, 6 de agosto de 2008
Ficha suja
Já me perguntaram muitas vezes sobre os candidatos de “ficha suja”.
O que eu penso sobre o assunto?
Eu também me perguntei... Preciso organizar a resposta em partes (enquanto assisto à Sessão do STF que “julga ADPF que permite negar o registro de candidatura a políticos que respondem a processo judicial”).
1) No mínimo, temos direito à informação sobre os processos que os candidatos a cargo eletivo estejam respondendo na Justiça. Se disserem respeito ao exercício de função pública, nem se fala. Mas é importante qualificar, aprofundar essa informação. Qual é o processo; qual a acusação? Quem acusa? Em que ocasião? Por quê? Porque toda pessoa está sujeita a acusações inverídicas, por engano ou por má-fé – que não é muito rara na vida pública... Para prejudicar um adversário político, algumas pessoas lançam mão de qualquer recurso. Sabendo o contexto em que foi iniciado o processo, pode-se formar um juízo mais bem embasado – seja qual for a conclusão final da Justiça.
Portanto, sou a favor da publicação da “ficha”, desde devidamente explicada e contextualizada.
2) Quanto à impossibilidade de disputar eleição enquanto estiver respondendo a processos na Justiça – no primeiro momento, em um impulso, fiquei de acordo. Logo em seguida, lembrei da (óbvia) possibilidade de acusações injustas, e do quanto seria duplamente injusto impedir a candidatura de alguém que depois fosse absolvido, e mudei de idéia.
Em seguida...
[Vou interromper porque tenho de sair agora, ou perco minha carona para o Sarau da Cooperifa. Continua no próximo capítulo]
O que eu penso sobre o assunto?
Eu também me perguntei... Preciso organizar a resposta em partes (enquanto assisto à Sessão do STF que “julga ADPF que permite negar o registro de candidatura a políticos que respondem a processo judicial”).
1) No mínimo, temos direito à informação sobre os processos que os candidatos a cargo eletivo estejam respondendo na Justiça. Se disserem respeito ao exercício de função pública, nem se fala. Mas é importante qualificar, aprofundar essa informação. Qual é o processo; qual a acusação? Quem acusa? Em que ocasião? Por quê? Porque toda pessoa está sujeita a acusações inverídicas, por engano ou por má-fé – que não é muito rara na vida pública... Para prejudicar um adversário político, algumas pessoas lançam mão de qualquer recurso. Sabendo o contexto em que foi iniciado o processo, pode-se formar um juízo mais bem embasado – seja qual for a conclusão final da Justiça.
Portanto, sou a favor da publicação da “ficha”, desde devidamente explicada e contextualizada.
2) Quanto à impossibilidade de disputar eleição enquanto estiver respondendo a processos na Justiça – no primeiro momento, em um impulso, fiquei de acordo. Logo em seguida, lembrei da (óbvia) possibilidade de acusações injustas, e do quanto seria duplamente injusto impedir a candidatura de alguém que depois fosse absolvido, e mudei de idéia.
Em seguida...
[Vou interromper porque tenho de sair agora, ou perco minha carona para o Sarau da Cooperifa. Continua no próximo capítulo]
Médicos e periferia
Muita gente achou estranho eu falar em “médicos da periferia” no debate da Bandeirantes. Vou explicar.
Há anos existe um problema sério de conseguir profissionais de saúde – médicos, principalmente – para trabalhar na periferia das grandes cidades (e nos rincões do país).
Como resolver isso?
Oferecer salário maior ou gratificações em dinheiro para quem se dispuser a trabalhar tão longe é uma providência interessante, mas insuficiente. Às vezes, você não consegue alguém para preencher uma vaga, mesmo oferecendo o dobro. Por que? Porque as condições são horríveis. O prédio está caindo aos pedaços, equipamentos estão quebrados, faltam materiais... Depois o médico não consegue atender direito o paciente e ainda é ameaçado ou agredido (fora outras formas de violência possíveis).
Portanto, tem de haver boas condições de trabalho, claro, e reforço na segurança.
Pode haver também uma ajuda no translado. Para chegar ao trabalho mais descansado, menos estressado, não precisar encarar muitos quilômetros atrás do volante gastando muita gasolina, pode haver um serviço de vans que cumpra determinado roteiro e leve os profissionais de saúde até os postos mais distantes. Essa também é uma medida de segurança – e de estímulo à freqüência e pontualidade. Sim, porque além da falta de médicos, em alguns lugares o problema é que os médicos faltam...
Mas eu acho que a gente não pode aceitar essa situação como natural. Partir sempre do princípio que a periferia é um lugar inseguro, onde é difícil chegar, e que precisa “importar” médicos dos bairros ricos e mais centrais. Péra lá...
Não podemos ficar a vida inteira pensando em como estimular e facilitar a “viagem” dos médicos até os bairros pobres. Temos de pensar em investir na periferia para que ela deixe de ser um satélite do bairro rico; para que na periferia surjam médicos, professores, advogados, psicólogos, dentistas, arquitetos, engenheiros, biólogos...
A prefeitura não tem como seu dever investir em formação de nível superior – alguns até defendem isso. A Marta chegou a anunciar a criação de uma faculdade; há projetos de lei prevendo a concessão de bolsas para ensino superior. Mas a prefeitura tem de primeiro dar conta do que é atribuição sua – creches, pré-escolas, ensino fundamental (CEIs, EMEIs, EMEFs). O estado e o governo federal têm de se ocupar do ensino médio e superior. (Aliás, acho meio absurdo que o estado tenha milhares de escolas de ensino fundamental sob sua responsabilidade. Essa divisão deveria ser mais bem definida).
Mas, continuando, a prefeitura tem de garantir educação infantil e ensino fundamental de qualidade. O estado, melhorar 400% o ensino médio. Para que as crianças e jovens da periferia desenvolvam seus conhecimentos, habilidades, capacidades e sonhos. Para que tenham projetos de vida que contemplem a possibilidade de estudar medicina – e que ela realmente exista.
“Ah, mas isso é uma proposta a longo prazo”. Claro que é! Por isso apontei medidas de emergência para que haja imediatamente mais médicos nas UBS dos bairros distantes (sem falar de outras providências necessárias, porque é óbvio que a Saúde exige inúmeras ações para melhorar). Mas justamente as mudanças de longo prazo têm de começar imediatamente – se a gente não estiver pensando nisso desde já, quando a periferia deixará de ser um lugar pobre, onde há baixa escolaridade e empregabilidade e as pessoas vivem como se não fizessem parte e não tivessem direito a uma cidade rica?
Há anos existe um problema sério de conseguir profissionais de saúde – médicos, principalmente – para trabalhar na periferia das grandes cidades (e nos rincões do país).
Como resolver isso?
Oferecer salário maior ou gratificações em dinheiro para quem se dispuser a trabalhar tão longe é uma providência interessante, mas insuficiente. Às vezes, você não consegue alguém para preencher uma vaga, mesmo oferecendo o dobro. Por que? Porque as condições são horríveis. O prédio está caindo aos pedaços, equipamentos estão quebrados, faltam materiais... Depois o médico não consegue atender direito o paciente e ainda é ameaçado ou agredido (fora outras formas de violência possíveis).
Portanto, tem de haver boas condições de trabalho, claro, e reforço na segurança.
Pode haver também uma ajuda no translado. Para chegar ao trabalho mais descansado, menos estressado, não precisar encarar muitos quilômetros atrás do volante gastando muita gasolina, pode haver um serviço de vans que cumpra determinado roteiro e leve os profissionais de saúde até os postos mais distantes. Essa também é uma medida de segurança – e de estímulo à freqüência e pontualidade. Sim, porque além da falta de médicos, em alguns lugares o problema é que os médicos faltam...
Mas eu acho que a gente não pode aceitar essa situação como natural. Partir sempre do princípio que a periferia é um lugar inseguro, onde é difícil chegar, e que precisa “importar” médicos dos bairros ricos e mais centrais. Péra lá...
Não podemos ficar a vida inteira pensando em como estimular e facilitar a “viagem” dos médicos até os bairros pobres. Temos de pensar em investir na periferia para que ela deixe de ser um satélite do bairro rico; para que na periferia surjam médicos, professores, advogados, psicólogos, dentistas, arquitetos, engenheiros, biólogos...
A prefeitura não tem como seu dever investir em formação de nível superior – alguns até defendem isso. A Marta chegou a anunciar a criação de uma faculdade; há projetos de lei prevendo a concessão de bolsas para ensino superior. Mas a prefeitura tem de primeiro dar conta do que é atribuição sua – creches, pré-escolas, ensino fundamental (CEIs, EMEIs, EMEFs). O estado e o governo federal têm de se ocupar do ensino médio e superior. (Aliás, acho meio absurdo que o estado tenha milhares de escolas de ensino fundamental sob sua responsabilidade. Essa divisão deveria ser mais bem definida).
Mas, continuando, a prefeitura tem de garantir educação infantil e ensino fundamental de qualidade. O estado, melhorar 400% o ensino médio. Para que as crianças e jovens da periferia desenvolvam seus conhecimentos, habilidades, capacidades e sonhos. Para que tenham projetos de vida que contemplem a possibilidade de estudar medicina – e que ela realmente exista.
“Ah, mas isso é uma proposta a longo prazo”. Claro que é! Por isso apontei medidas de emergência para que haja imediatamente mais médicos nas UBS dos bairros distantes (sem falar de outras providências necessárias, porque é óbvio que a Saúde exige inúmeras ações para melhorar). Mas justamente as mudanças de longo prazo têm de começar imediatamente – se a gente não estiver pensando nisso desde já, quando a periferia deixará de ser um lugar pobre, onde há baixa escolaridade e empregabilidade e as pessoas vivem como se não fizessem parte e não tivessem direito a uma cidade rica?
terça-feira, 5 de agosto de 2008
Volta às aulas, quer dizer, ao plenário
Hoje recomeçam as atividades no plenário, que foi todo reformado durante o recesso de julho.
O painel eletrônico de votação foi trocado. Agora, é possível registrar presença e votar usando apenas impressões digitais. Muito interessante.
***
Ao lado do elevador, tem um sensor que serve para o registro de presença, mas não de votação.
***
Se alguém espera uma volta morna aos trabalhos parlamentares, pode estar enganado. No começo do mês, o vereador Paulo Fiorillo (PT) colheu assinaturas para solicitar a instalação de uma CPI que investigue as acusações de corrupção contra fiscais da Subprefeitura da Moóca.
Eu assinei. Aliás, se ninguém tivesse proposto, eu mesma o faria.
(Aquela outra CPI que eu propus ficou só com a minha assinatura, mesmo...)
O painel eletrônico de votação foi trocado. Agora, é possível registrar presença e votar usando apenas impressões digitais. Muito interessante.
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Ao lado do elevador, tem um sensor que serve para o registro de presença, mas não de votação.
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Se alguém espera uma volta morna aos trabalhos parlamentares, pode estar enganado. No começo do mês, o vereador Paulo Fiorillo (PT) colheu assinaturas para solicitar a instalação de uma CPI que investigue as acusações de corrupção contra fiscais da Subprefeitura da Moóca.
Eu assinei. Aliás, se ninguém tivesse proposto, eu mesma o faria.
(Aquela outra CPI que eu propus ficou só com a minha assinatura, mesmo...)
segunda-feira, 4 de agosto de 2008
"Não sei, mas sou contra"
Acabo de ver um comentário no UOL me chamando de “aventureira” por propor pedágio urbano em São Paulo.
Como se fosse bom pra mim propor uma cobrança de pedágio, quando ninguém quer pagar mais nada... Bela “aventura” eu fui arrumar.
(“Aventureiro” é propor, ao mesmo tempo, “redução de impostos” e “8 pistas novas sobre o rio Tietê”. Digamos que essa fosse uma boa idéia, seria paga com quê? Impostos, eu suponho).
Outros comentários dizem: “É essa a idéia mágica para acabar com o trânsito?”
Pelo jeito, leram a manchete e não a entrevista... Eu disse que NÃO existe UMA solução para o trânsito. Metrô não é A solução. Corredor de ônibus não é A solução. Rodízio de caminhões não é a solução. Proibir estacionamento nas ruas não é a solução. Ciclovias e pedágio urbano não são a solução. Muitas ações combinadas são a solução – inclusive a redução da demanda por deslocamentos; a redução das distâncias entre casa e trabalho, por exemplo, para acabar com os milhões de viagens forçadas de todos os dias. Senão, não haverá metrô, trem, ônibus e ruas que dêem conta satisfatoriamente dessa multidão.
***
Outro dia, em um posto de gasolina, o frentista reclamava comigo, sem nem saber quem eu era: “O pessoal fica falando que a gente tem de deixar o carro em casa. Mas cadê o transporte coletivo de qualidade?”
Perguntei: “Você tem carro?”. “Não!” Ele anda de ônibus... Até já teve carro, mas vendeu porque não conseguiu pagar as contas.
Muita gente anda de ônibus e é contra a cobrança de pedágio urbana. Ouve a palavra “pedágio” e já tem calafrios. Nem imagina que não vai pagar pedágio nenhum... Não pensa que já paga muito caro pelo congestionamento causado, principalmente, por automóveis particulares...
O pior não é quem não sabe o que é, como funciona e para que serve pedágio urbano. É quem não quer saber – e fala mal assim mesmo, de bate-pronto.
Como se fosse bom pra mim propor uma cobrança de pedágio, quando ninguém quer pagar mais nada... Bela “aventura” eu fui arrumar.
(“Aventureiro” é propor, ao mesmo tempo, “redução de impostos” e “8 pistas novas sobre o rio Tietê”. Digamos que essa fosse uma boa idéia, seria paga com quê? Impostos, eu suponho).
Outros comentários dizem: “É essa a idéia mágica para acabar com o trânsito?”
Pelo jeito, leram a manchete e não a entrevista... Eu disse que NÃO existe UMA solução para o trânsito. Metrô não é A solução. Corredor de ônibus não é A solução. Rodízio de caminhões não é a solução. Proibir estacionamento nas ruas não é a solução. Ciclovias e pedágio urbano não são a solução. Muitas ações combinadas são a solução – inclusive a redução da demanda por deslocamentos; a redução das distâncias entre casa e trabalho, por exemplo, para acabar com os milhões de viagens forçadas de todos os dias. Senão, não haverá metrô, trem, ônibus e ruas que dêem conta satisfatoriamente dessa multidão.
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Outro dia, em um posto de gasolina, o frentista reclamava comigo, sem nem saber quem eu era: “O pessoal fica falando que a gente tem de deixar o carro em casa. Mas cadê o transporte coletivo de qualidade?”
Perguntei: “Você tem carro?”. “Não!” Ele anda de ônibus... Até já teve carro, mas vendeu porque não conseguiu pagar as contas.
Muita gente anda de ônibus e é contra a cobrança de pedágio urbana. Ouve a palavra “pedágio” e já tem calafrios. Nem imagina que não vai pagar pedágio nenhum... Não pensa que já paga muito caro pelo congestionamento causado, principalmente, por automóveis particulares...
O pior não é quem não sabe o que é, como funciona e para que serve pedágio urbano. É quem não quer saber – e fala mal assim mesmo, de bate-pronto.
domingo, 3 de agosto de 2008
Caracteres, segundos e links
Mais uma semana com saudade do computador. Passei muito menos tempo com ele do que gostaria, e com menos liberdade de escolha. Nas poucas horas de contato, em vez de escrever sobre o que bem entendesse, respondi não sei quantas entrevistas por e-mail. Tudo “pra hoje”, como se a nossa agenda (de candidato) fosse igual à do fechamento dos jornais, revistas e sites...
Depois de chorar um pouco, conseguimos prorrogação de alguns prazos: “Ok, para amanhã, até o fim da tarde”. E dá-lhe longos questionários e controle rigoroso de tamanho das respostas...
***
Um deles era para um portal online (acho que a Folha – chega uma hora que a gente já nem sabe mais para quem está respondendo). Como era para internet, escrevi livremente, usando 3 parágrafos para responder sobre saúde, 3 sobre moradia, outros 3 sobre transporte coletivo... Relacionei as várias ações que acho necessárias, expliquei por que, descrevi como era possíveis.
Nada feito. Só depois da última resposta, vi a recomendação da jornalista: “Por favor, respostas curtas e objetivas”. A meu pedido, ela traduziu isso em números: “7 linhas. É igual para todo mundo. Quer refazer ou nós editamos por aqui?”.
Quis refazer, claro. Protestando: “Algumas PERGUNTAS tem sete linhas!!”. Ela sorriu por escrito: “É, vamos ter de editar por aqui também :o).”
***
A Vejinha procurou duas vezes. Uma na segunda: “Respostas até terça, se possível”. A Lylian, que organiza minha agenda (e sabe que duzentas atividades nem sempre podem ocupar o mesmo lugar no espaço), respondeu: “E se não for possível?”. “Bom, aí a gente vai publicando aos poucos, em ordem alfabética, até no máximo sexta”. Vai ver a resposta não foi bem assim, mas consegui um tempo e respondi na segunda mesmo. Se os outros atrasarem, lá vou eu para o fim da fila por ordem alfabética...
Na quinta, Vejinha outra vez: “Os leitores querem saber” – várias perguntas para sexta. Coisas “simples”, do tipo: “Qual a decisão mais urgente para o prefeito?”. Comecei a responder no começo da noite de sexta, com pouquíssima energia. (Depois do debate na Band, cheguei em casa depois de 1h30, fiquei conversando com a minha filha por quase uma hora e demorei mais uns 20 minutos para dormir. No dia seguinte, de manhã, fui fazer campanha no Largo 13. Quase não cansa...).
Apanhei pra burro para escrever até mesmo as respostas que já dei mil vezes (“O que fazer para melhorar o transporte coletivo?”). E também não conseguia ter concentração total porque tinha de atender a várias outras solicitações enquanto respondia (como ouvir o relatório de um SOS que atendemos de manhã, quando ligaram para avisar que a GCM estava removendo “gentilmente” moradores de rua da porta da Faculdade São Francisco). Normalmente, consigo fazer tranqüilamente duas ou três coisas ao mesmo tempo, escrever com barulho em volta, mas o problema é que já estava rodando com o tanque na reserva.
Depois de uma hora e meia avançando a passo de lesma e cinco perguntas respondidas, o aviso tenebroso aparece no meio da tela: “O Explorer encontrou um problema e deverá ser encerrado”.
Ironia filha da mãe. Não estava no meu computador, mas no de um amigo. Que sempre tira um sarro quando dá pau no meu Mozilla Firefox (software livre). No dele tem Windows, e dá pau justo comigo, sem me dar chance para tirar um sarro... Muito pelo contrário.
Como desgraças nunca vêm sozinhas, o pau foi federal, não consegui restabelecer a conexão. Eu estava respondendo direto no gmail, que normalmente salva rascunhos das mensagens à medida que elas vão sendo escritas. Um doce para quem adivinhar o que aconteceu: quando abri o email no outro computador, a versão salva era de horas atrás, quando ainda estava na metade de primeira resposta.
Desisti. O Portal da Vejinha está esperando até agora...
***
O Estadão mandou uma série de perguntas com o prazo para cada uma – a primeira, adivinhe? Para o mesmo dia. Aparentemente, todas as assessorias reclamaram, e eles deixaram para o dia seguinte (quinta – o dia do debate).
O tema, se não me engano, era moradia. “1500 caracteres. Todos os candidatos terão o mesmo espaço”.
Essa “nóia” da isonomia é de enlouquecer. Se um candidato quiser responder em 3 linhas e o outro em 30, não pode. Todos têm de ter soluções do mesmo tamanho em centímetros de jornal. Espremi minhas observações sobre moradia o quanto pude, eliminei quatro ou cinco itens importantes, mas ainda ficaram 1622 toques. “Desculpe, não podemos aceitar. Nós editamos ou você quer refazer?”.
Não sei como, consegui exatos, redondos 1500 toques depois de uma ajeitada aqui e outra ali. Se algumas explicações ficaram meio superficiais? Pode apostar.
Um repórter ou colunista de jornal está sempre submetido a esses limites. Agora os candidatos a prefeito têm de aprender a trabalhar com isso – ou seus assessores, caso não sejam eles quem responde. A complexidade dos problemas fica para algum outro foro...
***
Que não pode ser o debate na televisão, onde também há o tempo de 90 segundos em que se permite apenas concluir a frase – está no regulamento, devidamente aprovado por todos os assessores. Isso dá dois ou três segundos de tolerância, não mais.
Não é só quando estou debatendo que isso me aflige. Quando estou assistindo, também. Sempre me coloquei no lugar dos debatedores... Aliás, experimente você também: pergunte-se qualquer coisa complexa, delicada – exemplo: “Quais as suas propostas para acabar com a desigualdade no Brasil?”; “O que o Fluminense deve fazer para sair da zona de rebaixamento?”, e aquela básica: “Como acabar com os congestionamentos em São Paulo?”. Se você quiser recorrer ao senso-comum, fica mais fácil: “melhorar o transporte coletivo/ melhorar o ataque e a defesa/ criar empregos”. Mas se quiser ser um pouquinho mais elaborado... Vá lá. Tente. Pode pensar um pouco antes, mas na hora em que se fizer a pergunta, dispare o cronômetro imediatamente. Não é mole não.
Quando um jornalista ou locutor precisa gravar alguma coisa em precisamente 30, 60 ou 90 segundos, tem um texto escrito cuidadosamente na medida. Vai ao estúdio, grava a primeira. “Deu?”. “Estourou três segundos. De novo”. E refaz tantas vezes quanto for necessário.
No debate, não tem nada escrito, não dá tempo de pensar um pouco, não dá pra fazer de novo!
Bom, ninguém mandou entrar nessa história (e não estou nem um pouco arrependida, muito pelo contrário). E se não me convidassem para responder em 7 linhas, 1500 caracteres ou 90 segundos, eu ficaria louca da vida! Ainda bem que estou incluída. Mas não resisto a (mais) uma reclamadinha.
***
Interrompi o texto para atender o interfone. “Tem um rapaz da Justiça Eleitoral aqui”.
Pensei que era a respeito do processo de perda de mandato – posso ser intimada para a audiência a qualquer momento. Não era.
“Chegou ao conhecimento desta Promotoria Eleitoral que o site oficial da Câmara dos Vereadores, na apresentação dos seus vereadores, apresenta links de alguns destes direcionados para seus sites de campanha”. Acusados: eu, o Natalini, a Mara Gabillli, o Paulo Fiorilo, o Apolinário, o Neder e o Goulart. Na interpretação da Promotoria, isso permite “a realização de propaganda eleitoral em espaço público”.
Bem, o site da Câmara não traz link para meu site de campanha (soninha23.can.br), mas meu site pessoal, soninha.com.br. Onde eu informo, sim, que sou candidata. Ok, se não posso, não informarei mais. Vou tirar o banner.
Mas essa discussão sobre o que é “espaço público” e o que um link representa para efeito da lei eleitoral mal começou.
***
Os vereadores Dalton Silvano, Donato e Zelão também foram notificados. Porque, “apesar de não apresentarem os números de campanha, indicam os partidos políticos a que pertencem”.
***
“Não sabia que vocês trabalhavam aos domingos”, disse ao oficial de justiça.
“E feriados”, respondeu.
***
Vou responder às perguntas do portal Veja São Paulo (se é que ainda adianta) e depois eu volto.
Depois de chorar um pouco, conseguimos prorrogação de alguns prazos: “Ok, para amanhã, até o fim da tarde”. E dá-lhe longos questionários e controle rigoroso de tamanho das respostas...
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Um deles era para um portal online (acho que a Folha – chega uma hora que a gente já nem sabe mais para quem está respondendo). Como era para internet, escrevi livremente, usando 3 parágrafos para responder sobre saúde, 3 sobre moradia, outros 3 sobre transporte coletivo... Relacionei as várias ações que acho necessárias, expliquei por que, descrevi como era possíveis.
Nada feito. Só depois da última resposta, vi a recomendação da jornalista: “Por favor, respostas curtas e objetivas”. A meu pedido, ela traduziu isso em números: “7 linhas. É igual para todo mundo. Quer refazer ou nós editamos por aqui?”.
Quis refazer, claro. Protestando: “Algumas PERGUNTAS tem sete linhas!!”. Ela sorriu por escrito: “É, vamos ter de editar por aqui também :o).”
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A Vejinha procurou duas vezes. Uma na segunda: “Respostas até terça, se possível”. A Lylian, que organiza minha agenda (e sabe que duzentas atividades nem sempre podem ocupar o mesmo lugar no espaço), respondeu: “E se não for possível?”. “Bom, aí a gente vai publicando aos poucos, em ordem alfabética, até no máximo sexta”. Vai ver a resposta não foi bem assim, mas consegui um tempo e respondi na segunda mesmo. Se os outros atrasarem, lá vou eu para o fim da fila por ordem alfabética...
Na quinta, Vejinha outra vez: “Os leitores querem saber” – várias perguntas para sexta. Coisas “simples”, do tipo: “Qual a decisão mais urgente para o prefeito?”. Comecei a responder no começo da noite de sexta, com pouquíssima energia. (Depois do debate na Band, cheguei em casa depois de 1h30, fiquei conversando com a minha filha por quase uma hora e demorei mais uns 20 minutos para dormir. No dia seguinte, de manhã, fui fazer campanha no Largo 13. Quase não cansa...).
Apanhei pra burro para escrever até mesmo as respostas que já dei mil vezes (“O que fazer para melhorar o transporte coletivo?”). E também não conseguia ter concentração total porque tinha de atender a várias outras solicitações enquanto respondia (como ouvir o relatório de um SOS que atendemos de manhã, quando ligaram para avisar que a GCM estava removendo “gentilmente” moradores de rua da porta da Faculdade São Francisco). Normalmente, consigo fazer tranqüilamente duas ou três coisas ao mesmo tempo, escrever com barulho em volta, mas o problema é que já estava rodando com o tanque na reserva.
Depois de uma hora e meia avançando a passo de lesma e cinco perguntas respondidas, o aviso tenebroso aparece no meio da tela: “O Explorer encontrou um problema e deverá ser encerrado”.
Ironia filha da mãe. Não estava no meu computador, mas no de um amigo. Que sempre tira um sarro quando dá pau no meu Mozilla Firefox (software livre). No dele tem Windows, e dá pau justo comigo, sem me dar chance para tirar um sarro... Muito pelo contrário.
Como desgraças nunca vêm sozinhas, o pau foi federal, não consegui restabelecer a conexão. Eu estava respondendo direto no gmail, que normalmente salva rascunhos das mensagens à medida que elas vão sendo escritas. Um doce para quem adivinhar o que aconteceu: quando abri o email no outro computador, a versão salva era de horas atrás, quando ainda estava na metade de primeira resposta.
Desisti. O Portal da Vejinha está esperando até agora...
***
O Estadão mandou uma série de perguntas com o prazo para cada uma – a primeira, adivinhe? Para o mesmo dia. Aparentemente, todas as assessorias reclamaram, e eles deixaram para o dia seguinte (quinta – o dia do debate).
O tema, se não me engano, era moradia. “1500 caracteres. Todos os candidatos terão o mesmo espaço”.
Essa “nóia” da isonomia é de enlouquecer. Se um candidato quiser responder em 3 linhas e o outro em 30, não pode. Todos têm de ter soluções do mesmo tamanho em centímetros de jornal. Espremi minhas observações sobre moradia o quanto pude, eliminei quatro ou cinco itens importantes, mas ainda ficaram 1622 toques. “Desculpe, não podemos aceitar. Nós editamos ou você quer refazer?”.
Não sei como, consegui exatos, redondos 1500 toques depois de uma ajeitada aqui e outra ali. Se algumas explicações ficaram meio superficiais? Pode apostar.
Um repórter ou colunista de jornal está sempre submetido a esses limites. Agora os candidatos a prefeito têm de aprender a trabalhar com isso – ou seus assessores, caso não sejam eles quem responde. A complexidade dos problemas fica para algum outro foro...
***
Que não pode ser o debate na televisão, onde também há o tempo de 90 segundos em que se permite apenas concluir a frase – está no regulamento, devidamente aprovado por todos os assessores. Isso dá dois ou três segundos de tolerância, não mais.
Não é só quando estou debatendo que isso me aflige. Quando estou assistindo, também. Sempre me coloquei no lugar dos debatedores... Aliás, experimente você também: pergunte-se qualquer coisa complexa, delicada – exemplo: “Quais as suas propostas para acabar com a desigualdade no Brasil?”; “O que o Fluminense deve fazer para sair da zona de rebaixamento?”, e aquela básica: “Como acabar com os congestionamentos em São Paulo?”. Se você quiser recorrer ao senso-comum, fica mais fácil: “melhorar o transporte coletivo/ melhorar o ataque e a defesa/ criar empregos”. Mas se quiser ser um pouquinho mais elaborado... Vá lá. Tente. Pode pensar um pouco antes, mas na hora em que se fizer a pergunta, dispare o cronômetro imediatamente. Não é mole não.
Quando um jornalista ou locutor precisa gravar alguma coisa em precisamente 30, 60 ou 90 segundos, tem um texto escrito cuidadosamente na medida. Vai ao estúdio, grava a primeira. “Deu?”. “Estourou três segundos. De novo”. E refaz tantas vezes quanto for necessário.
No debate, não tem nada escrito, não dá tempo de pensar um pouco, não dá pra fazer de novo!
Bom, ninguém mandou entrar nessa história (e não estou nem um pouco arrependida, muito pelo contrário). E se não me convidassem para responder em 7 linhas, 1500 caracteres ou 90 segundos, eu ficaria louca da vida! Ainda bem que estou incluída. Mas não resisto a (mais) uma reclamadinha.
***
Interrompi o texto para atender o interfone. “Tem um rapaz da Justiça Eleitoral aqui”.
Pensei que era a respeito do processo de perda de mandato – posso ser intimada para a audiência a qualquer momento. Não era.
“Chegou ao conhecimento desta Promotoria Eleitoral que o site oficial da Câmara dos Vereadores, na apresentação dos seus vereadores, apresenta links de alguns destes direcionados para seus sites de campanha”. Acusados: eu, o Natalini, a Mara Gabillli, o Paulo Fiorilo, o Apolinário, o Neder e o Goulart. Na interpretação da Promotoria, isso permite “a realização de propaganda eleitoral em espaço público”.
Bem, o site da Câmara não traz link para meu site de campanha (soninha23.can.br), mas meu site pessoal, soninha.com.br. Onde eu informo, sim, que sou candidata. Ok, se não posso, não informarei mais. Vou tirar o banner.
Mas essa discussão sobre o que é “espaço público” e o que um link representa para efeito da lei eleitoral mal começou.
***
Os vereadores Dalton Silvano, Donato e Zelão também foram notificados. Porque, “apesar de não apresentarem os números de campanha, indicam os partidos políticos a que pertencem”.
***
“Não sabia que vocês trabalhavam aos domingos”, disse ao oficial de justiça.
“E feriados”, respondeu.
***
Vou responder às perguntas do portal Veja São Paulo (se é que ainda adianta) e depois eu volto.
sexta-feira, 1 de agosto de 2008
Testando
Sexta-feira, 11:29.
Cabine 13 do Acessa São Paulo no Poupatempo Santo Amaro, próximo ao Largo 13.
Ô número que não me larga! :o)
Eu fui de moto de casa até a São Gabriel, estacionei em uma travessa e peguei um ônibus no corredor.
Por que?
Quatro motivos.
1)Não estava com muito saco pra dirigir (a Santo Amaro é muito apertada e tensa para motos)
2)Tem uma boa opção em transporte coletivo (o corredor, craro)
3)A qualidade do ar realmente está péssima (ontem fiquei com os olhos ardendo e lacrimejando muito quando fui de bicicleta até a Câmara; parecia que tinham jogado ácido); melhor renunciar à moto um pouco
4)Era uma boa oportunidade para dar mais uma examinada no transporte público.
Chegando ao ponto, surpresa nenhuma: ele tem nome (“São Gabriel, 600”), mapa dos arredores, relação das linhas que passam por ali. Mas não o caminho que elas fazem... Tem de adivinhar, perguntar para alguém no ponto ou parar todo ônibus e perguntar para o motorista.
O painel eletrônico informava que faltavam cerca de 4 minutos para o próximo ônibus, e isso é legal. Enquanto eu o fotografava, chegou um ônibus! Veio rápido, parou e pude ver “Largo 13” na placa ao lado da porta. Era o meu.
Um ônibus grande como aquele deveria circular majestosamente, isto é, devagar... Mas não é o caso. Todas as paradas são bruscas.
Tem lugar para prender cadeira-de-rodas – e dois degraus grandes para entrar no ônibus. “Não tem elevador pra cadeirante?”. “Elevador é aqui”, disse o cobrador, apontando para o próprio braço. “Já teve de carregar cadeira?”. “Ô!”.
Queria ver se a lataria do ônibus informa que ele é “acessível” (o que seria uma mentira), mas esqueci. Me distraí com o fato de que ele não parou no ponto (porque estava um caos, com outros ônibus em fila dupla), mas um pouco adiante. As senhorinhas que esperavam para descer ficaram aflitas: “Não vai parar? Não vai parar?” Tiveram de andar uns 10 metros a mais. Para quem caminha com dificuldade como elas, um problema.
Agora vou voltar pra caminhada. Já testei mais um serviço... O Acessa tem softwre livre, gostei.
Cabine 13 do Acessa São Paulo no Poupatempo Santo Amaro, próximo ao Largo 13.
Ô número que não me larga! :o)
Eu fui de moto de casa até a São Gabriel, estacionei em uma travessa e peguei um ônibus no corredor.
Por que?
Quatro motivos.
1)Não estava com muito saco pra dirigir (a Santo Amaro é muito apertada e tensa para motos)
2)Tem uma boa opção em transporte coletivo (o corredor, craro)
3)A qualidade do ar realmente está péssima (ontem fiquei com os olhos ardendo e lacrimejando muito quando fui de bicicleta até a Câmara; parecia que tinham jogado ácido); melhor renunciar à moto um pouco
4)Era uma boa oportunidade para dar mais uma examinada no transporte público.
Chegando ao ponto, surpresa nenhuma: ele tem nome (“São Gabriel, 600”), mapa dos arredores, relação das linhas que passam por ali. Mas não o caminho que elas fazem... Tem de adivinhar, perguntar para alguém no ponto ou parar todo ônibus e perguntar para o motorista.
O painel eletrônico informava que faltavam cerca de 4 minutos para o próximo ônibus, e isso é legal. Enquanto eu o fotografava, chegou um ônibus! Veio rápido, parou e pude ver “Largo 13” na placa ao lado da porta. Era o meu.
Um ônibus grande como aquele deveria circular majestosamente, isto é, devagar... Mas não é o caso. Todas as paradas são bruscas.
Tem lugar para prender cadeira-de-rodas – e dois degraus grandes para entrar no ônibus. “Não tem elevador pra cadeirante?”. “Elevador é aqui”, disse o cobrador, apontando para o próprio braço. “Já teve de carregar cadeira?”. “Ô!”.
Queria ver se a lataria do ônibus informa que ele é “acessível” (o que seria uma mentira), mas esqueci. Me distraí com o fato de que ele não parou no ponto (porque estava um caos, com outros ônibus em fila dupla), mas um pouco adiante. As senhorinhas que esperavam para descer ficaram aflitas: “Não vai parar? Não vai parar?” Tiveram de andar uns 10 metros a mais. Para quem caminha com dificuldade como elas, um problema.
Agora vou voltar pra caminhada. Já testei mais um serviço... O Acessa tem softwre livre, gostei.
quinta-feira, 31 de julho de 2008
Faltam 8 horas... 7:55... 7:50...
Lembrei daqueles conselhos básicos a vestibulandos: “Não deixe para estudar na última hora. Você não vai aprender nada no dia da prova e ainda vai se desgastar e inquietar à toa. No máximo, dê uma repassada no que já sabe, mas poupe energia para o vestibular propriamente dito”.
Eu não vou aprender nada hoje, mas tenho algumas dúvidas de última hora e vou dar uma pesquisada.
Não tenho medo de não saber a resposta de alguma pergunta – porque vou dizer, muito honestamente, “não sei”. Tem coisa mais inútil do que enrolar? Quem não é seu fã vai perceber na hora: “Não respondeu!”. Quem é fã vai concluir: “Saiu-se bem, foi convincente” ou “saiu-se mal”. A utilidade disso para a verdadeira discussão sobre a cidade é aproximadamente... zero.
Então não tenho medo de nada? Hmm... Nada que me tire o sono ou a fome. Mas a minha preocupação é não lembrar, na hora, de alguma coisa que eu achava super importante dizer. Ou deixá-la para o fim e não dar tempo de dizer.
Acontece o tempo todo, em entrevistas ou telefonemas entre amigos... “Como eu não lembrei DAQUELE filme que eu adoro?”; “liguei para perguntar do capacete e falei tudo menos isso”. No debate, mais do que na vida, precisamos ser precisos, muito ágeis, infalíveis. Isso é que é dose.
Mas é melhor ter debate do que não ter, sem dúvida. Podem me chamar que eu vou a todos; adoro.
No iG, dias atrás, eu experimentei uma sensação de volta no tempo, um flashback. Eu me vi ajoelhada na carteira do colégio, braço espetado para o alto, impaciente, aflita, querendo responder todas as perguntas que a professora fazia. “Quem pode me dizer onde fica...?”. “EU! EU! EU!”. Éramos cinco ou seis meninas assim – e as outras, que queriam se esconder debaixo da carteira, não entendiam por que a professora não chamava logo uma de nós e preferia torturá-las. Algumas sofriam por não saber a resposta e ter medo do erro, do fracasso – e o pior que escola às vezes leva a isso, em vez de ajudar a superar isso. Outras sabiam, mas eram tão tímidas que tinham vergonha da própria voz.
Engraçado lembrar disso agora... Saudade dos meus tempos de Colégio. E tenho a nítida sensação de que vou ter saudade destes tempos de campanha também, então estou curtindo cada momento. (Mesmo que, como no Colégio, nem todos sejam legais).
Eu não vou aprender nada hoje, mas tenho algumas dúvidas de última hora e vou dar uma pesquisada.
Não tenho medo de não saber a resposta de alguma pergunta – porque vou dizer, muito honestamente, “não sei”. Tem coisa mais inútil do que enrolar? Quem não é seu fã vai perceber na hora: “Não respondeu!”. Quem é fã vai concluir: “Saiu-se bem, foi convincente” ou “saiu-se mal”. A utilidade disso para a verdadeira discussão sobre a cidade é aproximadamente... zero.
Então não tenho medo de nada? Hmm... Nada que me tire o sono ou a fome. Mas a minha preocupação é não lembrar, na hora, de alguma coisa que eu achava super importante dizer. Ou deixá-la para o fim e não dar tempo de dizer.
Acontece o tempo todo, em entrevistas ou telefonemas entre amigos... “Como eu não lembrei DAQUELE filme que eu adoro?”; “liguei para perguntar do capacete e falei tudo menos isso”. No debate, mais do que na vida, precisamos ser precisos, muito ágeis, infalíveis. Isso é que é dose.
Mas é melhor ter debate do que não ter, sem dúvida. Podem me chamar que eu vou a todos; adoro.
No iG, dias atrás, eu experimentei uma sensação de volta no tempo, um flashback. Eu me vi ajoelhada na carteira do colégio, braço espetado para o alto, impaciente, aflita, querendo responder todas as perguntas que a professora fazia. “Quem pode me dizer onde fica...?”. “EU! EU! EU!”. Éramos cinco ou seis meninas assim – e as outras, que queriam se esconder debaixo da carteira, não entendiam por que a professora não chamava logo uma de nós e preferia torturá-las. Algumas sofriam por não saber a resposta e ter medo do erro, do fracasso – e o pior que escola às vezes leva a isso, em vez de ajudar a superar isso. Outras sabiam, mas eram tão tímidas que tinham vergonha da própria voz.
Engraçado lembrar disso agora... Saudade dos meus tempos de Colégio. E tenho a nítida sensação de que vou ter saudade destes tempos de campanha também, então estou curtindo cada momento. (Mesmo que, como no Colégio, nem todos sejam legais).
quarta-feira, 30 de julho de 2008
Orgulho de um PM
Panfletagem no centro hoje na hora do almoço, e as mesmas experiências de sempre.
Tem gente que olha com cara de nojo ou riso de escárnio, como se dissesse "é muita cara-de-pau político vir pedir voto!".
Eu já tive a maior dificuldade para pedir voto. Achava uma coisa horrível, como se eu fosse vendedora porta-a-porta de mim mesma (quando eu era pequena, tinha muito vendedor porta-a-porta: de vassouras, panos de prato, produtos de limpeza, panela, tudo. Eu morria de dó de dizer "não, obrigada, minha mãe falou que não está precisando"... Me dava um aperto no peito!)
Agora eu não peço voto, mas me ofereço como candidata. O resultado é o mesmo, mas eu fico menos envergonhada. "Oi, sou candidata a prefeita, posso deixar um folheto com você?"
Tem gente que pega o folheto logo pra se ver livre da gente. Tem quem pegue por solidariedade, gentileza ou compaixão. Alguns, por curiosidade. Outros por simpatia. E um ou outro por interesse MESMO. Ai.
Mas juro que só vi 3 jogados no chão.
***
Mil histórias pra contar dessa caminhada, mas uma é muito especial.
Estávamos no calçadão perto da Praça do Patriarca, quando um PM apontou para mim e disse: "Olha, fala com eles, quem sabe eles podem te ajudar".
O soldado estava preocupado com uma moça sentada no chão, debulhada em lágrimas. Ela foi a uma das casas de crédito tentar um financiamento, que foi recusado. Chorava desesperada. Ele queria levá-la até a prefeitura, pedir ajuda, informações, mas ela não tinha vontade, energia e confiança para sair do lugar. O PM, muito cordial, muito sereno, disse que ela não podia ficar daquele jeito, que até em se matar ela tinha falado.
A história da moça é de trucidar o coração. Depois eu conto. Mas o PM... O PM foi o máximo. O máximo da sensibilidade, do interesse compassivo, da disponibilidade. Esse só pode ter entrado para a polícia para servir a população, ajudar a promover a segurança, reduzir a violência e o sofrimento.
Que volte para casa hoje orgulhoso de si - mesmo cansado, frustrado, aborrecido por não sei quantos motivos, que pense consigo mesmo (e com a namorada ou esposa, a mãe, os filhos): "Que bom estar nessa vida e poder ajudar as pessoas". Eu nem o conhecia, e fiquei orgulhosa dele.
Tem gente que olha com cara de nojo ou riso de escárnio, como se dissesse "é muita cara-de-pau político vir pedir voto!".
Eu já tive a maior dificuldade para pedir voto. Achava uma coisa horrível, como se eu fosse vendedora porta-a-porta de mim mesma (quando eu era pequena, tinha muito vendedor porta-a-porta: de vassouras, panos de prato, produtos de limpeza, panela, tudo. Eu morria de dó de dizer "não, obrigada, minha mãe falou que não está precisando"... Me dava um aperto no peito!)
Agora eu não peço voto, mas me ofereço como candidata. O resultado é o mesmo, mas eu fico menos envergonhada. "Oi, sou candidata a prefeita, posso deixar um folheto com você?"
Tem gente que pega o folheto logo pra se ver livre da gente. Tem quem pegue por solidariedade, gentileza ou compaixão. Alguns, por curiosidade. Outros por simpatia. E um ou outro por interesse MESMO. Ai.
Mas juro que só vi 3 jogados no chão.
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Estávamos no calçadão perto da Praça do Patriarca, quando um PM apontou para mim e disse: "Olha, fala com eles, quem sabe eles podem te ajudar".
O soldado estava preocupado com uma moça sentada no chão, debulhada em lágrimas. Ela foi a uma das casas de crédito tentar um financiamento, que foi recusado. Chorava desesperada. Ele queria levá-la até a prefeitura, pedir ajuda, informações, mas ela não tinha vontade, energia e confiança para sair do lugar. O PM, muito cordial, muito sereno, disse que ela não podia ficar daquele jeito, que até em se matar ela tinha falado.
A história da moça é de trucidar o coração. Depois eu conto. Mas o PM... O PM foi o máximo. O máximo da sensibilidade, do interesse compassivo, da disponibilidade. Esse só pode ter entrado para a polícia para servir a população, ajudar a promover a segurança, reduzir a violência e o sofrimento.
Que volte para casa hoje orgulhoso de si - mesmo cansado, frustrado, aborrecido por não sei quantos motivos, que pense consigo mesmo (e com a namorada ou esposa, a mãe, os filhos): "Que bom estar nessa vida e poder ajudar as pessoas". Eu nem o conhecia, e fiquei orgulhosa dele.
Uma quarta como outra qualquer
A grande pergunta de hoje foi:
"Como você está se preparando para o debate?"
Resposta:
Estou me preparando há anos!
Há décadas!
Desde que eu era estudante de ginásio e magistério, professora, atriz de teatro amador, aluna da faculdade de cinema, militante de vários movimentos, ongueira, repórter, mediadora de debates... Leitora de livros, jornais e revistas, participante de fóruns, painéis, seminários, pesquisas, congressos, conferências... Usuária da saúde pública, da educação pública, do transporte público... E vereadora. Acumulando experiências, informações, conhecimento. Aprendendo.
Nesses últimos meses de estudo intensivo, falando com servidores municipais lá da ponta, do balcão de atendimento, e especialistas da Universidade; com técnicos e políticos que participaram de várias administrações e cidadãos interessados; aprendi muito mais sobre a cidade. Mas eu já conhecia muito bem uma variedade grande de assuntos e, nos últimos anos, participei de um zilhão de debates. Em uma escola municipal no Jardim Fontales e na Câmara Americana de Comércio; na Fatec e na Poli; em Heliópolis e na FAAP; na TV Comunitária e no Ig; na Rede Vida e no Fórum da População de Rua; no Estadão e na TV Assembléia; em carro de som na porta da Mercedes e no gabinete do Zé Dirceu; na rua; na Câmara Municipal e na ESPN...
Se eu for mal no debate, não há de ser por falta de "preparo".
"Como você está se preparando para o debate?"
Resposta:
Estou me preparando há anos!
Há décadas!
Desde que eu era estudante de ginásio e magistério, professora, atriz de teatro amador, aluna da faculdade de cinema, militante de vários movimentos, ongueira, repórter, mediadora de debates... Leitora de livros, jornais e revistas, participante de fóruns, painéis, seminários, pesquisas, congressos, conferências... Usuária da saúde pública, da educação pública, do transporte público... E vereadora. Acumulando experiências, informações, conhecimento. Aprendendo.
Nesses últimos meses de estudo intensivo, falando com servidores municipais lá da ponta, do balcão de atendimento, e especialistas da Universidade; com técnicos e políticos que participaram de várias administrações e cidadãos interessados; aprendi muito mais sobre a cidade. Mas eu já conhecia muito bem uma variedade grande de assuntos e, nos últimos anos, participei de um zilhão de debates. Em uma escola municipal no Jardim Fontales e na Câmara Americana de Comércio; na Fatec e na Poli; em Heliópolis e na FAAP; na TV Comunitária e no Ig; na Rede Vida e no Fórum da População de Rua; no Estadão e na TV Assembléia; em carro de som na porta da Mercedes e no gabinete do Zé Dirceu; na rua; na Câmara Municipal e na ESPN...
Se eu for mal no debate, não há de ser por falta de "preparo".
terça-feira, 29 de julho de 2008
Das 7h30 às 10h00
- Sete e meia da terça???
Fiquei de mau humor no domingo à noite, quando soube que teria um compromisso tão cedo no dia seguinte à festa de lançamento da candidatura...
Nos últimos anos, percebo como a idade me fez menos tolerante a noites mal dormidas, ou de sono insuficiente... Nunca fui de dormir muito, mas hoje em dia cinco horas de sono me deixam imprestável no dia seguinte.
Azar. “Não vou morrer por causa disso, mas da próxima vez tentam evitar uma noite longa seguida de uma manhã cedo!”
***
O compromisso era uma missa na Igreja Matriz da Freguesia do Ó, seguida por uma conversa com os paroquianos e uma visita a obras assistenciais no bairro.
Foi muito gostoso.
Estava um dia lindo – exceto pela poluição... Mas um sol luminoso e o ar bem frio, uma combinação que eu adoro. Entrei na igreja quando cantavam, com violão acompanhando, uma das minhas músicas favoritas do tempo de Colégio Santana – que a gente se esgoelava de cantar até nos ônibus de excursão... (Pra quem era companheira dessa época: adivinhem qual. Daqui a pouco eu conto).
***
Mesmo quando eu freqüentava a igreja, achava incrível pensar que as pessoas iam à missa às 7:30 da manhã em um dia de semana. Uma vizinha ia a todas elas; era algo muito exótico para mim.
Mas depois virei budista, e comecei a fazer meditação às 6 da manhã... Hoje em dia não começo tão cedo, mas acho super natural pular da cama no escuro quando estou em retiro ou algo assim, para ir ao templo com os outros praticantes rezar pelo fim do sofrimento no mundo...
Então me vi na igreja achando aquilo muito natural, agradável, inspirador; curti as músicas, o sermão bem coloquial e sereno do padre, a liturgia que ainda sei de cor, muitos anos depois (27) de parar de ir à missa toda semana. E localizar, na pasta com as músicas que é distribuída aos fiéis, várias das minhas antigas favoritas: “Sobe a Jerusalém/ Virgem oferente sem igual...”; “Quando teu Pai revelou o segredo a Maria/ que pela força do Espírito conceberia...”.
Havia mais pessoas idosas do que jovens, mas reparei em um motoboy na fileira do fundo e em duas moças de aparência muito simpática e atraente, que depois soube serem irmãs – uma faz Direito no Mackenzie; a outra é fisioterapeuta na UTI de um hospital na região da Paulista. Normalmente, SAI do trabalho às 7 da manhã, mas hoje estava de folga.
***
A música que a gente adorava cantar no Colégio (em duas vozes, o que era uma glória) era “o Louvado”, como dizíamos. “Louvado seja o meu senhor (4x)/ Por aqueles que agora nascem/ Por aqueles que agora morrem...”.
***
Eu freqüentava a Missa das Crianças, às 9 da manhã na Paróquia de Santa Terezinha. Era no salão paroquial nos fundos da igreja, rezada o Padre Giba (que as crianças, insolentes sem querer, chamavam só de Giba). As crianças se encarregavam de tudo: a procissão inicial com os paramentos do padre e os objetos para o altar, a procissão de oferenda, as leituras... Arrumavam as cadeiras, limpavam o salão depois... Eu adorava aquilo. Queria saber tudo, participar de tudo. Quando havia missas especiais, em que eram distribuídos presentes para as crianças do bairro (chocolates na Páscoa, por exemplo), eu sempre me voluntariava para participar da organização. Passávamos horas enchendo coelhos de plástico com confeitos...
Um dia, resolveram eleger uma “diretoria” para que houvesse responsáveis fixos por determinadas tarefas, para representar as crianças junto ao padre e sei lá mais o quê. Sei que me elegeram presidente – e eu juro, por tudo que é mais sagrado, que fiquei surpresa. No Colégio, eu sabia que era bem conhecida (tinha entrado na primeira série com 5 anos, tirava notas muito boas, essas coisas), mas na igreja eu não tinha percebido ainda.
E aí estão duas raízes importantes da minha militância política: o Colégio e a igreja. Em casa, a grande influência era minha mãe – que nunca participou de nenhum movimento organizado, mas era uma revoltada de marca maior :o). Indignada com a ditadura, tortura, censura, injustiça, desigualdade, hipocrisia, incoerência, indiferença, opressão, exploração, egoísmo... Racismo, machismo, capitalismo... Uma frase clássica de minha mãe: “Nunca vou ser rica!”. Era o que dizia, com raiva, quando via alguma cena de miséria. Não admitia excesso de um lado e tanta falta de outra.
***
Depois da missa e de uma de minhas experiências gastronômicas favoritas – café-com-leite e pão-com-manteiga-na-chapa na padaria – fomos até uma das creches mantidas pelos religiosos em convênio com a prefeitura.
No total, são 7 creches e 3 ou 4 núcleos sócio-educativos (para adolescentes e jovens). Essa que eu conheci é um espetáculo. Tudo é tão bem cuidado – as salas para as crianças, refeitório, cozinha, banheiros, salão de encontros – que inspira confiança só por ser como é. E pudemos ver as professoras em ação, cuidando com muita atenção da molecadinha. Uma graça. (E eu lembrei de como trabalhar em creche é exaustivo... Especialmente quando as condições são ruins e você tem 20 crianças para olhar sozinha, como aconteceu em alguns casos).
Muita gente boa da educação é contra os convênios; os aceitam como solução complementar porque a rede própria da prefeitura não daria conta de atender todo mundo (já tem um déficit monstruoso de vagas). Eu não, sou a favor. Desde que haja acompanhamento – da prefeitura e dos pais – é ótimo que a própria comunidade organizada tenha um equipamento como esse para suas crianças. Conheci várias creches conveniadas nas quais deixaria minha filha com tranqüilidade – na favela de Heliópolis ou no Núcleo Cristão do Parque Novo Mundo. A responsabilidade e dever de oferecer vagas para todas as crianças É do Poder Público, mas a oferta do serviço pode ser em parceria, sim, com muita qualidade. (E o equipamento administrado diretamente pela prefeitura também precisa de acompanhamento para garantir que o serviço seja bom!).
***
Antes de visitar a creche, encontrei o Padre Noé em seus aposentos, que ficam no prédio da creche. Uma pessoa muito conhecida e querida na Freguesia, grande líder na construção de toda essa rede comunitária. Já tinha ouvido falar muito nele, mas conhecê-lo foi uma experiência encantadora.
Sabe aqueles líderes religiosos na presença dos quais você se sente serenamente bem, comovido, acolhido com calor genuíno, generosidade sincera, pura bondade? Foi como me senti. Já passei por isso no encontro com alguns mestres budistas, que parecem irradiar bem-querer e bem-estar. Foi uma sensação idêntica. Que querido, o padre Noé!
***
Até aqui, não eram nem dez da manhã – e o dia teve muito mais do que isso. Estive no Fórum, a um Clube Escola, fui para a Câmara, corri até a FAU Maranhão para tentar comparecer ao velório do Joaquim Guedes (como é chocante alguém morrer atropelado... Não me conformo), estive no dentista, encontrei um conhecido de muito tempo atrás na Paulista, um “maluco” (auto-definido) na calçada disse que sonhava me conhecer e agora vou a um evento do Ivaldo Bertazzo na Ria Vitória. Em cada uma dessas frases entre vírgulas, há muito que contar (ok, posso dispensá-los do dentista). Talvez eu consiga escrever mais um pouco ainda hoje, mas não prometo. Aliás, não prometo nada que eu não tenha certeza que posso fazer :o).
Fiquei de mau humor no domingo à noite, quando soube que teria um compromisso tão cedo no dia seguinte à festa de lançamento da candidatura...
Nos últimos anos, percebo como a idade me fez menos tolerante a noites mal dormidas, ou de sono insuficiente... Nunca fui de dormir muito, mas hoje em dia cinco horas de sono me deixam imprestável no dia seguinte.
Azar. “Não vou morrer por causa disso, mas da próxima vez tentam evitar uma noite longa seguida de uma manhã cedo!”
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O compromisso era uma missa na Igreja Matriz da Freguesia do Ó, seguida por uma conversa com os paroquianos e uma visita a obras assistenciais no bairro.
Foi muito gostoso.
Estava um dia lindo – exceto pela poluição... Mas um sol luminoso e o ar bem frio, uma combinação que eu adoro. Entrei na igreja quando cantavam, com violão acompanhando, uma das minhas músicas favoritas do tempo de Colégio Santana – que a gente se esgoelava de cantar até nos ônibus de excursão... (Pra quem era companheira dessa época: adivinhem qual. Daqui a pouco eu conto).
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Mesmo quando eu freqüentava a igreja, achava incrível pensar que as pessoas iam à missa às 7:30 da manhã em um dia de semana. Uma vizinha ia a todas elas; era algo muito exótico para mim.
Mas depois virei budista, e comecei a fazer meditação às 6 da manhã... Hoje em dia não começo tão cedo, mas acho super natural pular da cama no escuro quando estou em retiro ou algo assim, para ir ao templo com os outros praticantes rezar pelo fim do sofrimento no mundo...
Então me vi na igreja achando aquilo muito natural, agradável, inspirador; curti as músicas, o sermão bem coloquial e sereno do padre, a liturgia que ainda sei de cor, muitos anos depois (27) de parar de ir à missa toda semana. E localizar, na pasta com as músicas que é distribuída aos fiéis, várias das minhas antigas favoritas: “Sobe a Jerusalém/ Virgem oferente sem igual...”; “Quando teu Pai revelou o segredo a Maria/ que pela força do Espírito conceberia...”.
Havia mais pessoas idosas do que jovens, mas reparei em um motoboy na fileira do fundo e em duas moças de aparência muito simpática e atraente, que depois soube serem irmãs – uma faz Direito no Mackenzie; a outra é fisioterapeuta na UTI de um hospital na região da Paulista. Normalmente, SAI do trabalho às 7 da manhã, mas hoje estava de folga.
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A música que a gente adorava cantar no Colégio (em duas vozes, o que era uma glória) era “o Louvado”, como dizíamos. “Louvado seja o meu senhor (4x)/ Por aqueles que agora nascem/ Por aqueles que agora morrem...”.
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Eu freqüentava a Missa das Crianças, às 9 da manhã na Paróquia de Santa Terezinha. Era no salão paroquial nos fundos da igreja, rezada o Padre Giba (que as crianças, insolentes sem querer, chamavam só de Giba). As crianças se encarregavam de tudo: a procissão inicial com os paramentos do padre e os objetos para o altar, a procissão de oferenda, as leituras... Arrumavam as cadeiras, limpavam o salão depois... Eu adorava aquilo. Queria saber tudo, participar de tudo. Quando havia missas especiais, em que eram distribuídos presentes para as crianças do bairro (chocolates na Páscoa, por exemplo), eu sempre me voluntariava para participar da organização. Passávamos horas enchendo coelhos de plástico com confeitos...
Um dia, resolveram eleger uma “diretoria” para que houvesse responsáveis fixos por determinadas tarefas, para representar as crianças junto ao padre e sei lá mais o quê. Sei que me elegeram presidente – e eu juro, por tudo que é mais sagrado, que fiquei surpresa. No Colégio, eu sabia que era bem conhecida (tinha entrado na primeira série com 5 anos, tirava notas muito boas, essas coisas), mas na igreja eu não tinha percebido ainda.
E aí estão duas raízes importantes da minha militância política: o Colégio e a igreja. Em casa, a grande influência era minha mãe – que nunca participou de nenhum movimento organizado, mas era uma revoltada de marca maior :o). Indignada com a ditadura, tortura, censura, injustiça, desigualdade, hipocrisia, incoerência, indiferença, opressão, exploração, egoísmo... Racismo, machismo, capitalismo... Uma frase clássica de minha mãe: “Nunca vou ser rica!”. Era o que dizia, com raiva, quando via alguma cena de miséria. Não admitia excesso de um lado e tanta falta de outra.
***
Depois da missa e de uma de minhas experiências gastronômicas favoritas – café-com-leite e pão-com-manteiga-na-chapa na padaria – fomos até uma das creches mantidas pelos religiosos em convênio com a prefeitura.
No total, são 7 creches e 3 ou 4 núcleos sócio-educativos (para adolescentes e jovens). Essa que eu conheci é um espetáculo. Tudo é tão bem cuidado – as salas para as crianças, refeitório, cozinha, banheiros, salão de encontros – que inspira confiança só por ser como é. E pudemos ver as professoras em ação, cuidando com muita atenção da molecadinha. Uma graça. (E eu lembrei de como trabalhar em creche é exaustivo... Especialmente quando as condições são ruins e você tem 20 crianças para olhar sozinha, como aconteceu em alguns casos).
Muita gente boa da educação é contra os convênios; os aceitam como solução complementar porque a rede própria da prefeitura não daria conta de atender todo mundo (já tem um déficit monstruoso de vagas). Eu não, sou a favor. Desde que haja acompanhamento – da prefeitura e dos pais – é ótimo que a própria comunidade organizada tenha um equipamento como esse para suas crianças. Conheci várias creches conveniadas nas quais deixaria minha filha com tranqüilidade – na favela de Heliópolis ou no Núcleo Cristão do Parque Novo Mundo. A responsabilidade e dever de oferecer vagas para todas as crianças É do Poder Público, mas a oferta do serviço pode ser em parceria, sim, com muita qualidade. (E o equipamento administrado diretamente pela prefeitura também precisa de acompanhamento para garantir que o serviço seja bom!).
***
Antes de visitar a creche, encontrei o Padre Noé em seus aposentos, que ficam no prédio da creche. Uma pessoa muito conhecida e querida na Freguesia, grande líder na construção de toda essa rede comunitária. Já tinha ouvido falar muito nele, mas conhecê-lo foi uma experiência encantadora.
Sabe aqueles líderes religiosos na presença dos quais você se sente serenamente bem, comovido, acolhido com calor genuíno, generosidade sincera, pura bondade? Foi como me senti. Já passei por isso no encontro com alguns mestres budistas, que parecem irradiar bem-querer e bem-estar. Foi uma sensação idêntica. Que querido, o padre Noé!
***
Até aqui, não eram nem dez da manhã – e o dia teve muito mais do que isso. Estive no Fórum, a um Clube Escola, fui para a Câmara, corri até a FAU Maranhão para tentar comparecer ao velório do Joaquim Guedes (como é chocante alguém morrer atropelado... Não me conformo), estive no dentista, encontrei um conhecido de muito tempo atrás na Paulista, um “maluco” (auto-definido) na calçada disse que sonhava me conhecer e agora vou a um evento do Ivaldo Bertazzo na Ria Vitória. Em cada uma dessas frases entre vírgulas, há muito que contar (ok, posso dispensá-los do dentista). Talvez eu consiga escrever mais um pouco ainda hoje, mas não prometo. Aliás, não prometo nada que eu não tenha certeza que posso fazer :o).
Sem torcida organizada - mas sem portões fechados!
A assessoria do Democratas ligou querendo fazer um trato para o debate da Bandeirantes, dizendo que é comum os partidos levarem suas “torcidas” e criarem uma certa situação de tumulto na porta da emissora. Eu não tinha nem pensado nessa possibilidade de tumulto, mas disse que se eles estavam preocupados conosco podiam ficar tranqüilos porque o PPS não leva claque aos eventos; não dá ônibus e lanche para os "torcedores" irem lá bater palma para o nosso time e vaiar os adversários...
Portanto, assinei esse trato, mas a gente avisou desde o começo que chegaria ao debate de bicicleta, acompanhados por tantos ciclistas quanto os que estiverem dispostos a acompanhar até lá... Não são militantes nem cabos eleitorais do PPS. (Imagino que uma boa parte deles vá votar em mim - porque sabem que eu quero ser prefeita para ajudar as bicicletas e não ajudar as bicicletas porque quero ser prefeita – mas não é um movimento eleitoral de apoio à candidatura, é mais um ato em defesa das bicicletas!Além disso, muita gente quer ir ao debate e assistir de perto - porque é legal, é um momento raro. E como não tem lugar para todo mundo dentro da emissora, não vai haver crachá ou credencial para todos os acompanhantes, a Band providenciou uma área com um telão do lado de fora. A gente já divulgou esse endereço no site para quem quiser ir lá, e eu não vou agora desconvidar as pessoas e dizer: "Por favor, NÃO VÃO assistir ao debate porque nós fizemos um acordo entre os partidos".
Então, de novo, eu não vou organizar uma excursão de apoiadores até a Band, mas quem quiser ir assistir o debate no telão - e não fazer "corredor polonês" para os adversários - continua convidado. Se não era esse o combinado, foi mal aí. Ou fui eu que entendi mal ou foram eles (e a trilha do momento poderia ser "Vai ver/ que a confusão/ foi eu que fiz/ fui eu..." - Paralamas do Sucesso).
Portanto, assinei esse trato, mas a gente avisou desde o começo que chegaria ao debate de bicicleta, acompanhados por tantos ciclistas quanto os que estiverem dispostos a acompanhar até lá... Não são militantes nem cabos eleitorais do PPS. (Imagino que uma boa parte deles vá votar em mim - porque sabem que eu quero ser prefeita para ajudar as bicicletas e não ajudar as bicicletas porque quero ser prefeita – mas não é um movimento eleitoral de apoio à candidatura, é mais um ato em defesa das bicicletas!Além disso, muita gente quer ir ao debate e assistir de perto - porque é legal, é um momento raro. E como não tem lugar para todo mundo dentro da emissora, não vai haver crachá ou credencial para todos os acompanhantes, a Band providenciou uma área com um telão do lado de fora. A gente já divulgou esse endereço no site para quem quiser ir lá, e eu não vou agora desconvidar as pessoas e dizer: "Por favor, NÃO VÃO assistir ao debate porque nós fizemos um acordo entre os partidos".
Então, de novo, eu não vou organizar uma excursão de apoiadores até a Band, mas quem quiser ir assistir o debate no telão - e não fazer "corredor polonês" para os adversários - continua convidado. Se não era esse o combinado, foi mal aí. Ou fui eu que entendi mal ou foram eles (e a trilha do momento poderia ser "Vai ver/ que a confusão/ foi eu que fiz/ fui eu..." - Paralamas do Sucesso).
segunda-feira, 28 de julho de 2008
Tão de sacanagem
Deu no Estadão: “Sem propostas concretas, os candidatos à Prefeitura arriscam palpites sobre as ciclovias. São favoráveis, na maioria, ao uso de bicicleta como meio de transporte. Mas não há um plano concreto para que São Paulo receba ciclovias e ciclofaixas”.
COMO ASSIM, sem propostas concretas? Na verdade, todos os candidatos – exceto a Anaí, do PCO, e o Levy, do PRTB, que não pretendem investir nas bicicletas como meio de locomoção – dizem bem concretamente o que pretendem fazer em relação às bicicletas. E isso em versão resumida pelo jornal; talvez as idéias sejam ainda mais desenvolvidas e elaboradas do que aparecem ali (falo por mim – duas semanas atrás, respondi por email uma pergunta sobre bicicletas para o Estadão, em que detalhava várias propostas. Não usaram).
O plano concreto, resumidamente, é o seguinte: encomendar o projeto de um sistema cicloviário, prevendo pistas para circulação (ciclovias ou ciclofaixas), rotas sinalizadas, bicicletários e paraciclos, especialmente junto a terminais de trem, metrô e ônibus. A prefeita ou prefeito não tem de saber fazer uma ciclovia ou ciclofaixa tanto quanto não precisa fazer o projeto de um viaduto – tem engenheiro pra isso... (Eu tenho um Caderno Técnico da ANTP, Associação Nacional de Transportes Público, que detalha vários tipos de projetos. E a CET também tem estudos, assim como a Emurb, o Grupo Bicicletas, algumas Subprefeituras... Enfim, como eu disse ao jornal, o que falta é mandar fazer!
***
Não são só a Anaí Caproni e o Levy Fidélis que não botam fé em bicicletas como meio de locomoção. Em um debate na Casa da Cidade, uma mulher disse que isso era “coisa de burguês”. Alguns engenheiros de tráfego acham que “é impossível”, e uma urbanista disse, no Opinião Nacional, que esse negócio de bicicletas é “mito”.
Se não querem defender a idéia de trocar carro por bicicleta, ok (eu defendo). Mas não podem esquecer que 300 mil pessoas, no mínimo (o dado é de 2002), usam bicicleta diariamente para se locomover. Ainda que ninguém mais resolva circular por ai pedalando, esses centenas de milhares precisam de condições mais seguras. E tem alguns estudantes da USP, arquitetos, médicos, etc. (“burqueses”), mas tem muito garçon, pedreiro, porteiro, segurança, entregador...
Seria ótimo que mais burgueses aderissem, aliás. Até para se contrapor à história de carro como símbolo de status. Na Europa, todo mundo acha lindo ver o diretor da empresa pegando o metrô com o jornal debaixo do braço, ou a empresária pedalando para o trabalho com a sandália de salto na mochila. Aqui, é feio, é coisa de pobre ou de excêntrico...
***
Sinais evidentes dessa cultura: na Daslu, pelo que dizem, é impossível entrar a pé. Só de carro. Ou seja: 1) O lugar é só pra rico, mesmo (ah, vá). 2) Rico não anda a pé.
E quando um jornal perguntou como os candidatos a prefeito de locomovem por aí, um coordenador da campanha da Marta disse, com orgulho: “Ela pode andar até de Fusca; a pé, ela não fica”.
Ele quis mostrar dinamismo, eficiência, organização. Mas chega a ser um ato-falho: por acaso seria um problema grave a candidata ficar a pé? É feio?
COMO ASSIM, sem propostas concretas? Na verdade, todos os candidatos – exceto a Anaí, do PCO, e o Levy, do PRTB, que não pretendem investir nas bicicletas como meio de locomoção – dizem bem concretamente o que pretendem fazer em relação às bicicletas. E isso em versão resumida pelo jornal; talvez as idéias sejam ainda mais desenvolvidas e elaboradas do que aparecem ali (falo por mim – duas semanas atrás, respondi por email uma pergunta sobre bicicletas para o Estadão, em que detalhava várias propostas. Não usaram).
O plano concreto, resumidamente, é o seguinte: encomendar o projeto de um sistema cicloviário, prevendo pistas para circulação (ciclovias ou ciclofaixas), rotas sinalizadas, bicicletários e paraciclos, especialmente junto a terminais de trem, metrô e ônibus. A prefeita ou prefeito não tem de saber fazer uma ciclovia ou ciclofaixa tanto quanto não precisa fazer o projeto de um viaduto – tem engenheiro pra isso... (Eu tenho um Caderno Técnico da ANTP, Associação Nacional de Transportes Público, que detalha vários tipos de projetos. E a CET também tem estudos, assim como a Emurb, o Grupo Bicicletas, algumas Subprefeituras... Enfim, como eu disse ao jornal, o que falta é mandar fazer!
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Não são só a Anaí Caproni e o Levy Fidélis que não botam fé em bicicletas como meio de locomoção. Em um debate na Casa da Cidade, uma mulher disse que isso era “coisa de burguês”. Alguns engenheiros de tráfego acham que “é impossível”, e uma urbanista disse, no Opinião Nacional, que esse negócio de bicicletas é “mito”.
Se não querem defender a idéia de trocar carro por bicicleta, ok (eu defendo). Mas não podem esquecer que 300 mil pessoas, no mínimo (o dado é de 2002), usam bicicleta diariamente para se locomover. Ainda que ninguém mais resolva circular por ai pedalando, esses centenas de milhares precisam de condições mais seguras. E tem alguns estudantes da USP, arquitetos, médicos, etc. (“burqueses”), mas tem muito garçon, pedreiro, porteiro, segurança, entregador...
Seria ótimo que mais burgueses aderissem, aliás. Até para se contrapor à história de carro como símbolo de status. Na Europa, todo mundo acha lindo ver o diretor da empresa pegando o metrô com o jornal debaixo do braço, ou a empresária pedalando para o trabalho com a sandália de salto na mochila. Aqui, é feio, é coisa de pobre ou de excêntrico...
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Sinais evidentes dessa cultura: na Daslu, pelo que dizem, é impossível entrar a pé. Só de carro. Ou seja: 1) O lugar é só pra rico, mesmo (ah, vá). 2) Rico não anda a pé.
E quando um jornal perguntou como os candidatos a prefeito de locomovem por aí, um coordenador da campanha da Marta disse, com orgulho: “Ela pode andar até de Fusca; a pé, ela não fica”.
Ele quis mostrar dinamismo, eficiência, organização. Mas chega a ser um ato-falho: por acaso seria um problema grave a candidata ficar a pé? É feio?
Baldes de água fria
Toda semana a gente recebe um pedido de socorro: “Estão agredindo os moradores de rua, jogando água, spray de pimenta, dando borrachada!”
É um problema tristemente recorrente nos últimos tempos. Na hora de limpar as ruas, as pessoas que estão dormindo, embrulhadas em seus cobertores, são tratadas como lixo. Tacam água sem dó. Um absurdo.
Hoje o movimento da população de rua fez (mais) uma manifestação pelas ruas do centro, pedindo paz, pedindo respeito. Havia faixas e cartazes com frases como “Não somos contra a limpeza pública”; “Limpeza urbana ou limpeza humana?”.
A caminhada saiu da Praça da Sé, fez uma escala diante da Associação Comercial de São Paulo, outra diante dos escritórios do Governo do Estado na rua Boa Vista, uma parada diante da Bovespa e outra diante da Bolsa de Futuros, mais uma pausa na Secretaria de Assistência e Desenvolvimento Social, na Secretaria de Coordenação das Subprefeituras e na Prefeitura.
Em cada um desses lugares, a intenção era apenas entregar um manifesto e o troféu “Cidade Limpa, Consciência Suja”. Ninguém queria agredir, ocupar, depredar, e isso ficava bem claro nas falas no carro de som. “Viemos em paz; queremos paz”. “Não tenham medo. Ninguém vai entrar à força. Queremos que alguém venha receber o troféu”.
Acompanhando os manifestantes, garantindo que a rua continuasse aberta para o tráfego de veículos, PMs de bicicleta. Calmos, respeitosos, nem carrancudos estavam. Ainda bem. Pareciam até solidários àquela gente desgrenhada, desdentada, caminhando lentamente.
Na ACSP e na Bovespa, depois de alguma insistência, deu certo – uma pessoa desceu para receber o folheto e o troféu. Nos outros lugares, não. E a maior burrice, insensibilidade, falta de tato (e até de esperteza) se deu na frente da prefeitura.
De novo, o discurso deixou claro: “Não queremos invadir. Queremos que alguém venha receber o manifesto”. Nada. Ninguém veio. O povo insistia com palmas e gritos, à distância segura da entrada do prédio (até porque havia grades e GCMs). Não voou uma pedra, um pão velho, nada.
O movimento pediu, então, que uma comissão de 4 pessoas pudesse ir até o setor de protocolos, na recepção, entregar o manifesto – um representante dos catadores, um do movimento de moradia, um dos camelôs, um do movimento da população de rua. Os quatro se descolaram da massa e se dirigiram a uma entrada lateral, para não deixar nenhuma dúvida de que entrariam sozinhos, sem o grupo. Longos minutos de espera e... Nada feito. Bateram que bateram o pé que só entraria um.
Santa teimosia, Batman. Enquanto esperavam sob o sol, cansadas, com fome e sede, algumas pessoas foram se irritando, perdendo a paciência, ficando tensas. E não é difícil entender que são homens e mulheres muito próximos da raiva e da revolta, que não custariam muito para perder a cabeça e querer pular a grade de meio metro que as continha. As lideranças se mantiveram firmes, pedindo atenção e a entrada da comissão. Não teve jeito. A inspetora da Guarda Civil que negociava com eles insistia na entrada de um só.
É uma marca triste dessa gestão: a insensibilidade. Como disse ironicamente uma senhorinha, “podia ter descido um chefe-de-gabinete, um secretário, nem que fosse pra mentir!”.
***
Diante da Secretaria das Subs e da Prefeitura, os manifestantes jogaram água e sabão para lavar o chão. “Eles querem limpeza? Aí está!”
***
Ouvido na manifestação:
“Na rua tem pedreiro, tem encanador, tem eletricista. O povo da rua quer trabalhar!”
“A Bolsa vai cair! Vai cair o euro, o dólar, vai subir a população de rua! A gente vai ficar aqui na porta até alguém vir receber o troféu. Olha a queda nas ações!” (um líder ao microfone – e é um cidadão “de rua” também)
“Vamos jogar água na cama do Kassab!” (um manifestante).
“Por que esse movimento?”, perguntou uma mulher que passava.
“Porque à noite sai o pessoal lavando a rua e joga água em quem tá dormindo na calçada. E se eles reclamam, tomam spray de pimenta, cacetada..”.
“Que horror!”
“O que eles querem?”, perguntou um repórter.
“Não querem ser tratados como lixo. Não querem só albergue (e tem poucos!); querem atividade durante o dia, querem atendimento em saúde, tratamento em saúde mental. Querem ser respeitados . Que lembrem que embrulhado no cobertor tem gente”.
“A Assistência Social dá cobertor, a equipe de limpeza molha e a polícia joga no lixo!” (outro líder no carro de som).
***
Eu continuo não acreditando que o prefeito ou o Andrea Matarazzo (Secretário das Subprefeituras, que leva a fama por todas essas arbitrariedades) mandem jogar água em quem está dormindo na calçada. Aliás, tenho certeza que não fazem isso. Aposto um braço. Mas se não dão ordens claras, firmes, sem deixar margem de dúvida, de que NÃO É para tratar a população de rua com brutalidade, erram por omissão. Ou falta de controle.
Essa população é tratada como se estivesse de sacanagem; como se ficasse na rua só pra contrariar, espezinhar, sacanear a prefeitura e o Viva o Centro... Parece que estão na rua porque estão a fim... “Mas tem gente explorando politicamente essas pessoas”, dirão alguns. E se tiver, isso faz dessas pessoas um inimigo a combater??
***
É verdade que muita gente na rua se recusa a ir para um albergue. E por que? Por vários motivos. Às vezes, por paranóia. Às vezes, por medo mais do que justificado... Alguns não querem ir porque querem fumar e beber, ficar perto de seus cães, tomar conta das carroças... Ficar perto dos amigos e da família. Parece frescura? Então coloque-se no lugar deles. Fumar e beber são praticamente as únicas formas de prazer a seu alcance. Um prazer nocivo, é claro – mas se é difícil para um indivíduo “classe A” abandoná-lo, por que seria fácil para eles? E se você chega a um hotel para passar as férias e informam que você vai ficar em um prédio e sua namorada em outro, que suas coisas têm de ficar do lado de fora, o que você faria?
Não é fácil lidar com essa questão, que é muito complexa. Mas a última coisa capaz de resolvê-la é criar (ou deixar rolar) uma situação de confronto nas ruas. A administração precisa resolver essa sua esquizofrenia – enquanto investe em escritórios de inclusão, AMA para população de rua e outros programas dessa natureza, deixa o carro-pipa virar bicho-papão desse povo. Que já tem tanta dificuldade para confiar em quem quer que seja, e só fica mais arredio.
É um problema tristemente recorrente nos últimos tempos. Na hora de limpar as ruas, as pessoas que estão dormindo, embrulhadas em seus cobertores, são tratadas como lixo. Tacam água sem dó. Um absurdo.
Hoje o movimento da população de rua fez (mais) uma manifestação pelas ruas do centro, pedindo paz, pedindo respeito. Havia faixas e cartazes com frases como “Não somos contra a limpeza pública”; “Limpeza urbana ou limpeza humana?”.
A caminhada saiu da Praça da Sé, fez uma escala diante da Associação Comercial de São Paulo, outra diante dos escritórios do Governo do Estado na rua Boa Vista, uma parada diante da Bovespa e outra diante da Bolsa de Futuros, mais uma pausa na Secretaria de Assistência e Desenvolvimento Social, na Secretaria de Coordenação das Subprefeituras e na Prefeitura.
Em cada um desses lugares, a intenção era apenas entregar um manifesto e o troféu “Cidade Limpa, Consciência Suja”. Ninguém queria agredir, ocupar, depredar, e isso ficava bem claro nas falas no carro de som. “Viemos em paz; queremos paz”. “Não tenham medo. Ninguém vai entrar à força. Queremos que alguém venha receber o troféu”.
Acompanhando os manifestantes, garantindo que a rua continuasse aberta para o tráfego de veículos, PMs de bicicleta. Calmos, respeitosos, nem carrancudos estavam. Ainda bem. Pareciam até solidários àquela gente desgrenhada, desdentada, caminhando lentamente.
Na ACSP e na Bovespa, depois de alguma insistência, deu certo – uma pessoa desceu para receber o folheto e o troféu. Nos outros lugares, não. E a maior burrice, insensibilidade, falta de tato (e até de esperteza) se deu na frente da prefeitura.
De novo, o discurso deixou claro: “Não queremos invadir. Queremos que alguém venha receber o manifesto”. Nada. Ninguém veio. O povo insistia com palmas e gritos, à distância segura da entrada do prédio (até porque havia grades e GCMs). Não voou uma pedra, um pão velho, nada.
O movimento pediu, então, que uma comissão de 4 pessoas pudesse ir até o setor de protocolos, na recepção, entregar o manifesto – um representante dos catadores, um do movimento de moradia, um dos camelôs, um do movimento da população de rua. Os quatro se descolaram da massa e se dirigiram a uma entrada lateral, para não deixar nenhuma dúvida de que entrariam sozinhos, sem o grupo. Longos minutos de espera e... Nada feito. Bateram que bateram o pé que só entraria um.
Santa teimosia, Batman. Enquanto esperavam sob o sol, cansadas, com fome e sede, algumas pessoas foram se irritando, perdendo a paciência, ficando tensas. E não é difícil entender que são homens e mulheres muito próximos da raiva e da revolta, que não custariam muito para perder a cabeça e querer pular a grade de meio metro que as continha. As lideranças se mantiveram firmes, pedindo atenção e a entrada da comissão. Não teve jeito. A inspetora da Guarda Civil que negociava com eles insistia na entrada de um só.
É uma marca triste dessa gestão: a insensibilidade. Como disse ironicamente uma senhorinha, “podia ter descido um chefe-de-gabinete, um secretário, nem que fosse pra mentir!”.
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Diante da Secretaria das Subs e da Prefeitura, os manifestantes jogaram água e sabão para lavar o chão. “Eles querem limpeza? Aí está!”
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Ouvido na manifestação:
“Na rua tem pedreiro, tem encanador, tem eletricista. O povo da rua quer trabalhar!”
“A Bolsa vai cair! Vai cair o euro, o dólar, vai subir a população de rua! A gente vai ficar aqui na porta até alguém vir receber o troféu. Olha a queda nas ações!” (um líder ao microfone – e é um cidadão “de rua” também)
“Vamos jogar água na cama do Kassab!” (um manifestante).
“Por que esse movimento?”, perguntou uma mulher que passava.
“Porque à noite sai o pessoal lavando a rua e joga água em quem tá dormindo na calçada. E se eles reclamam, tomam spray de pimenta, cacetada..”.
“Que horror!”
“O que eles querem?”, perguntou um repórter.
“Não querem ser tratados como lixo. Não querem só albergue (e tem poucos!); querem atividade durante o dia, querem atendimento em saúde, tratamento em saúde mental. Querem ser respeitados . Que lembrem que embrulhado no cobertor tem gente”.
“A Assistência Social dá cobertor, a equipe de limpeza molha e a polícia joga no lixo!” (outro líder no carro de som).
***
Eu continuo não acreditando que o prefeito ou o Andrea Matarazzo (Secretário das Subprefeituras, que leva a fama por todas essas arbitrariedades) mandem jogar água em quem está dormindo na calçada. Aliás, tenho certeza que não fazem isso. Aposto um braço. Mas se não dão ordens claras, firmes, sem deixar margem de dúvida, de que NÃO É para tratar a população de rua com brutalidade, erram por omissão. Ou falta de controle.
Essa população é tratada como se estivesse de sacanagem; como se ficasse na rua só pra contrariar, espezinhar, sacanear a prefeitura e o Viva o Centro... Parece que estão na rua porque estão a fim... “Mas tem gente explorando politicamente essas pessoas”, dirão alguns. E se tiver, isso faz dessas pessoas um inimigo a combater??
***
É verdade que muita gente na rua se recusa a ir para um albergue. E por que? Por vários motivos. Às vezes, por paranóia. Às vezes, por medo mais do que justificado... Alguns não querem ir porque querem fumar e beber, ficar perto de seus cães, tomar conta das carroças... Ficar perto dos amigos e da família. Parece frescura? Então coloque-se no lugar deles. Fumar e beber são praticamente as únicas formas de prazer a seu alcance. Um prazer nocivo, é claro – mas se é difícil para um indivíduo “classe A” abandoná-lo, por que seria fácil para eles? E se você chega a um hotel para passar as férias e informam que você vai ficar em um prédio e sua namorada em outro, que suas coisas têm de ficar do lado de fora, o que você faria?
Não é fácil lidar com essa questão, que é muito complexa. Mas a última coisa capaz de resolvê-la é criar (ou deixar rolar) uma situação de confronto nas ruas. A administração precisa resolver essa sua esquizofrenia – enquanto investe em escritórios de inclusão, AMA para população de rua e outros programas dessa natureza, deixa o carro-pipa virar bicho-papão desse povo. Que já tem tanta dificuldade para confiar em quem quer que seja, e só fica mais arredio.
domingo, 27 de julho de 2008
Viagens de domingo de manhã
Ainda remoendo o "eu não voto em ninguém".
Em um mundo ideal (i.e., que não existe), sou anarquista.
Nada de Estado, de representantes eleitos, nomeados ou auto-proclamados! A coletividade se organiza conforme a necessidade.
Também não tem dinheiro – que sempre leva alguns (todos?) à tentação de acumular, ter mais que os outros, guardar para o futuro, reservar o suficiente para viver 100 vezes com fartura.
Só trocas. Seus tomates pelas minhas aulas de inglês. Sua música pelos pães que eu fiz em casa.
Mas neste mundo em que vivemos... Tem jeito?
Só se for para começar uma comunidade do zero, e isolá-la do resto.
(O modo Amish de viver também parece impossível, mas rola...)
***
Sexta fui à bicicletada, que tende à anarquia: não tem um responsável, um líder, um organizador. A polícia, por exemplo, tem a maior dificuldade em entender isso (queriam a todo custo prender o “chefe” da bicicletada pelada, e levaram o André Pasqualini, um dos bicicletantes mais conhecidos, pro Distrito Policial, concluindo que era ele).
É muito legal a experiência de participar de um grupo que não tem chefe. Tudo é votado: “Vamos para o Ibirapuera ou a Praça da Sé”?
Mas lideranças aparecem espontaneamente. Assim que percebem que as bicicletas estão ocupando todo o espaço da avenida (são centenas!), avisam: “Deixa duas faixas livres!” Ciclistas se entreolham: “Quais?”. “As da direita! A do ônibus e mais uma!”. Uns só escutam, mas outros tomam para si a tarefa de gritar. “Libera a direita! Junta todo mundo do lado esquerdo!”. Outros, além disso, se posicionam nos pontos em que deve ser o limite da massa e ficam sinalizando para os demais. Outros pedem para diminuir o barulho quando passamos por um hospital.
Ainda é um movimento coletivo, com responsabilidade dividida entre várias pessoas. Mas e na hora de um impasse do tipo “Vira nessa à direita ou na próxima?”. O caminho está resolvido: vamos descer a Vergueiro até o centro. Mas em que ponto fazemos a conversão?
A massa começa a procurar alguém que responda. Não dá para botar em votação: estamos pedalando! Quem decide? Alguém vira chefe na hora e diz: “Na praça à direita!”. Claro que não é um chefe absoluto, autoridade para todas as coisas. Mas é um ponto ascendente sobre os demais no momento em que a horizontalidade levaria ao impasse, a confusão ou à dispersão.
Os antropólogos, sociólogos e biólogos podem explicar essa nossa tendência ou necessidade de escolher alguém responsável por decisões em nosso nome – somos animais de matilha, como os cães, que identificam e respeitam um líder? Talvez.
***
Com explicações científicas ou não, é fácil entender por que os humanos desenvolveram sistemas políticos representativos, divisão de trabalho, atribuição de responsabilidades diferenciadas... Como as formigas, abelhas e cupins.
Em “colônias” numerosas como as que vivemos, se não houvesse Estado, governo, poder executivo, definidos como estão, nos depararíamos com duas situações: lideranças aparecendo e se afirmando naturalmente (parece bom, não? E se fosse uma liderança irresponsável, egóica, tirana?) ou verdadeiros vácuos de decisão, sem ninguém para tomar iniciativa.
Menos viagem, mais exemplos concretos: se São Paulo não tivesse governo, se tudo se resolvesse por ação direta, quem cuidaria do tratamento de esgoto? Garantiria a captação e produção da água que sai pelas torneiras? Quem faria a passarela para pedestres e ciclistas cruzarem a marginal?
No mundo ideal (i.e., que não existe...) as pessoas se uniriam em mutirão e construiriam uma passarela. Quem iria cortar a madeira, tecer as cordas, fundir o metal para fazer pregos, fabricar o verniz para proteger das intempéries? Garantir as telecomunicações (telefone, computador) para combinar a data? Fabricar a borracha dos pneus das bicicletas?
A “sociedade livre”? “Quem quiser fazer borracha, faz. Quem puder fabricar telefones e colocar o sinal no ar, que coloque”. Hmm... Já disse que esse papo me parece muito o da liberdade de mercado, que não me parece muito capaz de garantir justiça e igualdade não... É quando o anarquismo e o capitalismo se parecem demais. É o mundo da vitória dos mais fortes, dos mais capazes, dos mais espertos - ainda que não sejam honestos e justos.
No mundo real, sou a favor de Estado. De representantes eleitos, líderes que assumam a responsabilidade por determinadas tarefas em nome da coletividade. Com todos os defeitos que pode ter esse sistema, e não são poucos. (Um exemplo? Na democracia, os mais fortes são os que se organizam. Os desorganizados, ainda que sejam maioria, dançam. A massa invisível que não faz greve, não carrega faixas de protesto, não publica manifestos). Aperfeiçoemos, pois, o sistema.
Em um mundo ideal (i.e., que não existe), sou anarquista.
Nada de Estado, de representantes eleitos, nomeados ou auto-proclamados! A coletividade se organiza conforme a necessidade.
Também não tem dinheiro – que sempre leva alguns (todos?) à tentação de acumular, ter mais que os outros, guardar para o futuro, reservar o suficiente para viver 100 vezes com fartura.
Só trocas. Seus tomates pelas minhas aulas de inglês. Sua música pelos pães que eu fiz em casa.
Mas neste mundo em que vivemos... Tem jeito?
Só se for para começar uma comunidade do zero, e isolá-la do resto.
(O modo Amish de viver também parece impossível, mas rola...)
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Sexta fui à bicicletada, que tende à anarquia: não tem um responsável, um líder, um organizador. A polícia, por exemplo, tem a maior dificuldade em entender isso (queriam a todo custo prender o “chefe” da bicicletada pelada, e levaram o André Pasqualini, um dos bicicletantes mais conhecidos, pro Distrito Policial, concluindo que era ele).
É muito legal a experiência de participar de um grupo que não tem chefe. Tudo é votado: “Vamos para o Ibirapuera ou a Praça da Sé”?
Mas lideranças aparecem espontaneamente. Assim que percebem que as bicicletas estão ocupando todo o espaço da avenida (são centenas!), avisam: “Deixa duas faixas livres!” Ciclistas se entreolham: “Quais?”. “As da direita! A do ônibus e mais uma!”. Uns só escutam, mas outros tomam para si a tarefa de gritar. “Libera a direita! Junta todo mundo do lado esquerdo!”. Outros, além disso, se posicionam nos pontos em que deve ser o limite da massa e ficam sinalizando para os demais. Outros pedem para diminuir o barulho quando passamos por um hospital.
Ainda é um movimento coletivo, com responsabilidade dividida entre várias pessoas. Mas e na hora de um impasse do tipo “Vira nessa à direita ou na próxima?”. O caminho está resolvido: vamos descer a Vergueiro até o centro. Mas em que ponto fazemos a conversão?
A massa começa a procurar alguém que responda. Não dá para botar em votação: estamos pedalando! Quem decide? Alguém vira chefe na hora e diz: “Na praça à direita!”. Claro que não é um chefe absoluto, autoridade para todas as coisas. Mas é um ponto ascendente sobre os demais no momento em que a horizontalidade levaria ao impasse, a confusão ou à dispersão.
Os antropólogos, sociólogos e biólogos podem explicar essa nossa tendência ou necessidade de escolher alguém responsável por decisões em nosso nome – somos animais de matilha, como os cães, que identificam e respeitam um líder? Talvez.
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Com explicações científicas ou não, é fácil entender por que os humanos desenvolveram sistemas políticos representativos, divisão de trabalho, atribuição de responsabilidades diferenciadas... Como as formigas, abelhas e cupins.
Em “colônias” numerosas como as que vivemos, se não houvesse Estado, governo, poder executivo, definidos como estão, nos depararíamos com duas situações: lideranças aparecendo e se afirmando naturalmente (parece bom, não? E se fosse uma liderança irresponsável, egóica, tirana?) ou verdadeiros vácuos de decisão, sem ninguém para tomar iniciativa.
Menos viagem, mais exemplos concretos: se São Paulo não tivesse governo, se tudo se resolvesse por ação direta, quem cuidaria do tratamento de esgoto? Garantiria a captação e produção da água que sai pelas torneiras? Quem faria a passarela para pedestres e ciclistas cruzarem a marginal?
No mundo ideal (i.e., que não existe...) as pessoas se uniriam em mutirão e construiriam uma passarela. Quem iria cortar a madeira, tecer as cordas, fundir o metal para fazer pregos, fabricar o verniz para proteger das intempéries? Garantir as telecomunicações (telefone, computador) para combinar a data? Fabricar a borracha dos pneus das bicicletas?
A “sociedade livre”? “Quem quiser fazer borracha, faz. Quem puder fabricar telefones e colocar o sinal no ar, que coloque”. Hmm... Já disse que esse papo me parece muito o da liberdade de mercado, que não me parece muito capaz de garantir justiça e igualdade não... É quando o anarquismo e o capitalismo se parecem demais. É o mundo da vitória dos mais fortes, dos mais capazes, dos mais espertos - ainda que não sejam honestos e justos.
No mundo real, sou a favor de Estado. De representantes eleitos, líderes que assumam a responsabilidade por determinadas tarefas em nome da coletividade. Com todos os defeitos que pode ter esse sistema, e não são poucos. (Um exemplo? Na democracia, os mais fortes são os que se organizam. Os desorganizados, ainda que sejam maioria, dançam. A massa invisível que não faz greve, não carrega faixas de protesto, não publica manifestos). Aperfeiçoemos, pois, o sistema.
sábado, 26 de julho de 2008
"Prefeita de onde?"
Algumas das frases que a gente escuta por aí, panfletando em campanha:
Eu: Oi, sou candidata a prefeita, estou aqui divulgando a candidatura...
"Prefeita de onde, de São Paulo?" (isto é, nunca ouviu falar em mim e não me achou muito com cara de prefeita)
“Prefeita daqui, de São Miguel?” (bom, parece tanto outra cidade, é tão longe do centro,da Paulista e Jardins, que podia mesmo ter prefeito próprio...)
“Eu não voto aqui em São Miguel, sou do Itaim Paulista” (candidato a vereador ouve isso ainda mais)
“Eu não voto aqui em São Paulo” (porque mora em Itaquaquecetuba ou porque veio de outro estado e nunca transferiu o título)
“Eu não voto em ninguém” (desnecessário explicar).
***
Ontem fui à Bicicletada. Provando, entre outras coisas, que não precisa ser atleta para se locomover de bicicleta por aí. Veja o meu caso: 40 anos (a um mês dos 41), sedentária (meu grande exercício é subir escada, porque não tenho saco pra esperar elevador), pedalo uma vez por semana e uma distância curta (casa-trabalho). Mas ontem eu fui da Câmara até a Praça do Ciclista na Paulista (subindo a Augusta), depois bicicletamos pela Haddock Lobo, Estados Unidos, Cristiano Viana; subimos a Teodoro, pegamos Doutor Arnaldo e Paulista, descemos a Vergueiro, Liberdade e fomos (uns cento e poucos, a essa altura) circular em volta do Marco Zero, felizes da vida, e tirar foto nas escadarias da catedral da Sé. Seguimos até o Largo São Bento, São João, Ipiranga e São Luis. Eu voltei pra Câmara e o pessoal subiu a Consolação; uma turma ia pegar um ônibus para participar da Bicicletada em Curitiba!
Eu estava tão bem, tão sem cansaço, que poderia ter pedalado mais uma hora numa boa (foram quase três). E acordei hoje sem um vestígio de dor.
Eu: Oi, sou candidata a prefeita, estou aqui divulgando a candidatura...
"Prefeita de onde, de São Paulo?" (isto é, nunca ouviu falar em mim e não me achou muito com cara de prefeita)
“Prefeita daqui, de São Miguel?” (bom, parece tanto outra cidade, é tão longe do centro,da Paulista e Jardins, que podia mesmo ter prefeito próprio...)
“Eu não voto aqui em São Miguel, sou do Itaim Paulista” (candidato a vereador ouve isso ainda mais)
“Eu não voto aqui em São Paulo” (porque mora em Itaquaquecetuba ou porque veio de outro estado e nunca transferiu o título)
“Eu não voto em ninguém” (desnecessário explicar).
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Ontem fui à Bicicletada. Provando, entre outras coisas, que não precisa ser atleta para se locomover de bicicleta por aí. Veja o meu caso: 40 anos (a um mês dos 41), sedentária (meu grande exercício é subir escada, porque não tenho saco pra esperar elevador), pedalo uma vez por semana e uma distância curta (casa-trabalho). Mas ontem eu fui da Câmara até a Praça do Ciclista na Paulista (subindo a Augusta), depois bicicletamos pela Haddock Lobo, Estados Unidos, Cristiano Viana; subimos a Teodoro, pegamos Doutor Arnaldo e Paulista, descemos a Vergueiro, Liberdade e fomos (uns cento e poucos, a essa altura) circular em volta do Marco Zero, felizes da vida, e tirar foto nas escadarias da catedral da Sé. Seguimos até o Largo São Bento, São João, Ipiranga e São Luis. Eu voltei pra Câmara e o pessoal subiu a Consolação; uma turma ia pegar um ônibus para participar da Bicicletada em Curitiba!
Eu estava tão bem, tão sem cansaço, que poderia ter pedalado mais uma hora numa boa (foram quase três). E acordei hoje sem um vestígio de dor.
quinta-feira, 24 de julho de 2008
Estrelas, botas, lixão, margarina...
Nem acredito que estou em casa a essa hora (20:40). Ouvindo o jogo do Palmeiras na TV – que está sem imagem há alguns dias. A empregada está de férias; minha mãe foi viajar; a filha mais velha, que me ajudaria a resolver esse e outros pepinos (às vezes ela dá dois tapas na televisão e a imagem volta), foi para a casa da avó para cuidar dos cachorros dela. Enquanto isso, a ração do meu acabou, as plantas estão morrendo de sede, já não há colheres limpas na gaveta e eu estou sempre atrasada para algum compromisso. O dia termina razoavelmente sossegado, mas a música-tema de hoje de manhã seria:
Nada assim tão dramático, mas o refrão dos Inocentes volta e meia me ocorre como trilha sonora...
***
Hoje de manhã fui ao lançamento da Exposição Filhos do Brasil, no Ibirapuera. São fotos selecionadas em um concurso promovido pelo IDECACE (Instituto para o Desenvolvimento da Criança e do Adolescente pela Cultura e Esporte.), estão expostas em painéis muito grandes do lado de fora do Planetário, acompanhadas por frases de personalidades (como Paulo Freire e Betinho) e artigos do Estatuto da Criança e do Adolescente (que faz 18 anos) e a Declaração Universal dos Direitos Humanos (que faz 60).
Cheguei um pouco antes da cerimônia de abertura e aproveitei para sentar um pouco no sol, perto dos painéis, observando as fotos e fazendo anotações (mais um milhão de idéias surgidas enquanto eu estava na moto). Um momento de trabalho e ao mesmo tempo de sossego, no ambiente deliciosamente calmo do Parque àquela hora da manhã (9 e pouco). Olhando para a Declaração dos Direitos, pensei em como um direito singelo como aquele – parar, pensar, trabalhar em silêncio em lugar agradável – é absolutamente estranho a tanta gente.
***
Se eu pudesse mexer na Declaração, alteraria o artigo 17: “1. Todo ser humano tem direito à propriedade, só ou em sociedade com outros”. Eu acrescentaria um “desde que”: “desde que essa propriedade não implique em danos a outros e prejuízos à coletividade”; “desde que a propriedade seja obtida legitimamente, sem agressão aos direitos dos demais”; “desde que o direito à propriedade não se sobreponha a outros direitos”...
***
A abertura oficial foi dentro do Planetário, em cerimônia comovente.
Estive no Planetário três vezes: uma, para ver o espetáculo da projeção do céu da cidade, quando tinha 14 anos; outra, para participar de um debate no Dia Sem Automóvel do ano passado; e esta de hoje.
Um amigo que me acompanhou desta vez disse que estava tendo muitas lembranças da infância. “Muitas?”. Sim, o avô o tinha levado várias vezes. “Ele gostava de astronomia?”. “Não, gostava de agradar os netos!”. Sorriu, com saudade da infância e do avô.
***
[Caramba, 4 a 2 no primeiro tempo! Que jogo é esse que não estou vendo!]
***
Minha mãe e meu tio gostavam de astronomia. Ele chegou a comprar uma bela luneta, à qual acoplava uma câmera fotográfica e fazia fotos incríveis, reveladas no laboratório caseiro.
Em tempos de noites mais escuras e céus menos poluídos, subíamos ao terraço da casa da minha avó e minha mãe ficava apontando, a olho nu ou pelas lentes de aumento: “Nossa, como a Ursa Maior está visível hoje! Olha Andrômeda, que linda!” Eu olhava e não via ursa nenhuma, por mais que ela dissesse “ali a cabeça, ali o corpo...”. Só enxergava Cruzeiro do Sul e Três Marias; a Lua, Marte, Saturno...
Caraca, hoje em dia quem mora em São Paulo não tem a MENOR chance de ver um céu estrelado como aquele! Muito menos os que vi em Peruíbe (céu limpo, noite ainda mais escura), Ilha do Mel...
***
A apresentação de hoje de manhã falava um pouco sobre isso: sobre o direito de ver um céu estrelado. E sobre a conexão que existe entre nós e as estrelas; a matéria de que somos feitos e as substâncias produzidas no seu interior. “Alguém pode se perguntar: o que eu tenho a ver com as estrelas? Tudo. Somos “filhos” delas, de certa maneira. E alguém pode pensar também que não tem nada a ver com as crianças na rua, maltratadas, em perigo. Mas temos tudo a ver com elas. Elas também são “filhas das estrelas”. Somos da mesma matéria. Somos todos filhos do Brasil”.
***
A foto que ficou em primeiro lugar chama-se “Chute na infância”. Mostra um menino engraxando botas. O fotógrafo, Pedro Brandimarte, há muito tempo se envolve com crianças e adolescentes que vivem pelas ruas do centro, especialmente na Praça da Sé. E lembrou o comentário incrédulo que ouviu de um deles anos atrás, antes de entrar para conhecer um lugar de acolhida: “É verdade que aí dentro tem cotonete?”
***
Lembrei da Esmeralda, autora de “Por que não dancei”, contando que imaginava que margarina era uma coisa do outro mundo, esplendidamente deliciosa, por causa dos comerciais que mostravam famílias felizes na TV. Vivendo na rua, dependente de crack, ficava deslumbrada com aquilo. No dia em que pôde comer margarina, foi uma decepção.
***
Lembrei também de um poema da Elisa Lucinda, em que ela se desespera de pensar: o que fazem as meninas que vivem na rua quando menstruam?
Absorvente é que elas não têm.
É de doer mesmo. E a gente nem pensa nisso.
***
O segundo lugar mostra os olhos de um menino do Vale do Jequitinhonha – uma espécie de monumento à vergonha (ou falta de vergonha) nacional. O terceiro, meninos no topo de um lixão.
No evento, um grupo de percussão (muito legal) cantou “eu/ sou brasileiro/ com muito orgulho/ com muito amor”... Sou, mas com muita aflição também. E fiquei com vontade de puxar um outro canto de arquibancada: “ahá/ uhu/ o lixão é nos-so”. Lixão é o fim da picada. O lixão é meu, é seu, é do prefeito, do governador, do presidente. Dos secretários, dos ministros. Das empresas. Como é que a gente pode tolerar lixão? Fingir que não existe, que tá tudo bem? E não empurra pra baixo do tapete, não: faz uma pilha enorme e deixa os pobres remexerem para pegar o que interessa, o que ainda tem valor.
***
A exposição fica no Ibirapuera até 24 de agosto.
***
Eu ia contar um pouco de cada um dos últimos 20 compromissos, mas hoje vou ficar por aqui.
Nada assim tão dramático, mas o refrão dos Inocentes volta e meia me ocorre como trilha sonora...
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Hoje de manhã fui ao lançamento da Exposição Filhos do Brasil, no Ibirapuera. São fotos selecionadas em um concurso promovido pelo IDECACE (Instituto para o Desenvolvimento da Criança e do Adolescente pela Cultura e Esporte.), estão expostas em painéis muito grandes do lado de fora do Planetário, acompanhadas por frases de personalidades (como Paulo Freire e Betinho) e artigos do Estatuto da Criança e do Adolescente (que faz 18 anos) e a Declaração Universal dos Direitos Humanos (que faz 60).
Cheguei um pouco antes da cerimônia de abertura e aproveitei para sentar um pouco no sol, perto dos painéis, observando as fotos e fazendo anotações (mais um milhão de idéias surgidas enquanto eu estava na moto). Um momento de trabalho e ao mesmo tempo de sossego, no ambiente deliciosamente calmo do Parque àquela hora da manhã (9 e pouco). Olhando para a Declaração dos Direitos, pensei em como um direito singelo como aquele – parar, pensar, trabalhar em silêncio em lugar agradável – é absolutamente estranho a tanta gente.
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Se eu pudesse mexer na Declaração, alteraria o artigo 17: “1. Todo ser humano tem direito à propriedade, só ou em sociedade com outros”. Eu acrescentaria um “desde que”: “desde que essa propriedade não implique em danos a outros e prejuízos à coletividade”; “desde que a propriedade seja obtida legitimamente, sem agressão aos direitos dos demais”; “desde que o direito à propriedade não se sobreponha a outros direitos”...
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A abertura oficial foi dentro do Planetário, em cerimônia comovente.
Estive no Planetário três vezes: uma, para ver o espetáculo da projeção do céu da cidade, quando tinha 14 anos; outra, para participar de um debate no Dia Sem Automóvel do ano passado; e esta de hoje.
Um amigo que me acompanhou desta vez disse que estava tendo muitas lembranças da infância. “Muitas?”. Sim, o avô o tinha levado várias vezes. “Ele gostava de astronomia?”. “Não, gostava de agradar os netos!”. Sorriu, com saudade da infância e do avô.
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[Caramba, 4 a 2 no primeiro tempo! Que jogo é esse que não estou vendo!]
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Minha mãe e meu tio gostavam de astronomia. Ele chegou a comprar uma bela luneta, à qual acoplava uma câmera fotográfica e fazia fotos incríveis, reveladas no laboratório caseiro.
Em tempos de noites mais escuras e céus menos poluídos, subíamos ao terraço da casa da minha avó e minha mãe ficava apontando, a olho nu ou pelas lentes de aumento: “Nossa, como a Ursa Maior está visível hoje! Olha Andrômeda, que linda!” Eu olhava e não via ursa nenhuma, por mais que ela dissesse “ali a cabeça, ali o corpo...”. Só enxergava Cruzeiro do Sul e Três Marias; a Lua, Marte, Saturno...
Caraca, hoje em dia quem mora em São Paulo não tem a MENOR chance de ver um céu estrelado como aquele! Muito menos os que vi em Peruíbe (céu limpo, noite ainda mais escura), Ilha do Mel...
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A apresentação de hoje de manhã falava um pouco sobre isso: sobre o direito de ver um céu estrelado. E sobre a conexão que existe entre nós e as estrelas; a matéria de que somos feitos e as substâncias produzidas no seu interior. “Alguém pode se perguntar: o que eu tenho a ver com as estrelas? Tudo. Somos “filhos” delas, de certa maneira. E alguém pode pensar também que não tem nada a ver com as crianças na rua, maltratadas, em perigo. Mas temos tudo a ver com elas. Elas também são “filhas das estrelas”. Somos da mesma matéria. Somos todos filhos do Brasil”.
***
A foto que ficou em primeiro lugar chama-se “Chute na infância”. Mostra um menino engraxando botas. O fotógrafo, Pedro Brandimarte, há muito tempo se envolve com crianças e adolescentes que vivem pelas ruas do centro, especialmente na Praça da Sé. E lembrou o comentário incrédulo que ouviu de um deles anos atrás, antes de entrar para conhecer um lugar de acolhida: “É verdade que aí dentro tem cotonete?”
***
Lembrei da Esmeralda, autora de “Por que não dancei”, contando que imaginava que margarina era uma coisa do outro mundo, esplendidamente deliciosa, por causa dos comerciais que mostravam famílias felizes na TV. Vivendo na rua, dependente de crack, ficava deslumbrada com aquilo. No dia em que pôde comer margarina, foi uma decepção.
***
Lembrei também de um poema da Elisa Lucinda, em que ela se desespera de pensar: o que fazem as meninas que vivem na rua quando menstruam?
Absorvente é que elas não têm.
É de doer mesmo. E a gente nem pensa nisso.
***
O segundo lugar mostra os olhos de um menino do Vale do Jequitinhonha – uma espécie de monumento à vergonha (ou falta de vergonha) nacional. O terceiro, meninos no topo de um lixão.
No evento, um grupo de percussão (muito legal) cantou “eu/ sou brasileiro/ com muito orgulho/ com muito amor”... Sou, mas com muita aflição também. E fiquei com vontade de puxar um outro canto de arquibancada: “ahá/ uhu/ o lixão é nos-so”. Lixão é o fim da picada. O lixão é meu, é seu, é do prefeito, do governador, do presidente. Dos secretários, dos ministros. Das empresas. Como é que a gente pode tolerar lixão? Fingir que não existe, que tá tudo bem? E não empurra pra baixo do tapete, não: faz uma pilha enorme e deixa os pobres remexerem para pegar o que interessa, o que ainda tem valor.
***
A exposição fica no Ibirapuera até 24 de agosto.
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Eu ia contar um pouco de cada um dos últimos 20 compromissos, mas hoje vou ficar por aqui.
Datena, PC, pesquisas, ET e caminhadas
Ai, que saudade eu estava do meu computador... Ou melhor, de UM computador, qualquer um. Passei a semana toda na rua para cima e para baixo. Este não é o meu – estou na redação da Bandeirantes, esperando para entrar no programa do Datena.
Pensei que ele não ia me convidar. Estou tão acostumada a não ser incluída em alguns programas... Em boa parte do tempo, é como se só houvesse três candidatos, no máximo quatro. Assim, pesquisas de intenção de voto acabam sendo o maior exemplo de profecia auto-realizável. Os que aparecem mais bem colocados – no mínimo, porque são mais conhecidos – são os que continuam aparecendo mais.
Tenho um texto começado sobre pesquisa; logo vou terminar e publicar. Muita gente já viu ET mas nunca respondeu a um pesquisador (em 22 anos de eleitora, ninguém nunca me perguntou “em quem você pretende votar?”; bom, também não vi ET...). Andando por aí, fazendo campanha, é difícil acreditar que uma em cada três pessoas (isto é, um pouco mais de 30%) esteja decidida a votar na Marta; outra (de cada trio) no Alckmin... A impressão que a gente tem é que a maioria não está decidida a nada. (Aliás, na pesquisa não estimulada, 34% das pessoas disseram que não sabem em quem votar ou não quiseram responder).
**
Nos últimos dias, fiz três caminhadas de panfletagem. Uma na Praça Benedito Calixto (Pinheiros), outra em São Miguel e outra na Lapa. Em todos os lugares você encontra alguém que faz cara de nojo, não quer nem olhar na sua cara, quanto mais pegar um folheto. Mas a incidência de hostilidade e rejeição absoluta foi muito maior em Pinheiros do que nas ruas de comércio popular nos outros bairros. Na Benedito, uma mulher em uma das barracas de antigüidade não só não quis pegar o folheto (ok, ela pode não querer) mas disse que eu devia atravessar a rua e não pisar na calçada "dela". Não era nada pessoal, não. A bronca é com todos os políticos. Mas sobrou pra mim com uma violência, uma grosseria...
O pessoal de São Miguel provavelmente teria mais motivos para revolta, mas eles aceitam parar um segundo sua caminhada apressada, facilmente relaxam a expressão tensa e pegam um folheto. Acho que é até porque eles sabem como é tentar abordar alguém e ser mal tratado; como é viver de distribuir folheto, fazer propaganda corpo-a-corpo, tentar vender produto...
Vou entrar no ar. Depois eu termino
Pensei que ele não ia me convidar. Estou tão acostumada a não ser incluída em alguns programas... Em boa parte do tempo, é como se só houvesse três candidatos, no máximo quatro. Assim, pesquisas de intenção de voto acabam sendo o maior exemplo de profecia auto-realizável. Os que aparecem mais bem colocados – no mínimo, porque são mais conhecidos – são os que continuam aparecendo mais.
Tenho um texto começado sobre pesquisa; logo vou terminar e publicar. Muita gente já viu ET mas nunca respondeu a um pesquisador (em 22 anos de eleitora, ninguém nunca me perguntou “em quem você pretende votar?”; bom, também não vi ET...). Andando por aí, fazendo campanha, é difícil acreditar que uma em cada três pessoas (isto é, um pouco mais de 30%) esteja decidida a votar na Marta; outra (de cada trio) no Alckmin... A impressão que a gente tem é que a maioria não está decidida a nada. (Aliás, na pesquisa não estimulada, 34% das pessoas disseram que não sabem em quem votar ou não quiseram responder).
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Nos últimos dias, fiz três caminhadas de panfletagem. Uma na Praça Benedito Calixto (Pinheiros), outra em São Miguel e outra na Lapa. Em todos os lugares você encontra alguém que faz cara de nojo, não quer nem olhar na sua cara, quanto mais pegar um folheto. Mas a incidência de hostilidade e rejeição absoluta foi muito maior em Pinheiros do que nas ruas de comércio popular nos outros bairros. Na Benedito, uma mulher em uma das barracas de antigüidade não só não quis pegar o folheto (ok, ela pode não querer) mas disse que eu devia atravessar a rua e não pisar na calçada "dela". Não era nada pessoal, não. A bronca é com todos os políticos. Mas sobrou pra mim com uma violência, uma grosseria...
O pessoal de São Miguel provavelmente teria mais motivos para revolta, mas eles aceitam parar um segundo sua caminhada apressada, facilmente relaxam a expressão tensa e pegam um folheto. Acho que é até porque eles sabem como é tentar abordar alguém e ser mal tratado; como é viver de distribuir folheto, fazer propaganda corpo-a-corpo, tentar vender produto...
Vou entrar no ar. Depois eu termino
quarta-feira, 23 de julho de 2008
Em nome da isonomia
Tô meio sem tempo para escrever agora , mas não quero deixar de registrar o que me ocorreu enquanto eu vinha para cá (aliás, a quantidade de idéias que ocorrem quando eu estou no trânsito é incrível, quase insuportável – não dá para anotar nada quando se está de moto). Não é nada de mais; vou blogar para tirar da cabeça.
Com essa determinação de proibir quase tudo na internet a pretexto de garantir a isonomia entre os candidatos, é como se o tribunal eleitoral dissesse: “A partir de hoje, está proibido andar a pé. Quem quiser, que se desloque de carro. E veículo próprio – nada de pegar ônibus, carona...”
Na prática, é bem por aí. Aquilo que é barato ou grátis e acessível para qualquer um está vedado. Mas quem tiver grana para bancar uma página própria que suporte uma carga “pesada” (para, por exemplo, hospedar vídeos, em vez de deixá-los disponíveis no You Tube) pode fazer o que quiser.
Muito justo.
Com essa determinação de proibir quase tudo na internet a pretexto de garantir a isonomia entre os candidatos, é como se o tribunal eleitoral dissesse: “A partir de hoje, está proibido andar a pé. Quem quiser, que se desloque de carro. E veículo próprio – nada de pegar ônibus, carona...”
Na prática, é bem por aí. Aquilo que é barato ou grátis e acessível para qualquer um está vedado. Mas quem tiver grana para bancar uma página própria que suporte uma carga “pesada” (para, por exemplo, hospedar vídeos, em vez de deixá-los disponíveis no You Tube) pode fazer o que quiser.
Muito justo.
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