sexta-feira, 19 de setembro de 2008

A doida

Manchete na capa do UOL: “Cremes não retardam envelhecimento”, dizem cientistas.

Eu li “Crimes”.

***

Ontem, saí de uma "Sabatina-Afro" (promovida pela EDUCAFRO, uma das obras sociais do SEFRAS – Serviço Franciscano de Solidariedade) na Rua Riachuelo, atrás da Faculdade de Direito do Largo São Francisco, pouco depois das dez da noite. Montei na moto para ir embora e logo apareceu um rapaz com colete de “guardador”, fazendo sinais para perguntar se eu tinha um trocado para ele.

Eu tinha. Perguntou com jeito, sem fazer qualquer tipo de pressão; ainda disse “não tem erro, qualquer coisa fica para a próxima”. É meio absurdo pagar para alguém “tomar conta de carro”, por todos os motivos do mundo – porque é ridículo carros (ou motos) precisarem de babá; porque é um jeito de tentar ganhar dinheiro por um trabalho, mas na prática é pouco diferente de pedir esmola, já que o serviço é inútil (se aparecer um ladrão, ele vai fazer o que?). Mas eu conheço muitos meninos que realmente consideram esse um trabalho; que fazem questão de “fazer” alguma coisa em troca do trocado que vão pedir... (Desculpem pelo “troca do trocado”).

Enfim, eu não topo extorsão, de jeito nenhum. Já bati boca com vários guardadores – recusando o “preço” que eles estabeleceram; me recusando terminantemente a pagar adiantado! – mesmo correndo o risco de voltar e encontrar o carro todo riscado, ou duas motos em vez de uma. Não admito. Mas às vezes cedo a pedidos gentis, e foi o caso.

“Você não costuma parar aqui, né?”. “Não, eu não venho todo dia, só vim participar de um evento”. “É, eu nunca tinha visto essa moto nem você aqui...”

Como ele puxou papo, dei corda. Não resisti à tentação de perguntar “você vota?”. “Voto, sim!”, respondeu, com tanta convicção que fez a pergunta parecer sem sentido. “Já tem candidato a prefeito?”. “Olha, sabe que ainda não? Não decidi”. “Bom, tem eu...”. Ele fez cara de interrogação, igualzinho a um desenho animado. Mostrei o adesivo no baú da moto – “Eu, olha. Eu sou candidata a prefeita”.

Ele ainda levou uns segundos para entender. A geração pós-Telesp talvez não saiba a origem da expressão “demorou para cair a ficha”, mas ela é a perfeita descrição de momentos assim. Quando fez o “clique”, ele perguntou, surpreso: “VOCÊ é a Soninha?”. Aí abriu um sorriso: “Olha, juro para você, eu estava indeciso entre dois: você e o Maluf. Você, porque eu vejo suas idéias e eu gosto, sabe? E o Maluf porque a minha mãe falou que ele foi um prefeito muito bom”.

Respirei fundo para fazer uma suave objeção, mas ele nem me deixou completar: “Bom, assim diz minha mãe... Eu não sei... Mas eu gosto mesmo das suas idéias, do seu espírito, sabe? Olha, eu já estava decidindo, sério mesmo. Eu já estava pensando em votar em você”.

Não sei se eu ganhei um voto ou não, mas adorei a conversa. Aliás, eu adoro conversa. Candidato vive disputando quem é que gosta mais de pobre (parece que é uma disputa para pedir pobre em casamento). Eu gosto muito, muito mesmo, de gente. Brasileiro, estrangeiro, votante, não votante... Criança, idoso... Sensatos, malucos... Universitários, analfabetos... Se não for prefeita no ano que vem (vai saber, tudo pode acontecer... :o)), vou fazer alguma coisa assim, no corpo-a-corpo. Abordagem de população de rua, mutirão ambiental na periferia, ocupação artística de espaços públicos, alfabetização para jovens e adultos... Às vezes estou completamente exausta dessa vida sem solidão, sem reclusão, sem silêncio; sem tempo para contemplação. Mas eu gosto muito de conhecer pessoas, como gosto. Queria ter um registro de cada uma delas – um retrato, um perfil, um resumo do dia e hora em que nos conhecemos... (Ô mania de guardar coisas, que não me larga!). Ok, guardo apenas as lembranças e um ou outro post no blog. Na minha casa não cabe mais nada :o))

***

Trilha sonora: depois de uma Adriana Calcanhoto ("Fico Assim Sem Você"), uma seqüência enorme de Jack Johson. Muda tudo, muda o dia. Já falei da revisão que eu queria fazer na Declaração de Direitos Humanos, né? Ou na Constituição? "Todo ser humano tem direito à música". (MP3 para todos!). E "Todo ser humano tem direito à massagem". A saúde de todos seria bem melhor.