sexta-feira, 19 de setembro de 2008

De mal com o mundo

Ela insiste!

“Eu construí 100 km de corredores. Vou fazer mais de 200. Eles não construíram nenhum”. (Marta Suplicy, agora há pouco, no SPTV).

No governo Marta, foram feitos sessenta e poucos km de corredores. Os outros, inaugurados desde a gestão do Covas, passando por Jânio, Erundina e Pitta, ela reformou. Não “construiu”.

São Paulo tem hoje 120km de corredores. O Expresso Tiradentes (ex-Fura Fila, ex-Paulistão), por exemplo, foi inaugurado nesta gestão. Nos últimos meses de governo do PT, ficou completamente PARADO. Porque, segundo a Marta (no 1º. debate na Bandeirantes), ela estava gastando muito dinheiro fazendo os outros corredores (apesar de ter gastado uma fortuna nos túneis...).

E também insiste que vai fazer mais de 40 km de metrô; que apresentou, enquanto ministra, um projeto de expansão do metrô para a Copa de 2014 (como se os projetos já não existissem há décadas); diz que não há previsão de verbas para o metrô no orçamento da União, mas ela já “conversou com a Dilma” e isso pode ser resolvido por meio de uma emenda (!).

Não explica como é que São Paulo vai suportar tantas obras ao mesmo tempo (já viu o transtorno que uma delas causa?).

Calcula o custo e a duração da obra “por baixo” – e tentar fazer o metrô mais rápido e mais barato termina mal, muito mal...

E diz que pretende levar metrô “para a periferia” – Cachoeirinha, Jardim Ângela...

Parece, de novo, ignorar os projetos que já existem. E um outro “detalhe”: nem sempre essa é a melhor opção.

Alckmin, por exemplo, levou metrô até o Capão Redondo... Uma linha mal conectada às outras (que até dois meses atrás sequer funcionava aos domingos!!!). Era muito mais importante continuar com a Linha Amarela, que, pelo seu traçado, desafogaria uma parte das linhas vermelha, verde e azul – e também o transporte de superfície. Mas ele disse, em entrevista, que foi obrigado a fazer esse investimento naquela linha por imposição do Banco Mundial (ou qualquer coisa assim).

Quer dizer, são todos super fortes, corajosos, bons gestores, que fazem e acontecem. Mas a Marta não pode continuar o Fura Fila porque estava terminando os outros corredores; o Alckmin passou uma linha na frente da outra por determinação dos investidores...

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Ainda o Alckmin: quando perguntam da cratera do metrô, ele diz: “Veja bem, eu já estava fora do governo há oito meses”. Mas outro dia, em um debate, ele se orgulhou: “Nós levamos os trens da CPTM até Interlagos e Grajaú”.

Essas estações foram inauguradas ano passado. Quando, pelos seus próprios cálculos, ele já estava “fora do governo” há mais ou menos um ano e oito meses... Mas ele prefere contar como realização sua.

É naquela base dos técnicos de futebol espertinhos: “Eu ganhei, nós empatamos, vocês perderam”.

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Os trens chegaram até o Grajaú – mas, para ver como não adianta simplesmente estender o transporte sobre trilhos, levá-lo “à periferia”, olha o que está acontecendo agora: quando o trem chega à estação Santo Amaro às cinco da manhã, já vem LOTADO. É difícil embarcar.

Tem de ter transporte sobre trilhos? SIM. Na periferia? Sim, claro! Mas estender ou alargar os eixos radiais que já existem NÃO RESOLVE. Precisamos melhorar as ligações perimetrais, os anéis viários, ferroviários, as linhas de transporte coletivo entre bairros da mesma região e entre regiões (Sul-Leste, por exemplo). Precisamos diminuir as distâncias entre casa e trabalho, aumentando a oferta de moradia popular no centro e de empregos na periferia. E não podemos esquecer que o transporte é, ele mesmo, um indutor da ocupação, do crescimento. Por isso existe tanta preocupação com o Rodoanel, por exemplo. Ali na Zona Sul, é importante NÃO HAVER ligações viárias entre os bairros e essa nova estrada, porque senão as áreas verdes vão para o saco.

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O que nos traz a Paulo Maluf e sua oferta de alargar as Marginais – e pra cima dos rios.

Que adianta ter o dobro de faixas na marginal, se o resto da cidade não tiver capacidade de absorver os veículos?

E também nos traz ao que ele fez, enquanto governante, por exemplo na Zona Leste – expandindo o sistema viário de tal maneira, sem nenhuma conexão com outras medidas de planejamento urbano (providências necessárias para garantir moradia, trabalho, lazer, equipamentos de educação e saúde etc.), que a cidade se esticou feito um elástico. (E quase podemos dizer que “arrebentou” feito elástico esticado demais, porque cresceu toda desigual e desordenada).

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Enquanto isso, Kassab – que, nisso a Marta tem razão, anunciou todo feliz que o Bilhete Único passaria a valer por 3 horas, mas não incluiu os bilhetes de estudante e de Vale Transporte... – anuncia que a passagem de ônibus “não vai subir no ano que vem”.

Santo deus, vale tudo... Quem é que quer aumento de ônibus? Ninguém. Mas tem horas que não tem jeito, tem de aumentar para não arrebentar o sistema – isto é, para não arrebentar os cofres públicos, dos quais a gente precisa para várias coisas (como investimentos para melhorar e expandir o transporte...). E por que tem de aumentar? Porque os custos aumentam; porque tem data-base para reajuste de salários de motoristas e cobradores...

Os custos podem e devem ser menores – se o sistema for mais eficiente, se o governo federal reduzir impostos sobre o óleo diesel e os microônibus (como reduziu para gasolina e táxis)... Mas prometer um ano sem aumento é simplesmente dizer o que o povo quer ouvir, contrariando a sensatez.

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Ivan Valente defende a “tarifa zero” no transporte, e diz que “vários países no mundo” têm esse sistema.

Eu não sei quais, mas sei que a tarifa zero significaria a prefeitura bancar todos os custos de operação do sistema. Seria uma conta caríssima, em que a despesa seria mal dividida. Sim, porque eu, que tenho todas as condições de pagar tarifa, seria beneficiada – o custo da minha viagem seria dividido entre toda a população, inclusive a mais pobre. É injusto.

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Pronto, em cinco mil caracteres, consegui brigar com todo mundo. Agora é a vez de vocês, podem me bater... Ai. Hoje parece que eu tirei o dia para brigar, mas não foi premeditado...